Estudo realizado na Faculdade de Medicina (FM) da Unesp de Botucatu aponta quais são os principais peixes responsáveis por acidentes nos pescadores de áreas do baixo curso do rio Tietê. A pesquisa também avaliou os tratamentos populares usados nos ferimentos. As cidades analisadas foram Araçatuba, Buritama, Santo Antônio do Aracanguá e Itapura, em São Paulo.
Autora da tese de mestrado Acidentes com pescadores por peixes traumatizantes e peçonhentos no baixo curso do rio Tietê, Estado de São Paulo, realizada no Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da FM, Isleide Saraiva Rocha Moreira diz que, por meio de seu estudo, se sente motivada em auxiliar estas populações em acidentes de trabalho cotidianos.
“Precisamos levar as informações sobre quando, como, por que acontecem estes acidentes e, principalmente, fornecer as medidas de tratamento imediato para alívio da dor”, diz a pesquisadora, que teve orientação do professor Vidal Haddad Junior, do Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina, da Unesp de Botucatu.
O estudo permitiu entender os mecanismos que causam estes acidentes, a visão que os pescadores têm sobre eles e os tratamentos populares empregados para controle das ferroadas e outros traumas. Segundo a pesquisadora, os peixes que apresentaram potencial de causarem acidentes foram: armaus, corvinas, dourados, piranhas, traíras e tucunarés (peixes traumatizantes) e mandis, pintados e arraias (peçonhentos).
Ela conta que os acidentes traumáticos ocorrem por meio de mordidas, ferroadas, espículas e raios de nadadeiras de peixes, podendo ser puntiformes (perfurações) ou lacerados. Já os acidentes por peixes peçonhentos, quando o peixe apresenta toxinas nos ferrões da cauda (arraias) ou nos ferrões peitorais (pintados e mandis), estão associados com dor intensa e necrose da pele.
Um dado importante da pesquisa, é que após o acidente, a pesquisadora observou que a maior parte dos pescadores não realizou nenhum tratamento. “Outros usaram ervas (remédios caseiros) e urina nos ferimentos. Somente um procurou a unidade de saúde, em razão de uma infecção, após vários dias usando remédios caseiros”, diz. Participaram do estudo 40 pescadores.
Os pescadores foram questionados sobre os tipos de tratamentos que eles usariam no caso de acidente. Entre as respostas, foram citadas aplicação de uma mistura de ervas e álcool no ferimento; uma faca ou sebo quente com pimenta e gasolina, ou ainda, passar o olho de um mandi no local.
Isleide, que também atua como enfermeira, explica que os tipos de tratamentos utilizados em acidentes traumáticos (onde não há ação de veneno e podem existir lacerações) são lavar muito bem o local com água e sabão e procurar uma unidade de saúde. Pode ser necessário sutura e antibiótico, em razão das infecções no local, reforça.
Nos acidentes por peixes peçonhentos, a medida mais importante é controlar a dor violenta que o veneno causa. Segundo ela, nestes casos, deve-se imergir o local afetado em água quente a 50º C de 30 a 90 minutos. Ela ressalta que este tratamento deve ser feito principalmente nos acidentes por arraias e mandis. “Esta atitude faz com que cesse a ação do veneno no local afetado, diminuindo a dor.
É preciso, também, procurar uma unidade de saúde para avaliar se houve quebra e permanência do ferrão, aplicação da vacina antitetânica e prevenir outras infecções com antibioticoterapia”, conta. No caso de necrose da pele e úlceras, principalmente nos acidentes por arraias, é necessário que sejam feitos curativos diários até a cicatrização total.
As arraias no Tietê
Como parte de seu estudo, Isleide identificou o caso das arraias fluviais, peixes que estão colonizando o rio Tietê, onde não existiam 10 anos. O Salto de Sete Quedas, no rio Paraná, era uma barreira natural que impedia a passagem das espécies rio acima. Com a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, o represamento possibilitou a migração de várias espécies de peixes do médio e baixo Paraná para o início do rio e para áreas do rio Paranapanema.
De acordo com Isleide, as arraias fluviais em 25 anos colonizaram praticamente todo o rio Paraná e o final do rio Tietê, na cidade de Itapura. “Elas podem seguir para as outras regiões do rio Tietê, podendo causar um problema maior de saúde pública”.
“Estes peixes não são agressivos, mas chicoteiam a cauda e ferroam as vítimas quando pisados ou manipulados”. Os pescadores já convivem com estes peixes, mas conhecem pouco os riscos da manipulação e das medidas que deveriam tomar quando ferroados. O mesmo ocorre com às equipes de saúde locais.
Uma ferroada de arraia pode deixar o pescador afastado do trabalho por até seis meses, e a úlcera resultante da necrose local necessita de cuidados diários. Isleide finaliza dizendo que os pescadores encaram seus ferimentos como parte da sua profissão e não como acidentes evitáveis. “É necessário intervir na região com campanhas esclarecedoras, alerta”.
Assessoria de imprensa Unesp
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