

Um dos julgamentos mais aguardados da história de Botucatu. Assim podemos definir o Júri Popular desta quinta-feira, dia 23. No banco dos réus uma das figuras mais conhecidas da cidade, o empresário João Mathias, de 64 anos.
No dia 07 de dezembro de 2014, um domingo, ele assassinou sua ex-namorada, Sueli Aparecida Pereira, com 38 anos na época e Ademir Matias, então com 29 anos. O crime ocorreu em meio a popular festa realizada todos os anos em frente à igreja matriz do Bairro Guarantã.
É possível que o julgamento atraia um número recorde de pessoas para o Salão do Júri, anexo ao Fórum de Botucatu no Jardim Riviera. Ao todo 21 cidadãos de Botucatu serão intimados para a formação do Júri Popular, sendo que apenas 7 serão escolhidos momentos antes do início.
O acesso ao Salão do Juri será restrito para evitar aglomeração de pessoas. Até a imprensa terá um número limitado de profissionais para cobrir o julgamento que virou um evento, tamanha a expectativa. O julgamento tem previsão para começar às 9h00 e é possível que termine apenas na madrugada do dia seguinte. Há a possibilidade do mesmo ser interrompido para ser reiniciado apenas na manhã de sexta-feira, dia 24, dependendo do andamento dos trabalhos.
João Mathias estará no banco dos réus, sendo que sua defesa será feita pelos advogados criminalistas José Roberto Pereira e Rita de Cássia Barbuio. Na acusação provavelmente irá figurar o Promotor Marcos José Corvino. A sessão do Tribunal de Júri será presidida pelo juiz titular da 2ª Vara Criminal, Henrique Alves Corrêa Latarola.
Cronologia de um julgamento

O julgamento de João Mathias deverá ser longo, podendo inclusive não terminar no mesmo dia. Ele obedecerá aos critérios legais e uma sequência de atos pertinentes ao chamado Júri Popular.
1 – É escolhido o conselho de sentença. Defesa e promotoria podem dispensar até três jurados sorteados. Sete participarão do julgamento
2 – Juiz, promotor, defesa e jurados formulam, nessa ordem, perguntas para o réu, que tem o direito de respondê-las ou não
3 – O juiz apresenta aos jurados o processo, expondo os fatos, as provas existentes e as conclusões da promotoria e da defesa
4 – São ouvidas as testemunhas. Primeiro as indicadas pelo juiz (quando há), seguidas pelas de acusação e depois pelas de defesa
5 – Começam os debates entre a acusação e a defesa. O primeiro a falar é o promotor, que tem duas horas para a acusação
6 – O advogado – ou defensor público, no caso de pessoas que não podem pagar – também tem duas horas para a defesa
7 – O promotor pode pedir uma réplica. Cabe ao juiz concedê-la ou não. Também pode haver uma tréplica do advogado, se necessário
8 – O juiz formula os quesitos (perguntas) que serão votados pelo conselho de sentença e os lê, em plenário, para os jurados
9 – Um oficial de justiça recolhe as cédulas de votação dos quesitos. Os votos são contabilizados pelo juiz
10 – Voltando ao plenário, o juiz pede que todos se levantem e dá o veredicto em público. Estipula a pena e encerra o julgamento
Relembre o caso

O duplo homicídio cometido pelo empresário João Mathias é considerado um dos episódios mais marcantes da história recente de Botucatu.
No dia 07 de dezembro de 2014, no bairro do Guarantã, ele disparou contra a ex-namorada Sueli Pereira e seu acompanhante Ademir Matias. O crime ocorreu em meio a popular festa realizada todos os anos em frente à igreja matriz.
João Mathias era até então uma das figuras mais conhecidas de Botucatu. Durante anos foi o principal comerciante do antigo camelódromo, localizado na Praça do Bosque. Com a oficialização desses comerciantes e a criação do Centro Popular na Rua Curuzu, se estabeleceu com sua loja de eletroeletrônicos na Rua Velho Cardoso.
O crime chocou a cidade, especialmente por se tratar de uma figura muito conhecida. Homem que prendeu João Mathias, o Cabo Roberto da Polícia Militar lembra de cada detalhe da dramática perseguição ao comerciante.
“Eu tinha recebido denúncia de que o João Mathias tinha atirado em duas pessoas no Guarantã. Liguei para o Sargento na época e decidimos ir para lá. O caminho mais lógico seria ir pela Marechal Rondon (SP-300), mas acabamos indo por Rubião Junior. Quando passávamos por lá vimos ele naquela rua onde tem os restaurantes e a portaria da Unesp. Era o Monza de vidro quebrado e quando tivemos certeza que era ele, passamos a acompanhá-lo. Ele não parava, não parava e entramos na cidade ele ia subindo em calçada, não parava nas esquinas. Na Rua Curuzu ele estourou os pneus do carro, mas mesmo assim seguiu até a Vila Maria, quando perdeu o controle a bateu”, disse o Cabo Roberto.

O Policial relata que ao realizar a abordagem, João Mathias era um homem transtornado. E lembra que ao perguntar sobre o acontecido, a resposta foi enfática. “Fiz cagada, Roberto”.
“Ele estava totalmente transtornado, não era o João que eu conhecia, não era. Revistamos o carro, recolhemos a arma do crime e me lembro que tinha muita pedra dentro do veículo, pois as pessoas o atacaram na festa com pedradas após os crimes”, relatou ao Acontece Botucatu o Cabo Roberto, que estava acompanhado do Cabo Bianchi.
De acordo com testemunhas que presenciaram o crime, João Mathias chegou ao local da festa e visualizou Sueli dançando com Ademir. Ele sacou de um revólver calibre 38 e disparou um tiro contra a cabeça do desafeto, que imediatamente caiu de bruços. Sueli tentou fugir, mas Mathias disparou três tiros contra ela, sendo que dois acertaram as costas e o pescoço e um terceiro atingiu o para-brisa de um carro estacionado.
Na sequência Mathias voltou-se para o homem caído e disparou a queima roupa o segundo tiro contra sua cabeça. Imediatamente saiu correndo e fugiu em seu carro, um Monza da cor verde. Algumas pessoas que estavam na festa ainda tentaram interceptar a fuga atirando pedras no veículo, que teve o vidro lateral estilhaçado.
Sueli Pereira ainda foi socorrida com vida por uma enfermeira que estava na festa, mas morreu ao dar entrada no Hospital das Clínicas. Mathias retornou para Botucatu e após intensa perseguição policial por várias ruas da cidade, bateu o veículo no início da Rua João Morato da Conceição, na Vila Maria.
Estiveram nessa operação para prender o comerciante a Polícia Militar, Polícia Civil e a Guarda Civil Municipal. Ao chegar no Plantão Permanente, após receber atendimento por conta de vários ferimentos no rosto causados pelo acidente, Mathias disse que namorava Sueli há 12 anos e teria descoberto que ela o traia há dois anos.
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