Aos 75 anos de idade, 60 dos quais vive na comunidade remanescente do Quilombo da Fazenda Picinguaba, localizada em uma região praticamente isolada de Ubatuba-SP, José Vieira, líder local, não teria condições de tratar uma grave ferida causada pela Leishmaniose, doença que desconhecia e com qual conviveu por quatro anos.
Graças ao médico dermatologista e professor da Faculdade de Medicina de Botucatu/Unesp (FMB) Vidal Haddad Júnior – que atende uma vez por mês no posto de saúde do bairro de Picinguaba, José Vieira, mais conhecido como “Zé Pedro, recebeu tratamento no Hospital das Clínicas da FMB (HCFMB), onde permaneceu por 15 dias na Enfermaria de Dermatologia.
Pai de 14 filhos (sendo que quatro já morreram), 50 netos, 25 bisnetos e um tataraneto, Zé Pedro, neto de escravo, conta com orgulho sobre seus esforços para manter viva a cultura quilombola. Ele vive na comunidade Fazenda Picinguaba com outras 45 famílias. Todos ainda sobrevivem da pesca, do artesanato e da venda de palmito, melado, farinha de mandioca e rapadura produzidos no local.
Em breve, segundo Zé Pedro, deverá ser construído na comunidade um alambique para produção de cachaça. Apesar de não ser permitido que turistas morem em Picinguaba, vem deles parte da renda que mantém as famílias quilombolas.
Em entrevista à Assessoria de Comunicação e Imprensa da FMB/Unesp, Vieira conta que chegou a ser consultado pelo médico do posto de saúde da Vila Picinguaba, em Ubatuba, mas, devido a idade e um problema cardíaco, não pode receber as injeções que auxiliaram na recuperação de outros moradores também contaminados pela Leishmaniose.
“Difícil encontrar um hospital como esse (HCFMB) hoje em dia. Esse trabalho que o Dr. Vidal faz na nossa região é muito importante. Precisa ser incentivado. Sem saúde as pessoas não são nada. Ele é uma pessoa muito boa, muito humano. Peço a Deus que abençoe a todos que cuidaram de mim aqui em Botucatu. Descobri o caminho da felicidade, que nem pensei que tivesse mais, de tanta humanidade que vi nesse lugar. Fui muito bem cuidado, o tempo todo”, garante o líder quilombola.
O professor Vidal Haddad Júnior explica que a posição de líder comunitário de José Vieira, e seu carisma, o fizeram pensar que seria importante para sua comunidade – que é um Quilombo preservado – que ele fosse tratado com cuidado. “Os medicamentos para sua doença (Leishmaniose) são tóxicos e isso poderia trazer problemas também devido à idade. Assim, ele veio, fez o diagnóstico final da doença e retornou para a sua Casa da Farinha, no meio de um trecho da Mata Atlântica”, destaca Vidal.
A equipe da Dermatologia do HCFMB fará contato com o Posto de Saúde de Ubatuba para que seja possível seguir com os cuidados, mas com um tratamento alternativo menos tóxico, sob acompanhamento do professor Vidal.
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