O médico Juan Carlos Llanos, não é mais o médico responsável pela Central de Transplantes da Unesp de Botucatu. Numa reunião ocorrida tarde desta quinta-feira (20) no Conselho da Unesp, ele foi destituído do cargo e outro profissional poderá assumir a vaga. Ele continua exercendo seu trabalho como gastroenterologista (hepatologista) e professor da Faculdade de Medicina.
A destituição de Llanos se deu em razão do cancelamento de transplantes de fígado e pâncreas que eram realizados no HC de Botucatu gerando impasse e um desencontro de dados entre o Núcleo de Transplantes e a Superintendência administrada por Emílio Curceli. O procedimento que é pago pelo Sistema Único de Saúde (SUS), tornou o HC referência na captação e transplante de órgãos.
Médico responsável pelos transplantes desses órgãos relatou que o procedimento é muito complexo e desde 2010, não é feito o repasse da verba para os profissionais. De dezembro de 2010 até o mês passado não houve nenhum repasse, nem da captação, onde as equipes se expuseram a rodovias, a madrugadas e consequentemente, afetou seus familiares também, como o repasse para os funcionários do Hospital das Clínicas responsáveis pelo transplante. Esse repasse que tem verba extra orçamentária para o HC através da Secretaria Estadual de Saúde não foi repassado para as equipes, havia afirmado Llanos, na semana passada.
O medido disse que com o objetivo de aumentar o número de procedimentos realizados em todo país, há poucos meses, o governo federal aumentou o valor da verba que é repassada para cada transplante realizado. Esse valor é enviado a Secretaria Estadual de Saúde, para quem o HC deve prestar contas. Em nota, a Secretaria afirmou que a equipe de transplante não tem ligação direta com o hospital, apenas utiliza as instalações, no entanto, médicos da equipe afirmam que receberam apoio da Superintendência do HC para começar a realizar esses procedimentos em 2010.
Para esse procedimento é necessário uma equipe multiprofissional não só de médicos, porque nós temos a equipe médica cirúrgica, a equipe clínica, o serviço de terapia intensiva, hemoterapia, anestesia, ou seja, são vários profissionais envolvidos. E tudo isso se inicia a partir do momento do controle e preparo do paciente para que ele seja submetido ao transplante, explicou o médico.
Em nota a Superintendência do HC, contrapondo Llanos, alegou que é improcedente a informação de que a Unidade não repassava recursos financeiros ? equipe transplantadora. Ainda de acordo com a nota, os valores eram repassados normalmente, mas a equipe pleiteava um valor superior ao legalmente estabelecido pelo Ministério da Saúde. Por isso os médicos interromperam o serviço de transplantes de pâncreas e fígado, comunicando esta decisão ? Superintendência.
{tam:25px}{n}Entrevista de Llanos publicada em 10/04 de 2010
Médico diz que País precisa ter
sistema eficaz de captação de órgãos{/tam}{/n}
Juan Carlos Llanos tem uma missão crucial dentro do Hospital das Clínicas, vinculado ? Faculdade de Medicina de Botucatu (HC/FMB/Unesp): coordenar todo o programa de transplantes da unidade. O médico tem, entre suas atuações, a reorganização dos serviços prestados, com a expectativa de ampliação de procedimentos (estão em fase de implantação os transplantes de pulmão, coração, fígado e pâncreas), além do incentivo a programas de conscientização ? doação de órgãos.
Mas, para este trabalho ser possível, Llanos ressalta que ter o apoio de uma equipe preparada e capaz é essencial para superar anualmente os números de transplantes. Uma das iniciativas tem sido a ampliação física do Centro Cirúrgico do HC, que passará a contar com 16 leitos para a recuperação pós-operatória, o que favorecerá o aumento no número de cirurgias.
Para o médico, essa estruturação física e a consolidação dos procedimentos de transplantes no Hospital das Clínicas de Botucatu fizeram com que a unidade de saúde colhesse atualmente os frutos de seu trabalho. Em 2009, por exemplo, foi o 13º maior transplantador de rins do país.
A estruturação de um programa de residência médica em transplante de fígado, em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein, fará com que a Faculdade de Medicina se torne referência no interior paulista no ensino dessa modalidade de cirurgia.
No entanto, ele acredita que ainda falta muito para que o Brasil tenha um sistema realmente eficaz de captação de órgãos. Para Llanos, mesmo com o incentivo governamental aos programas de transplante, ainda faltam profissionais capacitados.
