Ataque a ônibus: filha soube de morte da mãe ao vê-la em vídeos de WhatsApp, diz tenente de Piracicaba

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Ataque a ônibus: filha soube de morte da mãe ao vê-la em vídeos de WhatsApp, diz tenente de Piracicaba 25 junho 2022

‘Queríamos chorar com ela’, afirmou o policial Gilberto Ferreira Algarra em carta aberta divulgada para criticar a banalização das redes sociais. Ataque a facas deixou três mortos em Piracicaba nesta semana.

O tenente da Polícia Militar (PM) Gilberto Ferreira Algarra, que comandou as ações após atentado a ônibus do transporte público de Piracicaba (SP) que deixou três mortos e outros feridos na última terça-feira (21), relatou que a filha de uma das vítimas do ataque passou mal após receber um vídeo com imagens do corpo da mãe pelo celular. Segundo o tenente, as equipes queriam chorar com ela, mas não podiam.

A revelação veio à tona em uma carta aberta à sociedade que o policial divulgou, nesta sexta-feira (24), para criticar o vazamento de imagens de vítimas.

“Quando a filha de uma das vítimas desabou na nossa presença dizendo que soube da morte da mãe ao receber um vídeo no WhatsApp, nós queríamos chorar junto com ela, mas a nossa solidariedade precisava se estender a todo o contexto da tragédia que envolvia uma sociedade em choque com o ataque. Só nos restou acalmá-la, abraçá-la e prestar o nosso sentimento de pesar”, relatou.

O texto intitulado ‘O ataque ao ônibus da Vila Sônia’ do Comandante de Força Patrulha do 10º Batalhão de PM do Interior, para Piracicaba (SP), faz uma crítica à falta de empatia de curiosos que, munidos de seus celulares, expuseram imagens das vítimas e demais envolvidos, no local do crime.

“Algumas das famílias souberam da perda de seus entes queridos por meio de vídeos feitos em tempo real, ou seja, em poucos minutos já estavam circulando imagens de corpos em aplicativos como WhatsApp e Facebook”, descreve no texto.

O ataque, que ainda tem motivação desconhecida, ocorreu na tarde de terça-feira (21), após um passageiro da Linha 444 Sônia/Centro desferir golpes de faca em outras pessoas que seguiam no coletivo.

Gilberto Algarra contou que o atentado ao passageiros do ônibus em Piracicaba foi umas das ocorrências mais fortes que conduziu, principalmente, pela imprevisibilidade da ação e pela dificuldade em entender os motivos pelos quais levaram o autor a cometer os crimes.

“Foram muitas vidas perdidas de forma cruel e sem explicação alguma. As que envolvem crianças ou policiais são as mais fortes para nós, mas essa nos trouxe o desconhecido, o inexplicável, a surpresa, isso também não só é forte como nos pega se surpresa. Como prever uma ação dessa?”, questionou.

Leia a carta na íntegra, abaixo:

O ataque ao ônibus da Vila Sônia

O cenário é de filme de terror, o som é de profundo desespero, o fato é um homem de 52 anos, descontrolado desencadeando um ataque desmotivado a facadas de modo aleatório aos passageiros de um ônibus urbano de Piracicaba, em plena tarde de terça-feira em uma das avenidas mais movimentadas do município. A presença de uma viatura da Polícia Militar estacionada a poucos metros do Terminal Central de Integração, onde o agressor embarcou no coletivo, facilitou à dupla de policiais perceber os gritos e pedidos de socorro e agir rapidamente na abordagem do veículo, cessar o ataque e prender o homem.

A nós, policiais militares, bombeiros e socorristas, os primeiros a chegarem no local, nos é reservada a recepção da tragédia: as piores cenas, os mais terríveis gritos de agonia materializado nos pedidos de socorro, a frieza para conter a emoção, nos mobilizarmos e seguir adiante, racionalizar o caos e partir para o mais complexo dos trabalhos.

É necessário agir rapidamente: identificar o agressor (quando é apenas um, como o nosso caso de ontem), socorrer as vítimas às unidades de saúde e hospitais, desviar o trânsito para evitar acidentes, acionar os profissionais, especialistas e autoridades competentes para lidar com a situação, divulgar os dados preliminares à imprensa com transparência e o principal: afastar os curiosos do local e preservar a dignidade dos que se foram, as vítimas fatais da tragédia.

Por incrível que pareça, no ataque ao ônibus, mesmo com a prisão do autor do crime, o clamor popular por justiça e o socorro aos feridos, nos causou muita tristeza a falta de empatia de alguns cidadãos com o sofrimento das famílias das vítimas. Não é comum ver pessoas em cenas de acidentes e assassinatos disputando lugar uns com os outros para obter uma filmagem de celular com a simples intenção de compartilhar em grupos de redes sociais ou com colegas e familiares, sem a mínima preocupação com o destino do material.

Algumas das famílias souberam da perda de seus entes queridos por meio de vídeos feitos em tempo real, ou seja, em poucos minutos já estavam circulando imagens de corpos em aplicativos como WhatsApp e Facebook.

