A medicina deu mais um passo importante rumo aos avanços no tratamento contra o veneno das picadas de abelhas. E foi em Botucatu, na tarde desta segunda-feira, 21, que os pesquisadores da Unesp aplicaram pela primeira vez em uma pessoa, o Soro contra o Veneno de Abelhas. “Fruto do trabalho de mais de vinte anos do CEVAP e do Instituto Vital Brasil, o produto foi entregue em 2013 para ser viabilizado em Pesquisa Clínica à Infectologia UNESP e à UPECLIN, Unidade de Pesquisa Clínica da Faculdade de Medicina de Botucatu, através do Estudo APIS, que também conta com a participação da UFTM e da UNISUL”, disse ao Acontece Botucatu, um dos pesquisadores, Alexandre Naime Barbosa.
De acordo com o médico, a paciente é uma mulher de 33 anos, que foi picada por cerca de 400 abelhas em uma fazenda no município de Avaré. “Ela ficou sabendo do estudo através da internet e procurou ajuda no Pronto Socorro do HC de Botucatu e passamos a tarde toda aplicando o soro e acompanhando a evolução da paciente. Ela foi a primeira incluída no estudo, sendo administrado o Soro Antiapílico, sem qualquer intercorrência ou evento adverso. Análises em andamento irão esclarecer sobre a eficácia do produto”, completou o médico.
A aplicação do Soro tem o objetivo de neutralizar a melitina, que é o principal composto tóxico do veneno das abelhas, impedindo a ação de destruir músculos e rins. Os resultados dessa primeira aplicação serão avaliados em conjunto no final do estudo, após recrutar 20 pacientes, em dois anos. A paciente segue estável e não corre risco de morte. Ela permanecerá em observação no HC por 3 dias.
Acidentes frequentes
Os acidentes causados por abelhas afetam mais de 10 mil pessoas todo ano no Brasil, causando oficialmente 40 óbitos, mas estimativas apontam que esse número pode ser quatro vezes maior. As mortes podem ser decorrentes de dois mecanismos:
– Envenenamento pela Peçonha da Abelha: ocorre quando um número substancial de picadas acontece (geralmente mais que 200), pois neste caso o volume de veneno é grande o suficiente para causar graves lesões em órgãos vitais. Entre outros componentes, a melitina se destaca como uma fração especialmente mais presente e potencialmente tóxica à órgãos como o rim, coração e fígado, entre outros, determinando grave quadro clínico que pode levar à morte. Não há na medicina nenhuma medida específica que permita desativar o veneno, sendo que o tratamento se limita ao suporte avançado de vida, esperando que o organismo elimine o veneno, o que muitas vezes não basta, e justifica os óbitos registrados.
– Anafilaxia: algumas pessoas são alérgicas ao veneno de abelhas, e uma simples picada pode levar a um grave quadro de alergia generalizada (anafilaxia), e mesmo causar óbito. Nesse caso as consequências não tem relação com a toxicidade do veneno, pois a peçonha foi inoculada em pequena quantidade, e o tratamento se limita à medidas para inibir a anafilaxia (drogas antialérgicas).
Sobre o soro
O produto foi desenvolvido por pesquisadores do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap) da Unesp de Botucatu em parceria com o Instituto Vital Brazil, de Niterói – RJ.
O medicamento é recebido por via intravenosa. Cerca de 20 mililitros (ml) trazem ao corpo uma quantidade de anticorpos capaz de neutralizar 90% dos problemas causados pelas picadas de abelhas africanizadas, as mais comuns no Brasil.
Quando um adulto é picado por mais de 200 insetos, o corpo recebe uma quantidade de veneno suficiente para causar lesões nos rins, fígado e coração, debilitando esses órgãos. A maioria das mortes acontece pela falência dos rins.
A responsabilidade pela aplicação do produto nos pacientes é da Upeclin e o especialista responsável pela condução do estudo é o médico infectologista e professor da FMB, Alexandre Naime Barbosa, do Departamento de Doenças Tropicais e Diagnóstico por Imagem.
O telefone da Upeclin para mais informações é: (14) 3880-16-63
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