Após 10 anos, região volta a registrar casos de raiva

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Após 10 anos, região volta a registrar casos de raiva 10 abril 2016

Durante 10 anos a microrregião de Bauru não registrou nenhum caso de raiva transmitida pelo morcego hematófago (que se alimenta de sangue), mas no ano passado, foram registrados dois casos em Iacanga e mais dois em Arealva. Em ambos os casos, foram bovinos que tiveram a doença. Na região, em Botucatu e outras cidades das imediações foram registrados casos de raiva transmitida pelo morcego em equinos e bovinos.

A informação foi confirmada pela médica veterinária Marina Peres Cavalcanti, coordenadora de Defesa Agropecuária. “Os proprietários perceberam que animais que apareciam mortos na propriedade tinham sinais de mordedura. Começou a morrer os bovinos, mas ninguém chamou o veterinário para fazer coleta de material, para mandar para o laboratório, morriam os animais e eles achavam que estava normal.”

Até o dia que um proprietário chamou um veterinário. “O profissional da prefeitura achou que as mortes não estavam normais. Suspeitou de morcego. Coletou material, o encéfalo, o cérebro do animal morto para comprovar a doença. O veterinário encaminhou para nós e deu positivo para raiva. Da data da mordida do morcego até a morte do animal leva em torno de cinco a sete dias.”

A raiva é fatal independente de ser equino, bovino ou ser humano, enfatiza a veterinária. “Nem todo animal que for atacado pelo morcego desenvolve a raiva. Porque para desenvolver a raiva o animal tem que ser atacado por um morcego contaminado. Tem morcego dessa mesma espécie que não estava com raiva, portanto não transmitiu a doença.”

Para o produtor rural a veterinária indica. “É muito importante que o produtor rural quando vê um animal com sintomas procure um veterinário. A raiva envolve a coordenação, salivação. O animal não consegue andar direito, ele cai. Vai deitar. Ele fica como se estivesse zonzo, tem o andar cambaleante, saliva bastante para de se alimentar. Quando o bovino deita, ele não consegue mais levantar porque já está com o cérebro bem afetado. Não se mantém em pé. O produtor acha que ele está com outra doença. Vai mexer com ele, abre a boca dele para colocar remédio e tudo isso é perigoso porque se for raiva ele pode se contaminar.”  

A raiva pode passar do bovino para o ser humano, pela saliva em contato com alguma área com lesão.  “A raiva afeta o sistema nervoso. Por mais de 10 anos não tínhamos registros de casos em nossa região. Em agosto e setembro do ano passado aconteceram esses casos. Com o resultado positivo, nós entramos em ação para descobrir de onde estava vindo os morcegos. Onde estava a colônia deles. A colônia estava na divisa entre os dois municípios, próximo do Rio Tietê em uma casa abandonada.”


Colônias ficam próximas dos locais que geram alimentos, diz veterinária

As colônias de morcegos podem conter de 10 a mais de 100 morcegos, explica a médica veterinária Marina Peres Cavalcanti. “Tem colônias de macho que são as menores. As das gêmeas são maiores , geralmente com as crias. Depende da colônia. Os hematófagos têm por hábito viverem juntinhos nas colônias.”

Após a Unesp ter avisado que o resultado do exame era positivo para raiva, equipes da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo desencadearam ações para identificar a colônia e fazer o controle da população de morcegos. “Existem equipes que trabalham só com essa parte da prevenção da raiva. Elas fazem controle dos abrigos de morcegos, identifica o local, faz controle da população e atende as comunidades que têm resultado positivo.”

Para a microrregião de Bauru se deslocaram cinco equipes com 10 homens. “Eles fizeram um levantamento de toda a região. São 10 quilômetros de raio onde deu positivo. Foi feito um levantamento em casas abandonadas, bueiros, tronco de árvore seca. Tudo para ver se achavam  abrigos de morcegos.”

A colônia estava instalada em uma casa abandonada na área rural. “Aquela região tem muitas casas abandonadas por conta da cana-de-açúcar. São propriedades rurais grandes que possivelmente foram arrendadas para a cana. As casas ficaram abandonadas. O morcego vai se instala e como ninguém vai lá, ninguém abre a casa. O ambiente fica propício para ele. Tudo quietinho, escurinho e próximo de onde ele pode se alimentar.

O morcego é inteligente, enfatiza a veterinária. “Gosta de locais escuros e do silêncio. Numa casa habitada dificilmente vai ter morcego. Ele não vai ficar longe de onde tem a fonte de alimentação. A colônia, nesse caso, não ficava a 20 quilômetros de onde tem o rebanho. Ele não gosta de ficar longe porque gasta muita energia para voar.”

A captura dos morcegos é feita com redes. “O controle da colônia de morcegos é feita com a captura e na sequência a aplicação de uma pasta, vampiricida, nas costas do morcego. Eles são soltos e voltam para suas colônias. Como eles ficam juntinhos e se lambem, a pasta vai passando de um para outro. De cada um que recebe a pasta outros 10 a recebem. Todos morrem.”

O controle é importante porque não aparecem novos casos. “Não apareceu mais nenhum. Mesmo assim as equipes voltam a cada seis meses. Elas vão voltar nos locais onde elas acharam para constatar que a colônia não foi repovoada. Existe um catálogo no Estado de São Paulo de onde já foram encontrados abrigos de morcegos. Na regional Bauru que compreende 15 municípios tem 104 abrigos catalogados.”

A médica veterinária Marina Cavalcanti lembra que, no Estado tem bastante problemas de raiva, na nossa região é pouco. “A maioria dos casos são registrados na divisa de Minas Gerais, por conta do relevo. Tem  montanha e mata. Aqui na minha regional o abrigo de morcego são artificiais, no caso casa abandonada, bueiro. Aquela região de divisa com Minas Gerais são abrigos naturais, grutas, cavernas etc. Tem muito problema de raiva é a região de Bragança Paulista. Em Botucatu também sofre com a questão dos abrigos naturais. Os morcegos têm no máximo duas gestações por ano e nascem apenas um morcego. A população cresce porque tem poucos predadores. O predador é a coruja.”


Vacinação

A notificação dos casos de Arealva e Iacanga se espalhou e os pecuaristas optaram pela vacinação. “Não é obrigatória mas uma opção em regiões que tem raiva. Todos aqueles que visitamos num raio de 10 quilômetros do local, aceitaram a orientação. Como muitos animais não eram vacinados tiveram que daí 30 dias repetir a dose.”

Segundo a veterinária, a carne do animal morto com raiva tem que ser enterrada em vala funda. “Não pode ser usada. Quando tem uma notificação de raiva temos que notificar  também a Secretaria da Saúde para que elas façam levantamentos com os trabalhadores daquela propriedade para ver se alguém foi mordido.”

No ser humano os sintomas são bem imprevisíveis. “Pode manifestar sintomas em dias ou em meses. Não tem sinal, uma vez que quando começa os sintomas a pessoa morre. Existe no Brasil uma ou duas pessoas que conseguiram fazer o tratamento com raiva. Mesmo assim elas ficaram com sequelas. A raiva ataca o cérebro.”

(Fonte: JCNet)

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