Consolidando a tradição de ser reconhecida internacionalmente pela comunidade acadêmica, a Faculdade de Medicina de Botucatu/Unesp (FMB) recebeu dois prêmios por trabalhos apresentados no 13º Congresso Panamericano de Cirurgia Vascular e Endovascular realizado no Rio de Janeiro, entre os dias 29 de outubro e 1º de novembro. O congresso já é uma tradição no calendário científico vascular do Brasil, sempre contando com a participação dos mais renomados especialistas brasileiros na área de cirurgia vascular e angiologia.
O reconhecimento foi concedido à professora Regina Moura, do Departamento de Cirurgia e Ortopedia da FMB, e ao cirurgião vascular do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) Rodrigo Gibin Jaldin, que apresentou o trabalho de autoria do aluno do quinto ano do curso de medicina Leandro Ramos e Silva.
Na categoria "Cirurgia Endovascular” (Endovascular Surgery), a professora Regina Moura foi premiada com o trabalho "Resultados de pacientes submetidos a tratamento endovascular do aneurisma da aorta abdominal infrarrenal: análise multicêntrica e consecutiva com a utilização do registro Rheuni (registro dos hospitais estaduais universitários do interior de São Paulo)”.
Assinam como coautores da pesquisa, Marcone Lima Sobreira e Winston Bonetti Yoshida (FMB-UNESP), Ana Terezinha Guillaumon (Faculdade de Ciências Médicas-Unicamp), Edwaldo Edner Joviliano (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP), Selma Regina de Oliveira Raymundo e Daniel Miquelin (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – Famerp), Ludwig Hafner e Marcelo José de Almeida (Faculdade de Medicina de Marília – Famema).
Na categoria "Pesquisa Científica Básica” (Basic Science and Research), o trabalho "Dissecção aguda de aorta em necrópsias: estudo de prevalência, fatores de risco e achados anatomopatológicos", foi o premiado. A pesquisa é uma colaboração das disciplinas de Cirurgia Vascular e de Patologia da FMB e contou com a colaboração de Rodrigo Gibin Jaldin e Winston Yoshida (Vascular), Kunie Rabello-Coelho, Marcelo Padovani Toledo de Moraes e Viciany Erique Fabris (Departamento de Patologia). A orientação foi feita pela professora titular de patologia Maria Aparecida Marchesan Rodrigues (Tuca).
Sobre os trabalhos:
"Resultados de pacientes submetidos a tratamento endovascular do aneurisma da aorta abdominal infrarrenal: análise multicêntrica e consecutiva com a utilização do registro Rheuni ” – O aneurisma de aorta é uma dilatação que compromete um segmento da maior artéria que sai do coração (chamada de aorta) e se estende até a região do abdômen. Essa dilatação pode romper e, algumas vezes, não dá tempo nem sequer do paciente chegar até o hospital, morrendo antes de receber tratamento.
Felizmente, nos dias de hoje, os médicos estão atentos a este diagnóstico e é possível identificar essa doença realizando um simples exame clínico com palpação do abdômen e confirmando com um exame de ultrassom. O tratamento pode ser feito com cirurgia aberta por meio da qual é realizado um grande corte na barriga, substituindo o segmento dilatado deste vaso por um pedaço tubular de tecido especial. Mas há outro tratamento mais moderno em que não é realizado o corte, mas sim dois cortes pequenos, localizados na região das virilhas nas quais são isoladas as artérias femorais que irrigam os membros inferiores.
Nestas artérias, que são interligadas a aorta, é possível a passagem e colocação de cateteres de grande calibre e, no seu interior, é inserido um stent tubular ( armação metálica revestida de um material semelhante ao nylon) revestido de tecido com um diâmetro próximo ao da aorta normal. Este stent de forma tubular é chamado de endoprótese.
Uma vez dentro do cateter, o stent é empurrado até o local da dilatação da aorta e é expelido para fora do cateter, se fixando aberto na parede do vaso. Desta forma, o sangue não bate mais no local da dilatação e este tubo fica protegendo a parede da aorta, evitando a sua ruptura.
O trabalho registrou todos os tratamentos de aneurisma de aorta abdominal com endoprótese realizados nas universidades do interior de São Paulo. Num período de dois anos foram feitos 323 procedimentos, por meio dos quais se conclui que este tratamento endovascular é eficiente e os resultados, quando comparados com outros serviços nacionais e internacionais, foram similares, mostrando que se deve dar continuidade em sua utilização. Isso porque é seguro, menos invasivo que a cirurgia aberta e com recuperação rápida dos pacientes.
Entretanto, cabe salientar que este tratamento tem algumas limitações devendo cada paciente ser analisado individualmente, averiguadas as condições do formato da aorta, a possibilidade do uso de acessos pelas artérias femorais e até a função renal dos pacientes, pois é utilizado contraste com iodo, que pode ocasionar reações alérgicas ou piora da função do rim.
"Dissecção aguda de aorta em necrópsias: estudo de prevalência, fatores de risco e achados anatomopatológicos" – A dissecção de aorta é uma doença grave que pode comprometer toda a circulação do nosso corpo, uma vez que, por meio de uma lesão na parede da aorta, o fluxo de sangue abre a luz do vaso em duas passagens distintas, uma verdadeira e outra falsa.
O sangue que passa com pressão pode deixar a parede do vaso fina, podendo romper a aorta ou formar aneurismas. Também pode fechar o fluxo para os ramos da aorta que são responsáveis pela irrigação das vísceras, dos membros superiores ou inferiores e, às vezes, pode fechar a circulação que vai para a região da cabeça ou das coronárias, causando derrame cerebral ou infarto no coração.
O trabalho fez um levantamento de pacientes que morreram com a doença mostrando que a aorta na região próxima do coração é mais acometida do que aquela situada na região próxima ao abdômen. A pesquisa foi importante para mostrar a casuística desta doença na população e mostrar para a equipe médica que deve-se estar atento ao diagnóstico.
Ainda é importante que se faça prevenção da doença, pois ela se desenvolve com alguma frequência em pacientes hipertensos com difícil controle, portadores de aterosclerose com calcificação e placas nos vasos, indivíduos com histórico familiar de aneurisma ou outras dissecções de aorta. O surgimento é súbito e começa com dor no peito, mas, se tratada a tempo pode evitar as complicações já relatadas.
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