De forma geral, as crianças percebem a importância da alimentação saudável, com frutas, hortaliças, cereais, fontes de carboidratos e de proteínas e sem excessos de açúcares e gorduras. Porém, como não escolhem as preparações que lhes são servidas nas principais refeições, esse entendimento, muitas vezes, não se reverte em alimentação balanceada, esclarece a nutricionista Roberta Alessandra Gaino, autora do mestrado
Concepção da criança em idade escolar sobre alimentação e nutrição, apresentado em 2012 no programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da UNESP, Câmpus de Botucatu, sob orientação da professora Eliana Goldfarb Cyrino.
O estudo permitiu identificar a compreensão dos estudantes sobre as diferentes funções dos alimentos, ou seja, para eles, vitaminas e minerais são reguladores das funções orgânicas e possuem propriedades antioxidantes, devendo ser preferidos em relação aos alimentos ricos em açúcares e gorduras. Assim, comidas que fornecem energia somente foram vistas como prejudiciais ? saúde, completa a nutricionista, para quem tal concepção é consequência da forma como o tema é apresentado ? criança nos diferentes cenários de vivencia.
Em entrevista com a professora dos escolares, esta disse ter abordado com eles os conceitos fundamentais com alimentos e nutrição, mas reconheceu a falta de tempo em sala de aula para os assuntos transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).
A educadora também relatou que, algumas vezes, o material didático é insuficiente e que não se sente plenamente capacitada para tratar todos os assuntos relacionados aos temas. Percebe-se, na fala da professora, a ausência de uma educação nutricional que adote estratégias nas quais os estudantes possam participar ativamente da construção dos conhecimentos, comenta a orientadora.
{n}Conflito {/n}
Para Eliana, as crianças estão abertas a novos conhecimentos sobre alimentação e nutrição, porém percebe-se que suas rotinas alimentares em família e na escola são repetidas, promovendo hábitos nem sempre condizentes com suas necessidades. Eles vivenciam um conflito entre o que aprendem e o que consomem, em geral por escolha dos adultos, comenta.
Os entrevistados revelaram consumir poucas hortaliças e frutas. No entanto, frituras e bebidas industrializadas estão diariamente presentes nas refeições, principalmente nos lanches, embora eles reconheçam que estes últimos são prejudiciais a saúde.
Segundo Roberta, os hábitos alimentares relatados pelos escolares são influências principalmente das mães, presentes na compra e no preparo das refeições. Fica claro que por motivos diferentes – praticidade ou prazer -, as famílias estão trocando alimentos saudáveis por industrializados, ou que podem ser adquiridos e preparados com maior facilidade. Contudo, há casos em que a mãe também foi apontada como incentivadora da alimentação saudável e promotora da disponibilidade dos alimentos de qualidade nutricional, possibilitando, portanto, a mudança dos hábitos alimentares.
{n}Pensamento infantil{/n}
O estudo foi realizado com 17 crianças do 5° ano do Ensino Fundamental, com idades entre nove a onze anos, de uma escola municipal do interior paulista. Busquei estabelecer vínculo com os escolares para que conseguissem falar, de forma fidedigna, sobre o que pensam e sentem a cerca de alimentação e nutrição e também como fazem suas refeições e o que de fato comem, comenta Roberta.
Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas; leitura de estórias infantis sobre o tema em questão; oficinas de desenho; prática culinária e observações em sala de aula e no intervalo. Segundo diversos autores, estudos dessa natureza, permitem identificar no público alvo, sentimentos, crenças e concepções sobre determinado assunto, esclarece a nutricionista, que realizou um estudo de perfil exploratório com método qualitativo.
Nessa pesquisa buscou-se ampliar a voz dos escolares sobre suas concepções a respeito de alimentos e nutrição, comenta a orientadora que coordena um grupo de estudos, no âmbito da linha de pesquisa Desenvolvimento e análise de tecnologia e processos para formação de profissionais de saúde, com financiamento da Capes, cujo foco é ampliar profissionais no campo da educação na saúde.
Frente aos desafios do aumento da obesidade na infância e da mudança dos hábitos alimentares, nem sempre saudáveis, as falas das crianças ampliam o trabalho educativo nessa temática, explica Eliana.
Para a Roberta, os entrevistados possuem um repertório sobre alimentação e nutrição construído a partir do cotidiano, na vivência entre familiares e amigos, na escola com a contribuição dos meios de comunicação. No entanto, adverte a nutricionista, muitos conceitos são assimilados de forma equivocada, comprometendo o entendimento mais amplo sobre o tema.
A pesquisadora lembra que na idade escolar são estabelecidas as preferências e restrições alimentares, origens do comportamento de toda a vida. Para ela, a integração dos setores de educação e saúde poderia contribuir para ampliar e melhorar a transmissão do conhecimento sobre alimentação saudável.
Fonte: Genira Chagas/ACI Reitoria
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