Câncer de próstata: estudo com pacientes brasileiros traz dados inéditos sobre o diagnóstico e tratamento

Saúde
Câncer de próstata: estudo com pacientes brasileiros traz dados inéditos sobre o diagnóstico e tratamento 04 junho 2023

Com a ajuda de ferramentas de inteligência artificial, médicos analisaram informações de 650 mil pacientes com a doença que foram atendidos pelo SUS nos últimos 15 anos

Um estudo feito por pesquisadores brasileiros, apresentado neste sábado (3) nos Estados Unidos, analisou dados de mais de 650 mil pacientes que fizeram tratamento de câncer de próstata pelo SUS.

O primeiro sinal de que algo estava errado apareceu em um exame de sangue de rotina. A biópsia confirmou a suspeita: o aposentado Laudinei Tadeu Faverani estava com câncer de próstata.

“Foi muito difícil. Eu fiquei muito para baixo, fiquei sem chão”, conta.

O médico diz que o diagnóstico precoce e o tratamento correto foram fundamentais para eliminar a doença.

“Quando ele chega cedo, a gente consegue curar muitos pacientes, às vezes mais de 70%, 90% com tratamento menos agressivos e com menor custo”, explica o médico Stênio de Cássio Zequi, diretor do Centro de Tumores do Hospital A.C. Camargo.

Laudinei retirou a próstata há quase seis anos e nem precisou fazer radioterapia nem quimioterapia.

Mas um estudo inédito conduzido por médicos brasileiros revela que nem sempre é assim. A pesquisa foi divulgada neste sábado (3) durante o principal congresso de oncologia do mundo, que está sendo realizado em Chicago, nos Estados Unidos.

Com a ajuda de ferramentas de inteligência artificial, os médicos analisaram informações de mais de 657 mil pacientes com câncer de próstata que foram atendidos pelo SUS nos últimos 15 anos. Os pesquisadores explicam que esse banco de dados é tão completo que permite uma série de análises. E alguns pontos chamam a atenção:

um em cada quatro pacientes chegou ao serviço público de saúde com tumores em estágio avançado;

os tratamentos utilizados foram considerados antigos, com uso de medicamentos ineficazes.

os dados mostram ainda uma subutilização da quimioterapia.

O médico Daniel Herchenhorn, professor da Universidade da Califórnia, em San Diego, e coordenador do estudo, diz que os resultados demostram um problema de saúde pública e podem ajudar as autoridades a tomarem decisões mais assertivas.

“Essa é a grande beleza de a gente conhecer os nossos dados e a gente poder trabalhar os dados, trabalhar a informação e isso, obviamente, gerar um conhecimento que permita a gente tratar as pessoas de forma melhor e, obviamente, tentar organizar o custo que o país está disposto a pagar em cima disso. Lembrando que câncer é a segunda maior causa de morte, no mínimo. Câncer de próstata afeta cerca de um a cada oito homens. Então, isso demostra a importância de a gente conhecer os dados brasileiros para que a gente possa, assim, refletir e entender exatamente o que estamos fazendo de certo e o que estamos fazendo de errado e que podemos melhorar”, diz Daniel Herchenhorn.

Se alguns dados preocupam, outros são positivos. Ao analisar os indicadores por raça, os pesquisadores dizem que, no Brasil, não encontraram diferenças significativas entre o atendimento médico dado a brancos e negros com câncer de próstata que procuraram a rede pública. Uma evidência, segundo o estudo, do alcance e da importância do Sistema Único de Saúde brasileiro.

“Em vários países do mundo, pessoas de raça negra, por exemplo, chegam com doença mais avançada no sistema público de saúde e, infelizmente, têm resultados piores de tratamento. Isso, a gente mostrou que é diferente no Brasil. Pessoas de raça branca ou raça negra foram tratados da mesma forma, com os mesmos custos, com as mesmas opções de tratamento. Então esse é um dado bastante positivo e inédito ainda no Brasil”, diz Herchenhorn.

O Ministério da Saúde disse que uma das prioridades da atual gestão é o fortalecimento do complexo industrial da saúde, e informou que a inclusão de novas terapias e tratamentos é feita após avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias, a Conitec.

Fonte: g1

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