
Ambulatório do Hospital das Clínicas atende pacientes encaminhados via UBS e AME

Maio é o mês dedicado à conscientização sobre a Doença Celíaca, condição autoimune que atinge milhões de pessoas no mundo e que ainda é cercada por desinformação. Em Botucatu, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Unesp (HCFMB) conta com um ambulatório especializado para diagnóstico e acompanhamento de pacientes celíacos, um dos poucos da região com essa estrutura.
A médica gastroenterologista Dra. Fran Rigo, uma das responsáveis pelo atendimento, explica que a doença celíaca é desencadeada pela ingestão do glúten — proteína presente no trigo, centeio e cevada. “Mesmo pequenas quantidades de glúten podem causar inflamação no intestino delgado, o que compromete a absorção de nutrientes e pode levar a complicações graves”, alerta.
Os sintomas variam de pessoa para pessoa, podendo incluir dores abdominais, diarreia, anemia, perda de peso, problemas de pele, fadiga e até alterações neurológicas. “O mais preocupante é que muitas pessoas convivem com a doença sem saber, confundindo os sintomas com outras condições”, afirma a médica.
O único tratamento possível é uma dieta 100% livre de glúten por toda a vida. E é justamente aí que começa um dos principais desafios para quem convive com a doença: o convívio social.
“As pessoas acham que é frescura”, diz paciente
A psicóloga Roberta Matias, moradora de Botucatu, descobriu ser celíaca há quatro anos, depois de anos com exames alterados e sem diagnóstico correto. A experiência dela ilustra bem as barreiras que pacientes enfrentam desde o diagnóstico até a inclusão social.
“Eu sempre tive vitamina B12 baixa. Passei um ano em acompanhamento sem que nenhum médico investigasse a causa. Só fui diagnosticada depois que troquei de hematologista. Fiz exames genéticos e descobrimos que meus pais também são celíacos, com sintomas completamente diferentes dos meus”, relata.
Roberta conta que o principal obstáculo é encontrar alimentos seguros. “A contaminação cruzada é um risco real. Se um alimento sem glúten é preparado na mesma panela de algo com glúten, já não é seguro pra gente. E a maioria dos restaurantes não está preparada pra isso, mesmo quando dizem que o prato é ‘sem glúten’”, afirma.
Ela leva a própria comida para a maioria dos eventos e visitas. “Socializar vira um problema. Já ouvi de atendente em restaurante: ‘Ah, não dá pra fazer diferente’. Tem muito julgamento, acham que é modinha ou frescura. E não é. Eu não posso comer nem um pouquinho”, diz.
Atendimento especializado em Botucatu
Em Botucatu, pacientes com suspeita ou diagnóstico de doença celíaca podem ser encaminhados para o Ambulatório de Doença Celíaca do Hospital das Clínicas por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou do Ambulatório Médico de Especialidades (AME).
“Conscientizar é o primeiro passo para acolher. Falar sobre a doença ajuda no diagnóstico precoce e melhora a qualidade de vida de quem convive com ela”, reforça a Dra. Fran.
Além do acompanhamento médico, o ambulatório atua com orientação nutricional e acompanhamento multidisciplinar, essencial para garantir a adesão à dieta e o monitoramento de possíveis complicações.
Diagnóstico difícil, mas necessário
A psicóloga Roberta destaca que os sintomas nem sempre são claros. “No meu caso, eu era magra e tinha sempre uma barriguinha estufada. Achava que era normal. Hoje sei que era o intestino reagindo. Muita gente tem sintomas como dor de cabeça, problemas na pele, refluxo, cansaço… e não investiga. Os próprios médicos muitas vezes não pedem os exames certos.”
Ela reforça a importância de campanhas como a do Maio Verde, que ajudam a informar e desmistificar a doença. “A saúde também é inclusão. A gente não quer privilégio, quer respeito e compreensão.”
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