Lambidas de cachorros podem ser perigosas, diz médico infectologista da Unesp

Saúde
Lambidas de cachorros podem ser perigosas, diz médico infectologista da Unesp 28 outubro 2016

 

Foto Portal Dog
Foto Portal Dog

A demonstração de afeto mais conhecida dos cães – a lambida – pode nos transmitir graves doenças. Em contato com boca, nariz ou olhos humanos, a saliva do animal pode causar infecções intestinais, gastroenterite ou colecistite.

“A boca dos cães possui uma flora bacteriana potencialmente patogênica para os seres humanos, que podem causar diversas doenças se vencida a barreira de proteção da pele”, afirma o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp – Botucatu).

Os gêneros de bactérias comuns nos cachorros são a Clostridium, Escherichia coli, Salmonella e a Campylobacter. A Escherichia pode causar a colecistite (inflamação da vesícula biliar), a Salmonella, salmonelose, e as Campylobacter, a gastroenterite (inflamação que afeta o estômago e o intestino). Existe uma espécie de Clostridium que causa tétano, uma doença associada a objetos de metal enferrujados, mas especialistas afirmam que a bactéria pode estar na terra, areia, plantas e madeira.

No organismo dos cães, essas bactérias não costumam causar qualquer problema – elas ajudam os animais na limpeza e até na cura das próprias feridas. O problema é quando os microrganismos entram em contato com as mucosas humanas, ou penetram na pele por meio de feridas. Pessoas com o sistema imunológico enfraquecido, como idosos ou pessoas que utilizam medicamentos como imunossupressores, podem ser ainda mais vulneráveis às bactérias caninas.

Segundo os especialistas, quando o “carinho” do animal é feito longe da boca, nariz ou olhos e atinge, por exemplo, as bochechas ou mãos, sem feridas, dificilmente ele transmitirá doenças. “Quando a saliva do cão entrar em contato com a pele humana sem lesões ou o dono não estiver dentro do grupo de pessoas suscetíveis a transmissão é bastante improvável”, disse Leni K. Kaplan, professora da faculdade de medicina veterinária da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, ao jornal americano The New York Times.

Foto 4toques
Foto 4toques: Alexandre Naime Barbosa, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp – Botucatu)

Existem ainda parasitas que podem ser carregados pelos animais de estimação. Doenças como a ancilostomíase e ascaridíase (causada pela lombriga) são transmitidas ao homem pela ingestão de ovos ou larvas presentes no solo ou em alimentos contaminados. Contudo, esses agentes podem também entrar em contato com os cachorros quando eles entram em contato com fezes encontradas na rua, jardins ou quintais.

Mordidas

A doença mais conhecida transmitida por cães e gatos é a raiva – contudo, os especialistas afirmam que as infecções transmitidas por bactérias presentes na boca dos animais também podem ser graves. “As infecções bacterianas são a principal consequência, podendo levar a quadros de osteomielite [inflamação óssea], artrite séptica, infecção da pele, músculos e possível choque séptico”, afirma a médica veterinária Janaína Biotto Camargo, também da Unesp.

Segundo os especialistas, qualquer pessoa mordida por cães ou gatos deve ser encaminhada para posto de saúde ou pronto socorro para que seja avaliada e tome os medicamentos capazes de impedir infecções.

Como evitar

A melhor maneira de impedir que doenças sejam transmitidas pelas lambidas é manter as vacinas dos animais em dia. Os cães mais jovens também precisam tomar medicamentos que evitam vermes e larvas e é recomendável impedir que os cães tenham contato com fezes (recolhendo os excrementos dos animais, por exemplo). Outra precaução importante é lavar as mãos com água e sabão após o contato com os animais de estimação.

Os médicos afirmam que os animais de estimação trazem importantes benefícios psicológicos aos donos e que, quando as precauções são tomadas, os riscos da transmissão de infecções de cães para humanos são baixas.

“O convívio com animais de estimação pode ser estreito desde que os cães sejam levados ao veterinário com frequência para que o profissional possa orientar sobre cuidados com higiene e tratamento de doenças. Assim, a convivência entre humanos e animais é benéfica”, afirma Barbosa.

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