Pacientes da Doença Celíaca têm atendimento especializado no HC de Botucatu

Saúde
Pacientes da Doença Celíaca têm atendimento especializado no HC de Botucatu 28 maio 2025

Ambulatório do Hospital das Clínicas atende pacientes encaminhados via UBS e AME

Maio é o mês dedicado à conscientização sobre a Doença Celíaca, condição autoimune que atinge milhões de pessoas no mundo e que ainda é cercada por desinformação. Em Botucatu, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Unesp (HCFMB) conta com um ambulatório especializado para diagnóstico e acompanhamento de pacientes celíacos, um dos poucos da região com essa estrutura.

A médica gastroenterologista Dra. Fran Rigo, uma das responsáveis pelo atendimento, explica que a doença celíaca é desencadeada pela ingestão do glúten — proteína presente no trigo, centeio e cevada. “Mesmo pequenas quantidades de glúten podem causar inflamação no intestino delgado, o que compromete a absorção de nutrientes e pode levar a complicações graves”, alerta.

Os sintomas variam de pessoa para pessoa, podendo incluir dores abdominais, diarreia, anemia, perda de peso, problemas de pele, fadiga e até alterações neurológicas. “O mais preocupante é que muitas pessoas convivem com a doença sem saber, confundindo os sintomas com outras condições”, afirma a médica.

O único tratamento possível é uma dieta 100% livre de glúten por toda a vida. E é justamente aí que começa um dos principais desafios para quem convive com a doença: o convívio social.

“As pessoas acham que é frescura”, diz paciente

A psicóloga Roberta Matias, moradora de Botucatu, descobriu ser celíaca há quatro anos, depois de anos com exames alterados e sem diagnóstico correto. A experiência dela ilustra bem as barreiras que pacientes enfrentam desde o diagnóstico até a inclusão social.

“Eu sempre tive vitamina B12 baixa. Passei um ano em acompanhamento sem que nenhum médico investigasse a causa. Só fui diagnosticada depois que troquei de hematologista. Fiz exames genéticos e descobrimos que meus pais também são celíacos, com sintomas completamente diferentes dos meus”, relata.

Roberta conta que o principal obstáculo é encontrar alimentos seguros. “A contaminação cruzada é um risco real. Se um alimento sem glúten é preparado na mesma panela de algo com glúten, já não é seguro pra gente. E a maioria dos restaurantes não está preparada pra isso, mesmo quando dizem que o prato é ‘sem glúten’”, afirma.

Ela leva a própria comida para a maioria dos eventos e visitas. “Socializar vira um problema. Já ouvi de atendente em restaurante: ‘Ah, não dá pra fazer diferente’. Tem muito julgamento, acham que é modinha ou frescura. E não é. Eu não posso comer nem um pouquinho”, diz.

Atendimento especializado em Botucatu

Em Botucatu, pacientes com suspeita ou diagnóstico de doença celíaca podem ser encaminhados para o Ambulatório de Doença Celíaca do Hospital das Clínicas por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou do Ambulatório Médico de Especialidades (AME).

“Conscientizar é o primeiro passo para acolher. Falar sobre a doença ajuda no diagnóstico precoce e melhora a qualidade de vida de quem convive com ela”, reforça a Dra. Fran.

Além do acompanhamento médico, o ambulatório atua com orientação nutricional e acompanhamento multidisciplinar, essencial para garantir a adesão à dieta e o monitoramento de possíveis complicações.

Diagnóstico difícil, mas necessário

A psicóloga Roberta destaca que os sintomas nem sempre são claros. “No meu caso, eu era magra e tinha sempre uma barriguinha estufada. Achava que era normal. Hoje sei que era o intestino reagindo. Muita gente tem sintomas como dor de cabeça, problemas na pele, refluxo, cansaço… e não investiga. Os próprios médicos muitas vezes não pedem os exames certos.”

Ela reforça a importância de campanhas como a do Maio Verde, que ajudam a informar e desmistificar a doença. “A saúde também é inclusão. A gente não quer privilégio, quer respeito e compreensão.”

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