A obesidade é, há algum tempo, um problema sério de saúde pública no Brasil. Quase uma epidemia. Pelo menos 55% da população estão com sobrepeso e aproximadamente 4% com obesidade mórbida. E para esses pacientes, com Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 40, ou acima de 35, mas com doenças associadas, como hipertensão, diabetes, apneia do sono, dislipidemia (nível elevado de gordura no sangue), entre outras, a cirurgia bariátrica às vezes é a única opção para melhorar a qualidade de vida.
Dentro deste cenário, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), através do Núcleo de Eventos Científicos do Departamento de Gestão de Atividades Acadêmicas (DGAA), promoveu no último dia 26, no Anfiteatro da Patologia, o III Clube Benedicto Montenegro – vinculado ao Colégio Brasileiro de Cirurgiões; e o I Encontro Sobracil (Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica).
O objetivo do encontro foi o de promover a capacitação e atualização de residentes e cirurgiões sobre as técnicas mais modernas de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, além de promover discussões sobre cirurgias revisionais e possíveis complicações neste tipo de intervenção médica. A palestra foi conduzida pelo Dr. Irineu Rasera Jr, especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo e responsável técnico pela Clínica Bariátrica de Piracicaba.
Na oportunidade foram apresentadas as principais técnicas. Seja para o emagrecimento ou tratamento de doenças associadas à obesidade. Segundo Rasera, hoje 95% das cirurgias no Brasil neste sentido são realizadas por Bypass Gástrico (redução do estômago, com uma emenda intestinal) ou Sleeve (remoção de grande parte do estômago, sem mexer no intestino).
“Ambas são eficazes, mas cada profissional tem suas preferências. No meu entendimento o Bypass proporciona melhores resultados de emagrecimento, menor taxa de pacientes que voltam a engordar ou que tenham problemas. É uma cirurgia realizada em todo o mundo. Já os defensores do Sleeve acham que é uma cirurgia mais simples e com os mesmos resultados. Essa é a discussão”, diz.
Para Rasera, hoje está muito claro que a cirurgia bariátrica traz excelentes resultados e tem importante papel dentro da saúde pública. Em especial à população obesa. No entanto também já há resultados confirmados no mundo que pacientes com diabetes do tipo 2, com IMC entre 30 e 35, e obesidade grau 1 (mais leve), também têm recebido indicação de cirurgia metabólica. “Neste caso, o objetivo é fazer com que o paciente diabético tenha a doença controlada e precise, cada vez menos, de medicamentos”, complementa.
Atuar na prevenção
Dr. Celso Vieira de Souza Leite, do Departamento de Cirurgia do Aparelho Digestivo e que coordena o grupo de Cirurgia Bariátrica no Hospital das Clínicas de Botucatu, informa que dos pacientes obesos graves, que vão para cirurgia, 90% deixam de ser diabéticos. Setenta e cinco por cento deixam de ser hipertensos ou ficam com a hipertensão muito controlada. Já a apnéia do sono e a dislipidemia é reduzida em quase 80%.
O HCFMB é referência no tratamento de alta complexidade para obesidade mórbida, dentro da DRS-6. Em média, nesta área, são realizadas oitos cirurgias por mês, o que totaliza quase 100 no ano. Apesar disso, o hospital ainda registra uma fila de quase 500 pacientes, de Botucatu e região, indicados a passar por este tipo de cirurgia.
“Nós atuamos no fim da linha, com os pacientes com suas doenças. Mas eles estão plenamente satisfeitos? Não. Nós temos que atuar na prevenção. Minimizar esse processo do ganho de peso dos pacientes. Por isso temos um projeto praticamente pronto, de treinamento das unidades básicas de saúde, capacitando os profissionais, no contexto do sobrepeso e obesidade. Nem todos [os pacientes] têm necessidade de vir para o HC. A resolutividade de muitos casos pode ser feita nas próprias unidades básicas”, comenta.
Compartilhe esta notícia