Existem relatos significativos de casos de dificuldade para engolir e rouquidão adquiridos pós-coronavírus
Nesta quarta-feira, 9 de dezembro, celebra-se o Dia do Fonoaudiólogo, instituído a partir da data em que esta profissão foi regulamentada e reconhecida em todo o Brasil, em 1981. Desde bebês até idosos, todas as faixas etárias podem apresentar problemas que afetam as habilidades de comunicação, deglutição, voz, audição e fala.
Em tempos de pandemia, como estas funções são afetadas pela COVID-19? Qual é o papel da Fonoaudiologia no tratamento e quais são as propostas de reabilitação dos pacientes?
De acordo com a fonoaudióloga responsável pelo Serviço de Fonoaudiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), Dr.ª Priscila Watson Ribeiro, já há relatos significativos de casos de disfagia (dificuldade para engolir) e disfonia (popularmente chamada de rouquidão) adquiridos pós-coronavírus. “A gravidade das alterações de deglutição nos casos de COVID-19 pode apresentar variações e estar relacionada a diferentes fatores, como: sedação, intubação prolongada, fraqueza adquirida na UTI e possíveis manifestações neurológicas”.
Nos casos de intubação prolongada, somado ao uso de algumas medicações, os impactos na deglutição podem ser significativos, trazendo importante redução da sensibilidade e da força das estruturas envolvidas com a habilidade de engolir e, consequentemente, levando a engasgos e aspirações de alimento. “Por isso, antes de iniciar a alimentação ou mesmo a medicação pela boca, é essencial que seja realizada a avaliação fonoaudiológica especializada, com o objetivo de identificar os possíveis riscos, a necessidade de adequações e de fonoterapia”, afirma Priscila.
Outra função afetada pela intubação decorrente da COVID-19 é a voz. A falta de uso da musculatura das pregas vocais neste período pode levar a lesões estruturais e a alterações na qualidade e intensidade vocal, comprometendo, inclusive, a comunicação.
A coordenadora do Serviço defende ainda que é necessária uma avaliação fonoaudiológica para todos os pacientes que contraíram a COVID-19, inclusive aos que não precisaram de intubação. “Um dos sintomas mais característicos da doença é a alteração respiratória, que também pode trazer impactos nas funções de alimentação e comunicação que precisam de uma adequada coordenação entre respiração, deglutição e fala. Por isso, mesmo os pacientes que não precisaram ser intubados devem ser avaliados pelo fonoaudiólogo quanto à coordenação e ao desempenho destas habilidades”.
Atendimento fonoaudiólogico no HCFMB durante a pandemia
Segundo Priscila, desde o início da pandemia, foram atendidos 83 pacientes suspeitos, sendo 27 com o diagnóstico para COVID-19 confirmado posteriormente. Todos os outros atendimentos fonoaudiológicos realizados no Complexo HC foram impactados pelo cenário atual, porém reestruturados conforme todas as recomendações, garantindo aos pacientes e familiares uma assistência segura, humanizada e de qualidade.
“Quero parabenizar todas as fonoaudiólogas pela parceria, empenho e coragem em garantir o atendimento de qualidade aos nossos pacientes. O caminho ainda é longo, a clareza sobre o impacto da doença e a necessidade de reabilitação fonoaudiológica das habilidades de deglutição e fala ainda estão em construção, inclusive no contexto pós-alta hospitalar. Grandes desafios estão por vir, mas juntos encontraremos as respostas”, finaliza.
Compartilhe esta notícia