Não temos nada contra a livre circulação das informações, pelo contrário, divulgamos as ocorrências todos os dias, mas a falta de cuidado na divulgação de vídeos e fotografias com a exposição das vítimas causa mais sofrimento aos que são próximos delas e aumenta a morbidez dos acontecimentos inexplicáveis no imaginário da população. Nos torna mais frios e insensíveis e menos propensos à solidariedade.

Por isso, nós sempre orientamos as pessoas a não se deixarem levar pelo sentimento de protagonistas da exclusividade na divulgação dos fatos. Tudo o que envolve outras pessoas demanda cuidado e responsabilidade. Não é possível controlar o alcance de público após a divulgação aleatória de dados e imagens pessoais. Levar os fatos ao conhecimento das pessoas é o papel dos meios de comunicação, dos jornalistas e comunicadores. Até mesmo os profissionais que atuam em redes sociais dependem de filtros que passam pela ética do que é e como é possível publicar algo sem causar danos.

Quando a filha de uma das vítimas desabou na nossa presença dizendo que soube da morte da mãe ao receber um vídeo no WhatsApp, nós queríamos chorar junto com ela, mas a nossa solidariedade precisava se estender a todo o contexto da tragédia que envolvia uma sociedade em choque com o ataque. Só nos restou acalma-la, abraça-la e prestar o nosso sentimento de pesar.

Sobre o ataque ao ônibus da linha Vila Sônia, nos resta acompanhar o desfecho das investigações e lamentar que a cidade de Piracicaba tenha entrado no mapa dos crescentes casos de barbáries perpetrados mundo afora. Estamos em luto pelos nossos cidadãos vitimados e desejamos muita força e sabedoria às famílias das vítimas para lidar com um acontecimento tão abominável. Nossos mais profundos sentimentos de pesar.

Gilberto Ferreira Algarra, 1º Tenente da Polícia Militar – Comandante de Força Patrulha do 10º Batalhão de Polícia Militar do Interior em Piracicaba.

O ataque

Um homem de 52 anos esfaqueou e matou três pessoas dentro de um ônibus do transporte coletivo, no Centro de Piracicaba (SP), na tarde desta terça-feira (21). Outras três pessoas feridas foram socorridas com vida.

O suspeito foi preso e, de acordo com a Polícia Civil, ele escolheu as vítimas aleatoriamente, apresentava falas desconexas e não tinha uma motivação para o crime.

O ataque ocorreu às 15h15, em um coletivo da linha Centro/Vila Sônia, quando o veículo estava na Avenida Armando de Salles de Oliveira, uma das principais da cidade, nas proximidades do cruzamento com a Rua Regente Feijó, no segundo ponto após saída do Terminal Urbano da cidade.

De acordo com uma passageira, o homem saiu do terminal em silêncio e, repentinamente, começou a desferir as facadas.

Imagens que circulam em redes sociais mostram o homem realizando os ataques e PMs chegando ao local para rendê-lo e realizar a prisão.

O trecho foi interditado e as vítimas foram atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Polícias militar e civil e Guarda Civil Municipal atenderam a ocorrência no local, que foi sobrevoado pelo Helicóptero Águia.

Segundo Gilberto Ferreira Algarra, 1º Tenente da PM, o homem que realizou os ataques tem 52 anos.

“Ele embarcou no terminal central e quando saiu para a [Avenida] Armando Salles ele começou o ataque. Daí uma viatura que ficou parada no cruzamento da XV de novembro e Armando Salles percebeu a gritaria e o pedido de socorro. Aí a gente se mobilizou para tentar fazer a abordagem”, relatou o militar.

Segundo o PM, o homem se rendeu, mas estava alterado.

“As pessoas estavam em estado de choque, horrorizadas, não conseguiam mal se comunicar com a gente. O próprio indivíduo que fez o ataque era inviável conversar com ele”.

Segundo a prefeitura, morreram no ataque duas mulheres, de 42 e 55 anos, e um homem de 68 anos. Os corpos foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) e não havia informações sobre velório e enterro até a última atualização desta reportagem.

Outras duas vítimas foram conduzidas para o Hospital dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (HFC). Uma delas é um rapaz de 28 anos que está em estado grave e a outra é uma idosa de 60 anos que está em estado estável, segundo o último boletim médico da unidade de saúde.

A terceira vítima que sobreviveu é um inspetor de 24 anos, que foi esfaqueado no pescoço. Segundo a Santa Casa de Piracicaba, ele foi atendido no setor de ortopedia da unidade e liberado, sem permanecer internado.

Já uma idosa, que não chegou a ser ferida, foi socorrida com crise nervosa para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila Rezende.

Em nota, a concessionária TUPi Transporte, responsável pelo transporte público na cidade, manifestou apoio e solidariedade às vítimas e seus familiares.

“Informações indicam que uma pessoa atacou deliberadamente quem estava em sua frente com uma faca vitimando pessoas e ferindo outras causando pânico generalizado. O homem foi preso e a TUPi está acompanhando o caso e em contato com as autoridades locais e a prefeitura municipal”, acrescentou.

Fonte: G1

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