Em entrevista, o responsável pela área de transplantes do HC salienta que mesmo o Brasil tendo o maior sistema de transplantes do mundo e sendo o terceiro país que mais realiza esses procedimentos (atrás de Espanha e Estados Unidos), ainda falta a conscientização individual para se tornar um doador.
{n}Em sua opinião, o que faz o Hospital das Clínicas/Unesp se tornar referência na captação de órgãos e tecidos no interior do Estado de São Paulo?{/n}
A excelência dos profissionais e serviços, o parque tecnológico do HC Botucatu e a posição estratégica dentro do estado fazem de Botucatu um centro de referencia natural, mas com potencial de crescer muito mais. Apesar de inúmeras conquistas na captação de órgãos nos últimos anos, ainda estamos muito longe de tudo o que podemos alcançar. A OPO- Organização de Procura de Órgãos- de Botucatu, entidade da Secretaria do Estado de São Paulo responsável por todo processo de doação até a captação, cresceu muito com esforço pessoal de inúmeros profissionais como Dra Maria Fernanda, Dr. Gustavo, Dra Amélia, Dr. Alvio, Dr. Guilherme, Enfermeira Rosa, os técnicos de enfermagem Marcos, Valdeci, Andre, Davi e outros técnicos administrativos Nadia, Talita e Paulinho. A todos eles que fizeram a nossa historia nossa homenagem e agradecimento.
{n}Quais avanços podem ser observados com a Política Nacional de Transplantes? O que falta para que o Brasil tenha um sistema eficaz de captação de órgãos?{/n}
Com as mudanças implementadas pelo então ministro da saúde Jose Serra, em 1997, a política de incentivo a doação -transplante teve um grande impacto com aumento significativo da captação, de transplante, do treinamento de novos profissionais. Atualmente, o governo continua incentivando, através de reajustes frequentes no pagamento de todo processo extra-teto como procedimentos estratégico. Em 2010 houve a criação inédita do primeiro programa nacional de residência medica de múltiplos órgãos e tecidos para serem iniciados nos centros de referencia em transplante. Para o Brasil ter um sistema eficaz de captação de órgãos falta o treinamento de novos profissionais, e uma melhor distribuição destas equipes pelo Brasil. Hoje, a maior parte das equipes está no Estado de São Paulo, principalmente na capital.
{n}O HC voltará a realizar transplantes de fígado e pâncreas, além de pulmão e coração, futuramente. O que representa ao hospital ampliar a dimensão deste serviço?{/n}
A criação de um Programa de Transplantes de múltiplos órgãos no HC insere nosso hospital entre os melhores do Brasil. O transplante renal na década de 1980 inovou e destacou o HC. Inúmeros outros serviços de referencia foram criados durante toda nossa historia, mostrando a busca incessante pela excelência em saúde. Com certeza a política da atual Diretoria da Faculdade e da Superintendência incentivando os transplantes em Botucatu nos direciona para uma nova marca histórica de mudança e inovação.
{n}De que forma o HC tem se estruturado para buscar a ampliação de transplantes?{/n}
Na organização dos seus serviços, na contratação de pessoal especializado, no treinamento de profissionais do HC em centros de referencia nacional como o Hospital Israelita Albert Einstein e Instituto do Coração (Incor). Existem inúmeras pessoas dispostas a trabalhar para fazer do nosso hospital um orgulho para todos, mas esses sonhos só se realizam com investimentos audaciosos como os que o professores Emilio (Curcelli), Irma de Godoy, Andre Balbi, Marcone Sobreira e muitos outros da administração vêm se esforçando para fazer. E assim que seremos melhores, sonhando a noite e trabalhando duro todos os dias.
{n}Ainda se observa no Brasil inúmeros casos de pessoas que aguardam por anos na chamada fila. A seu modo de ver, como esta realidade poderia ser mudada? Falta conscientização ou o brasileiro ainda é resistente em se tratando de doação de órgãos?{/n}
Não estamos preparados para doar. Não sabemos doar nosso tempo, nossas roupas, comida para quem bate ? nossa porta, uma palavra para quem está aflito. Quem está preparado para receber a notícia que seu pai, mãe, irmão ou filho esta morto? Imagine nessa hora de maior dor que alguém possa passar, ser grande o suficiente para pensar que existem 70 mil brasileiros na fila de transplante? Realmente, a doação de órgãos e a maior prova de amor que o ser humano e capaz de dar. A falta da cultura da doação no Brasil deverá durar ainda muitos anos, mas estamos dispostos a mudar através das campanhas nacionais da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) e outras entidades. Os cursos com equipes de saúde deverão ser decisivos para a ampliação da conscientização da doação.
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