Veterinária formada em Botucatu vai atuar no Reino Unido

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Veterinária formada em Botucatu vai atuar no Reino Unido 12 agosto 2013

Trabalhar na Europa, na profissão escolhida, recebendo o reconhecimento e a remuneração justa por isso é o sonho de muitas pessoas. Mas não é uma meta fácil de ser alcançada. No Reino Unido, por exemplo, os diplomas brasileiros de Medicina Veterinária não são reconhecidos e a atuação dos profissionais formados aqui só é permitida após a aprovação no rigoroso exame do Royal College of Veterinary Surgeons (RCVS).

Aos 33 anos, Khadije Hette, médica veterinária formada pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp em 2003, acaba de alcançar esse feito. Depois de muito esforço, dedicação e doze meses de estudo intenso ela superou a barreira do RCVS e está habilitada a trabalhar na sua profissão no país em que escolheu viver.

O exame do RCVS é dividido em quatro partes: pequenos animais, equinos, animais de produção e saúde publica. “As questões teóricas são todas dissertativas e totalizam 12 horas de prova”, conta Khadije. “Quem é aprovado na prova teórica passa para a prática, que ocorre ao longo de dois dias. É necessário obter 50% de aprovação em cada categoria pra se qualificar”.

Além da graduação, Khadije fez residência em Cirurgia de Pequenos Animais, em 2005 e 2006, na FMVZ. Na sequencia, iniciou o mestrado na mesma área, defendido em 2008. Desde a graduação, sempre foi orientada pela professora Sheila Canevese Rahal.

Ainda em 2008 ela seguiu para Londres. A ideia era passar 15 dias comemorando a defesa do mestrado, além de conhecer a Europa e descansar depois de tanto tempo de estudo. Em companhia de vários amigos brasileiros vivendo no Velho Mundo, Khadije gostou do passeio, perdeu a passagem de volta para o Brasil e foi ficando. “Quando me dei conta já tinha virado inglesa”, brinca.

Conseguiu um emprego num abrigo para gatos no bairro em que morava. A instituição, denominada “Celia Hammond Animal Trust”, precisava de uma enfermeira veterinária e contratou a brasileira imediatamente. “Como o diploma de medico veterinário brasileiro não é reconhecido na maior parte dos países europeus, a única maneira de esta envolvida no meio veterinário era como enfermeira. Acabei ficando nessa instituição por três anos e meio”.

Apesar da paisagem cinza e do clima chuvoso, Khadije adorou viver e trabalhar em Londres. “É uma cidade maravilhosa, cheia de vida e oportunidades. No entanto, quem vem de um país tropical tem que ter muita força de vontade e disposição pra encarar o frio, a chuva, a neve, conviver com três horas de luz por dia durante o inverno, pagar uma fortuna em aluguel e ainda ter tempo pra um happy hour no final do expediente”.

No último ano, ela trabalhou meio-período como enfermeira veterinária em diferentes clínicas ao redor de Londres. No restante do dia aproveitava para estudar e fazer estágios. Após a obtenção do registro junto ao RCVS, Khadije participou de um processo seletivo e foi contratada para trabalhar como médica veterinária numa clínica bastante movimentada e equipada de Londres. Mais uma conquista na sua trajetória.

Segundo a brasileira, exercer a profissão de médico veterinário no Reino Unido pressupõe obedecer a regras muito rígidas. “Aqui não existe o tal do “jeitinho brasileiro”. Fez coisa errada não tem “I’m sorry” que salve … vai pra justiça ou é expulso do RCVS, com perda do registro. Os clientes também são extremamente exigentes e por isso é fundamental que o profissional veterinário esteja informado sobre os novos tratamentos e condutas”.

No Reino Unido os cursos de atualização profissional são obrigatórios. Anualmente o RCVS verifica se o médico veterinário cumpriu o mínimo de horas de aulas exigidas em suas normas, sob pena de suspensão da profissão.
Outra diferença apontada por Khadije é que animais em tratamento contínuo (cardiopatas, hipertireoides) devem ser checados pelo veterinário no máximo a cada seis meses, caso contrario não podem comprar os medicamentos. Além disso, o tratamento veterinário não é barato. “Uma cirurgia para ruptura de ligamento cruzado, por exemplo, custa em media 4 mil libras, o que equivale a mais de 12 mil reais. Felizmente, muitos proprietários pagam seguro para seus pets, como se fosse um plano de saúde.

Além de trabalhar no Reino Unido, ela também participou de campanhas de castração em massa em Tenerife (Espanha) e Sardenha (Itália) e notou que animais de rua ainda representam um grande problema, mesmo em países desenvolvidos. Mas ela lembra que existem varias organizações não governamentais que se emprenham em ajudar a diminuir o problema. “Uma delas é o WVS (Wordwide Veterinary Service) que apoia pequenas entidades beneficentes ao redor do mundo, contribuindo com medicamentos, equipamentos, materiais cirúrgicos e voluntários dispostos a fazer diferença”, afirma. ”Nessas campanhas, animais de rua ou de pessoas carentes eram trazidos ao nosso centro cirúrgico, que era improvisado na cozinha da casa de alguém, e realizávamos castrações, providenciávamos tratamentos básicos como vermifugacão e ectoparasiticidas. Sinto-me honrada de poder ter feito parte de algumas dessas expedições”.

Mesmo com tantas experiências interessantes, Khadije não esquece os bons tempos de FMVZ. “A época de faculdade é uma das melhores das nossas vidas. Aproveitei bastante. Sempre mantive um bom relacionamento com meus colegas, professores e funcionários e ainda mantenho contato com várias pessoas. Minha época como residente da cirurgia de pequenos também foi ótima. Aprendi muito com meus professores e foi isso que me incentivou a ir mais longe, expandir meus horizontes. Agora é trabalhar, ganhar um salário decente e, quem sabe, fazer um curso de especialização em Ortopedia no futuro e conhecer o Havaí”.

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