Fim da Polícia Civil? Com redução do efetivo, delegados de Botucatu temem pelo futuro da categoria

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Fim da Polícia Civil? Com redução do efetivo, delegados de Botucatu temem pelo futuro da categoria 23 novembro 2016

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Em um momento que a Polícia Militar reforça seu efetivo com inscrições abertas para um concurso público que visa a contratação de aproximadamente 2 mil policiais, a Polícia Civil do Estado de São Paulo caminha na direção contrária. Delegacias e Distritos cada vez mais esvaziados, cidades com poucos policiais, junção do serviço de delegacias especializadas e pouca perspectiva de reposição dos profissionais que irão se aposentar. O quadro é muito preocupante.

Botucatu, claro, sofre as consequências da falta de efetivo e do tratamento que está sendo direcionado para a Polícia Civil e já em 2017, perderá uma considerável parcela de seus integrantes por aposentadoria. A situação é preocupante, já que o reduzido quadro atual deverá perder mais de  50% do efetivo em nossa cidade e região nos próximos 4 anos.

marvadezaA política do Governo do Estado de não recompor o número necessário de policiais civis tem sido alvo de críticas por parte de delegados e servidores. Em conversa com o Acontece Botucatu, o Delegado Seccional de Polícia, Dr. Antônio Soares da Costa Neto se mostrou extremamente preocupado com a situação.

“A esperança é de que o governo do estado contrate mais policiais para reposição ou senão vai ter que fechar. Já tem delegacia trabalhando com um escrivão apenas. Tem cidade que não tem nem escrivão e muito menos tem um delegado. Teve concurso para delegado, cerca de 80 novos delegados foram contratados, esperamos que alguém venha para Botucatu ou a coisa vai complicar”, disse Antônio Soares da Costa Neto.

Na Seccional com sede em Botucatu, pertencente ao Deinter 7 (Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior), já são várias cidades sem um delegado, como Pratânia, Areiópolis, Bofete, Pardinho, Torre de Pedra e Anhembi. Em Laranjal Paulista, por exemplo, a Polícia Civil trabalha com apenas um delegado e um escrivão para um volume considerável de ocorrências.

“É quase regime de escravidão, pois o policial trabalha 24 horas por dia e isso acarreta muitos problemas. Repito que a esperança é que o governo não retroaja 40 anos. Antigamente a Polícia Civil trabalhava assim, mas hoje as coisas são diferentes, população triplicou, criminalidade aumentou. A situação é preocupante, muito preocupante”, coloca o Seccional de Polícia.

Defasagem: Os números são cada vez menores de policiais civis 

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Segundo dados da categoria, o encolhimento está flagrante em todas as funções da Polícia Civil. De acordo com estudos, há uma defasagem de aproximadamente 13 mil policiais civis e científicos. Os números mostram que de 2006 a 2015 o estado perdeu 4.280 policiais civis.

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Delegado Geraldo Franco: “Se o Governo do Estado não reforçar a Polícia Civil, isso vai virar um caos”

O temor pelo futuro da Polícia Civil também também é compartilhado pelo Delegado Assistente da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), Dr. Geraldo Franco. Diretor da Associação dos Delegados e Sindicato dos Delegados do Estado de São Paulo, Franco chega a considerar a atual política do Governo como caótica para a Polícia Civil.

“Se o Governo do Estado não reforçar a Polícia Civil, isso vai virar um caos. Aqui na DIG temos 14 policiais, mas em 4 anos perderemos 7 deles por aposentadoria, ou seja, 50%. E isso se aplica em toda a Polícia Civil, delegacias e distritos. Tem cidade ai que na prática DISE (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes) e DIG (Delegacias de Investigações Gerais) se juntaram e isso não vai demorar para ocorrer em Botucatu”, expressa Geraldo Franco em conversa com a reportagem do Acontece Botucatu.

policia-civil-5Motivar o policial é preciso

Em 2013 foi aberto um concurso para a Polícia Civil paulista, com aprovação de 2301 profissionais. Desde então, os trâmites se arrastam e apenas 761 foram contratados, frente um percentual que beira 800% de policiais que pediram aposentadoria nos últimos 10 anos. Para Geraldo Franco, apenas contratar não é o suficiente.

“Para trabalhar na Polícia Civil você tem como item obrigatório o curso superior, para Delegado curso superior em Direito, mas o salário é de nível médio. Então o cidadão usa a Polícia Civil como passagem, por no máximo 2 anos, até conseguir coisa melhor. Ou seja, é efêmero, não há motivação para o profissional continuar na Polícia Civil. Quem vai querer trabalhar em uma cidade que tem apenas um delegado ou somente um escrivão? Trabalhar quase que em regime de escravidão, 24 em prontidão, podendo voltar para a Delegacia a qualquer momento do seu descanso após cumprir a carga horária. Ninguém quer isso para a vida toda”, lamenta o Delegado Sindicalista.

Governo contrata menos da metade prevista

DIG BotucatuApós crescente apelo da chamada grande mídia, o governo do estado divulgou recentemente que irá contratar 835 policiais para tentar diminuir o déficit. No total, serão 722 cargos para policiais e 113 para técnicos e oficiais administrativos. Mas esse número é apenas parte do que o próprio governo previa chamar quando publicou o edital dos concursos ainda em 2013, de 2301 como já descrito.

Segundo reportagem publicada pelo portal G1 recentemente, desde 2011 o governo Geraldo Alckmin perdeu aproximadamente 3 mil policiais. Segundo o governo, serão nomeados 587 novos profissionais, sendo 80 delegados, 120 investigadores e 387 escrivães.

Já a Superintendência da Polícia Técnico-Científica passará a contar com mais 135 servidores, sendo 35 médicos legistas, 25 peritos, 50 auxiliares de necropsia e 25 fotógrafos, além de mais 20 técnicos de laboratórios e 93 oficiais administrativos.

 

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