Feiras livres continuam sendo tradição na cidade

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Feiras livres continuam sendo tradição na cidade 02 março 2010

Um dos tipos de comércio que continua vivo na cidade de Botucatu são as feiras livres. Em muitos locais da cidade os comerciantes se aglomeram e montam suas barracas. E foi-se o tempo em que essas feiras só comercializam verduras. Hoje se vende um pouco de tudo. A gosto do freguês.

A feira mais tradicional da c idade, sem dúvida, é a que se instala semanalmente na Avenida Santana, em frente Catedral Metropolitana de Botucatu, região central da cidade. Todas as quintas-feiras, muito antes do amanhecer os feirantes, todos devidamente cadastrados, chegam e armam suas barracas. Depois tomam o café e, pacientemente, esperam o dia clarear para atender a freguesia.

O interessante é que a maioria dos feirantes já tem a freguesia certa. Ou seja, eles já trazem os produtos encomendados na semana passada. E os consumidores nem procuram pesquisar preços ou observar a qualidade de outros produtos. Só vão onde estão acostumados a comprar toda semana. Simplesmente, ignoram as outras barracas, mesmo que paguem mais caros pelo que irão consumir.

Mas nem todos os consumidores são assim. Existem fregueses que, antes de efetuar suas compras, perambulam pelos corredores da feira, especulando preço e observando os produtos que estão sendo oferecidos. Assim é a dona de casa, Ester Marina Do Carmo, de 58 anos e que há pelo menos 40 anos freqüenta a feira da Catedral.

“Para mim a quinta-feira é sagrada. É dia de feira. Venho aqui nem que seja para comprar só um pé de alface. Já me acostumei com isso. Passeio pelas barracas, observo os produtos que estão oferecendo e faço as compras. Eu não compro nada de cara. Depois, como o meu pastel de carne e vou embora”, conta a mulher.

Já o comerciante aposentado Ernesto Olimpio da Costa, de 60 anos, procura sempre o melhor preço. E não tem vergonha de pechinchar. “Aqui a gente tem mesmo que saber pechinchar. Às vezes venço o vendedor pelo cansaço. Já fui vendedor e sei bem como é isso. A gente não tem muito dinheiro, por isso é preciso gastar bem e comprar um pouco de tudo, mas sei que dou trabalho para os vendedores”, reconhece Costa.

Mas são, também, freqüentadores da feira aquelas pessoas que só chegam quando os feirantes estão desarrumando suas barracas para ir embora. Neste perfil se enquadra a cozinheira Lurdes dos Santos Canotta, de 54 anos de idade. Ele explica os motivos que a fazem chegar tarde ? feira, que é conhecido como “xepa”, ou final de feira.

“Aprendi que quando os vendedores estão arrumando os caixotes é a melhor hora para comprar. Os preços caem bastante. Existem produtos que se não vender podem se estragar. Então é nessa hora que aproveito. Os vendedores preferem vender mais barato a arriscar estragar suas frutas e verduras. Já teve dia aqui de eu levei uma sacolada de bons produtos e gastei apenas R$ 7,00. Gasto, no máximo, R$ 10,00 por semana”, conta.

Comer o pastel de feira. Esse é o motivo pelo qual o taxista Félix Eduardo “Duda” Lopes, 47, visita a feira da Avenida Santana toda semana. “Não quero fazer propaganda, mas o pastel daqui é muito gostoso. Toda quinta-feira venho aqui, mas nem passo pelo meio da feira. Meu destino é esta barraca. Grande parte dos funcionários da prefeitura dá uma passadinha para comer um pastelzinho antes de ir trabalhar. Feira que não tem pastel, não é feira”, filosofa.

Mas vida de feirante não é nada fácil. É comum esses mesmos feirantes armarem suas barracas em outras localidades da cidade, para tentar aumentar suas rendas. E convivem com dois problemas distintos: quando faz muito sol, as mercadorias estragam mais rapidamente. E quando chove demais, o preço dos produtos encarecem.

“O preço de cada produto varia muito. Uma semana o preço de um produto está menos de R$ 5,00; na outra sobe para R$ 10,00 e na terceira volta a cair novamente. É um sobe e desce sem tamanho. Muita gente aqui planta o produto que vende, mas para quem compra de terceiros como eu, a coisa é mais complicada. Fica difícil competir”, comenta Antônio Roberto Batista, 40.

E ele tem a concordância de Jucelino Batista de Oliveira, 52, o seu Lino, que toda semana monta uma barraca ao lado da sua. “Quantas vezes eu tive que vender a mercadoria por um preço muito abaixo do que paguei para não perder tudo. Leva vantagem quem busca sua mercadoria em sítios da cidade, que se a coisa apertar pode vender o produto mais barato e ainda sair no lucro. Mas, não adianta reclamar. Todo mundo que está aqui precisa trabalhar e que Deus ajude quem puder vender mais”, conclui.

A reportagem do Acontece não podia deixa de buscar o feirante mais antigo da Praça da Catedral: Mariano Neto Andrini, com seus 76 anos de idade ele ainda mostra muita vitalidade e muito dos produtos que vende é ele mesmo quem planta. É feirante desde os 7 anos de idade e está na feira da Catedral há 65.

“Quando eu comecei a trabalhar na feira a gente não tinha nem luz elétrica nem água encanada. Eu aprendi o ofício com meu pai e a gente vendia em muitos lugares. Depois, vim com ele para a Catedral e estou aqui até hoje. Se você sair por aí poderá ver que a maioria gerou a feira do pai, mas acho que o meu velho daqui sou eu mesmo”, ressalta o feirante. E ele completa: “Não fiquei rico vendendo frutas e verduras, mas também nunca passei fome, nunca deixei faltar nada para meus filhos. Gosto do que faço e quero terminar minha vida assim”.

Fotos: Quico Cuter

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