Luz solar intensa aumenta risco de tumores de pele em cães e gatos, diz docente da FMVZ/Unesp

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Luz solar intensa aumenta risco de tumores de pele em cães e gatos, diz docente da FMVZ/Unesp 29 fevereiro 2024

Docente alerta para os cuidados com os pets no verão

Assim como ocorre com os seres humanos, cães e gatos são suscetíveis à ocorrência de tumor, incluindo tumores de pele. Há vários tipos de tumores de pele e eles possuem causas variadas, inclusive genéticas. A exposição à radiação solar pode ser uma das causas e merece atenção, especialmente durante os meses de verão, onde a incidência da radiação ultravioleta é mais agressiva.

Alguns tumores atingem mais os cães e outros os gatos e os tipos de tratamento também podem ser diversos. No entanto, há dois tipos importantes de tumores que aparecem tanto no cão quanto no gato, e ambos têm grande influência da radiação ultravioleta liberada pela luz solar: o carcinoma de células escamosas e o hemangiossarcoma cutâneo.

A professora Juliany Gomes Quitzan, do Departamento de Cirurgia Veterinária e Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp, câmpus de Botucatu, explica:

“A luz solar pode induzir alguns tipos de tumor de pele em cães ou gatos e isso acontece principalmente em áreas do corpo do animal com pele ou pelagem clara, ou ainda em regiões do corpo onde a cobertura de pelos é menos densa”.

Um gato com pelagem branca e escassa em orelhas, ao redor dos olhos ou narina, ou um cão que tenha pelagem curta e clara, especialmente na região da barriga são exemplos de animais que merecem cuidados especiais de seus tutores.

“A radiação ultravioleta é um fator importante, porque não é simples passar protetores solares em animais, principalmente pelo fato de que eles lambem os produtos”, relata a professora Juliany. “Essa proteção, que conseguimos facilmente numa pessoa, é mais complicada de ser obtida no animal. Por isso, os tutores precisam estar atentos e evitar a exposição ao sol”.

Dentre os tumores de pele que independem do sol, os cães podem desenvolver o mastocitoma, um dos tumores malignos mais diagnosticados nesta espécie. Já o gato tem possibilidade de desenvolver sarcomas, tumores cutâneos que podem atingir a pele e alguns tecidos abaixo dela, o que dificulta os tratamentos.

Como reconhecer?

Os tutores precisam estar atentos a quaisquer feridas que apareçam no corpo do animal. Uma lesão na pele pode não ser apenas uma ferida, especialmente quando aparecer em áreas em que é improvável que o animal tenha se machucado. No cão é mais comum que essas feridas apareçam na região abdominal ou nos membros.

No gato aparecem na cabeça, em volta do olho, na ponta da orelha ou na narina. Feridas que demoram a cicatrizar, que sangram ou que aumentam são especialmente suspeitas.

“A confusão que acontece com mais frequência é que as pessoas confundem a aparência inicial do tumor com uma ferida e posterga a consulta ao veterinário. Porém, o tratamento na fase inicial é mais simples e geralmente mais eficaz”, alerta a professora Juliany.

Alguns tumores também podem se manifestar na forma de nódulos, como acontece nos cães com mastocitoma. Essas elevações do tecido podem acontecer em qualquer lugar do corpo do animal. Um nódulo que surge e aumenta de volume ou cuja pele que o recobre se rompe, pode ser um tumor. Também podem aparecer algumas “bolinhas” no corpo do animal. Verrugas em cães mais velhos geralmente não são preocupantes, mas mesmo assim devem ser examinadas. Somente um veterinário, a partir da realização de exames específicos, pode dizer se estas lesões são importantes ou não.

“Qualquer ondulação na pele deve ser investigada, mesmo que seja macia, pequena, indolor e que, aparentemente, não gere incômodos ao animal”, ressalta a professora. “Um nódulo macio é uma das principais formas de apresentação de um tumor de pele sério e difícil de cuidar, que é o mastocitoma. O mais importante é procurar sempre um veterinário para que sejam feitos exames que vão embasar o diagnóstico e ajudar a definir o melhor tratamento”.

Tumores malignos e benignos

Existem vários fatores que, do ponto de vista patológico, caracterizam os tumores como malignos ou benignos. De maneira mais simples, o que os diferencia é o ritmo de multiplicação das células e a sua capacidade de invadir outros tecidos. O tumor maligno consegue se multiplicar numa velocidade acelerada e tem maior capacidade para romper membranas e invadir outros tecidos, inclusive outros órgãos. Portanto, um tumor maligno de pele pode invadir um órgão dentro da cavidade abdominal, por exemplo. O tumor maligno é o que chamamos popularmente de câncer e a migração deste tumor para outras regiões ou órgãos recebe o nome de metástase.

Para distinguir tumores benignos e malignos é preciso fazer exames específicos, que também ajudarão a definir as medidas de tratamento. Independentemente de sua classificação em maligno ou benigno, na maioria das vezes o tratamento para tumor de pele é cirúrgico.

