Briga generalizada no Sarad de Botucatu expõe falhas estruturais e de segurança

Polícia
Briga generalizada no Sarad de Botucatu expõe falhas estruturais e de segurança 10 fevereiro 2025

O Serviço de Atenção e Referência em Álcool e Drogas (Sarad) é uma das poucas opções públicas no tratamento de dependência de álcool e drogas no interior paulista

Em uma unidade hospitalar que se dedica ao tratamento de dependentes de álcool e drogas, a violência explodiu de forma inesperada no último sábado, 08. O Serviço de Atenção e Referência em Álcool e Drogas (Sarad), vinculado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), foi palco de uma briga generalizada que deixou funcionários e pacientes em pânico, revelando problemas profundos de segurança e sobrecarga no atendimento.

O episódio ocorreu na enfermaria masculina, e o relato de uma funcionária que, por questões de segurança, optou por não ser identificada, descreve uma cena de desespero e caos. “Foi uma coisa que eu nunca passei em toda minha vida”, afirmou, descrevendo a luta entre pacientes como “terrível” e sem controle. Segundo ela, a situação se agravou ao ponto de funcionários se verem incapazes de reagir de forma eficiente, devido à falta de apoio e ao grande número de pacientes sob sua responsabilidade. “Estávamos em três, eu e mais dois técnicos. Como dar conta de 22 pacientes?”, questionou.

A funcionária ainda relatou que o cenário de violência se estendeu para a enfermaria de adolescentes, resultando na fuga de algumas pacientes, que precisaram ser rapidamente contidos. A chegada de uma equipe da Guarda Municipal de Botucatu ajudou a controlar a situação, mas o episódio deixou claro um problema estrutural: a unidade, além de contar com um número insuficiente de funcionários, sofre com uma grave falta de segurança e, como indicam os números, com a superlotação dos leitos.

Estrutura sobrecarregada

De acordo com informações internas, o Sarad possui atualmente 47 leitos disponíveis para internação, mas a capacidade do hospital é de até 76 leitos, o que indica uma demanda crescente e urgente por mais espaço para o tratamento dos pacientes.

Durante uma reunião no final de janeiro passado, a unidade comunicou a abertura de sete novos leitos, sendo cinco na enfermaria masculina e dois na feminina, sem, no entanto, a contratação de novos profissionais para reforçar a equipe. Tal sobrecarga tem gerado grande estresse entre os funcionários, comprometendo a qualidade no atendimento e a segurança dos pacientes e colaboradores.

Em 2024, o Sarad registrou um total de 414 internações, sendo 82% de homens e 18% de mulheres. O serviço é responsável por atender pacientes que buscam tratamento para desintoxicação, sendo um dos principais centros de atendimento de referência no tratamento de dependência química na região de Botucatu.

A escassez de recursos humanos

A principal crítica levantada pelos profissionais da unidade é a falta de recursos humanos. Além da sobrecarga de leitos, o número de funcionários é insuficiente para o atendimento adequado dos pacientes. O Sarad conta com técnicos de enfermagem, médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais, mas a quantidade de pessoas contratadas é incompatível com a demanda.

Para se ter uma ideia, um técnico de enfermagem precisa atender a 22 pacientes, o que compromete a qualidade do cuidado e coloca os trabalhadores em uma situação de risco, como evidenciado pela briga generalizada que ocorreu neste final de semana.

Além disso, a situação se agravou com o fechamento de leitos em outras unidades da região, como o Hospital Tereza Perlatti de Jaú, o que aumentou ainda mais a pressão sobre o Sarad.

Outro lado

O Acontece Botucatu entrou em contato com a assessoria de imprensa do Hospital das Clínicas, que responde pelo Sarad, que emitiu a seguinte nota:

“O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) informa que, em relação ao episódio ocorrido no Sarad no último sábado, todos os fatos estão sendo apurados e as medidas cabíveis estão sendo tomadas, principalmente em relação à segurança dos servidores e pacientes. Os servidores e pacientes envolvidos no episódio foram ouvidos, assistidos e encaminhados para cuidados médicos. Nesta segunda-feira, realizaram todos os procedimentos necessários para a formalização da investigação, e terão acompanhamento psicológico. O HCFMB lamenta o ocorrido e reforça que está conduzindo uma apuração detalhada dos fatos, em conformidade com os protocolos internos e as normas legais, buscando sempre melhorar a assistência prestada, priorizando a segurança de servidores, pacientes e visitantes da instituição.”

* O Acontece teve acesso ao áudio publicado por uma funcionária do Sarad em um grupo de WhatsApp e esclarece que esse áudio não foi enviado por ela à redação do jornal; O áudio e a identidade da autora não foram divulgados pelo portal em nenhum momento.

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