Cães e gatos. As diferenças

No cão, um dos tumores de pele mais comuns é o mastocitoma que, como dito acima, independe da exposição à luz solar. É um tumor muitas vezes silencioso que se manifesta na forma de um ou mais nódulos que geralmente não costumam incomodar o animal, o que contribui para o atraso na consulta ao médico veterinário. Em alguns casos, estes nódulos podem coçar, e a pele pode ficar vermelha ou até se romper.

Outro tumor que acomete bastante os cães, especialmente no Brasil, e está relacionado à incidência de luz solar é o hemangiossarcoma cutâneo e sua versão benigna, o hemangioma. Os dois muitas vezes são similares e geralmente aparecem na forma de pequenas verrugas avermelhadas. Acomete principalmente áreas com pouca cobertura de pelos. Também com influência de luz solar, o carcinoma de células escamosas é outro tumor maligno a atingir a pele dos cães. Este tumor costuma ser localmente agressivo e possui baixa taxa de metástase. Não apresenta predileção por sexo e acomete cães de diferentes raças, principalmente os de pelagem clara e escassa.

Tumor de pele muito comum em humanos, o melanoma também afeta os animais de estimação. Raramente acomete gatos, mas é frequente em cães, como conta a professora Juliany. “Quando o melanoma é cutâneo, o prognóstico costuma ser bom. Dependendo da localização, seu comportamento pode não ser tão agressivo. Já os melanomas na cavidade oral ou dígito costumam ser muito agressivos ”.

Nos gatos, o carcinoma de células escamosas é o tumor de pele mais comum. Assim como no cão, acomete áreas de pouca cobertura pilosa, como cabeça e pescoço e estas são regiões muito difíceis de serem abordadas cirurgicamente. “São cirurgias que, se demorarem muito para serem feitas, podem incorrer em uma grande mutilação, como amputações de orelha, narina ou até mesmo enucleação, que é a retirada do globo ocular”, salienta a professora Juliany.

Tratamento

Para a maioria dos tumores de pele em animais de estimação, o tratamento é cirúrgico. Em tumores malignos, quanto antes a intervenção cirúrgica for feita, melhor. Quando esses nódulos estão em áreas mais difíceis para realizar a retirada de pele, como nos membros, ou na região inguinal (da virilha), muitas vezes o tratamento se torna desafiador. “Na maioria das vezes precisamos tirar uma quantidade de pele maior, que vá além da lesão, para garantir que o tumor não volte. O tumor benigno nos permite, na maioria das vezes, retirar apenas a lesão”, explica a professora Juliany. “De qualquer modo, é necessário ter esse diferencial rapidamente, para que a cirurgia seja feita o quanto antes. O tumor maligno tem uma capacidade de crescimento muito mais rápido e, quando ele invade outros planos além da pele, a probabilidade de cura diminui”.

Em alguns casos é possível se utilizar tratamentos adicionais para aumentar as chances de cura. Os tratamentos adicionais mais usados são a quimioterapia e a eletroquimioterapia.

A quimioterapia tradicional é realizada com a aplicação do medicamento de modo intravenoso ou oral. Já a eletroquimoterapia utiliza um equipamento específico que propaga pulsos elétricos até as agulhas introduzidas no interior do tumor. Estes pulsos facilitam a criação de microporos na membrana da célula neoplásica, aumentando a passagem dos medicamentos quimioterápicos para dentro da célula, com sua consequente absorção, otimizando o efeito no local do tumor. “Essa é uma modalidade de tratamento muito interessante, principalmente para o carcinoma de células escamosas e deve ser feita sob anestesia geral do paciente. Também pode ser utilizada para outros tumores, dependendo do diagnóstico. Com a definição do tipo de tumor é estabelecido um protocolo específico para cada caso”, elucida a professora.

A radioterapia também existe na Medicina Veterinária, mas não é a principal indicação de tratamento para tumor de pele. Além disso, há poucos centros no Brasil que oferecem esse serviço, para o qual o animal precisa ser anestesiado em cada sessão e o custo costuma ser alto.

Na FMVZ

No Hospital Veterinário da FMVZ/Unesp, os serviços de Dermatologia, Cirurgia de Pequenos Animais e Patologia trabalham de maneira integrada e contam com infraestrutura e condições necessárias para atender orientar, diagnosticar e tratar esses pacientes. Existem também grupos de estudos com alunos que se dedicam aos estudos dos tumores, realizam ações de divulgação sobre o tema, como é o caso do GECION – Grupo de estudos em Cirurgia e Oncologia, coordenado pela professora Juliany, e GEP – Grupo de estudos em Patologia, coordenado pelo professor Alessandre Hataka.

O conselho da professora Juliany para os tutores que suspeitam da ocorrência de tumores em seus animais de estimação é ligar para o Hospital Veterinário e agendar uma consulta. E quanto antes essa medida for tomada, melhor e mais seguro para o animal será. “Muitas vezes, os animais chegam ao HV em estágios muito avançados e então fica extremamente difícil conseguirmos oferecer um tratamento que garanta a cura e qualidade de vida do animal. A grande maioria dos tumores cutâneos têm cura e as taxas de recuperação são boas, mas para isso é fundamental que sejam tratados no início de seu surgimento”.

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