Os pesquisadores usam op animal porque, quanto mais novo for o embrião, melhor é para ser analisado o efeito do produto sobre ele e os ovos são examinados assim que postos pela fêmea
Iniciativa inédita no Brasil, o uso de ovos de rãs para medir o nível de agroquímicos no ambiente está sendo desenvolvido pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Pesquisa do Polo Regional Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba, em parceria com o Instituto de Pesca (IP), adaptará o teste já realizado em outros países à realidade brasileira, utilizando a rã-touro (Lithobates catesbeianus) como modelo experimental. Esta espécie é criada comercialmente no Brasil e seus ovos podem ser encontrados em qualquer época do ano, facilitando o uso do teste em todo o território nacional.
A responsável pelo estudo é a pós-doutoranda em Aquicultura pela Apta Fernanda Menezes França, zootecnista que, orientada por Claudia Maris Ferreira Mostério, do IP, está usando a espécie Lithobates catesbeianus em vez da Xenopus laevis para realizar o exame chamado Frog embryo teratogenesis assay – Xenopus (Fetax). É uma análise dos ovos do anfíbio que mede o nível de defensivos no ambiente, investiga se ele está presente em número capaz ou não de causar anomalias – por similaridade, com resultados válidos também para outras espécies de animais, inclusive os humanos.
Teratogênico é qualquer substância, organismo, agente físico ou estado de deficiência que, presente durante a vida embrionária ou fetal, produz alteração na estrutura ou função da descendência. O que Fernanda quer descobrir é qual o nível seguro de determinado produto a ser aplicado em diferentes culturas e, ainda, qual é a quantidade máxima para não causar má formação embrionária.
“Nossos pesquisadores têm trabalhado com muita dedicação em alternativas para o uso de agroquímicos. Não podemos abrir mão deles, mas existem maneiras de usá-los corretamente. Assim garantimos uma produção agropecuária amiga do meio ambiente, como sempre nos orienta o governador Geraldo Alckmin”, ressaltou o secretário Arnaldo Jardim.
Os pesquisadores usam a rã porque, quanto mais novo for o embrião, melhor é para ser analisado o efeito do produto sobre ele. No caso desses anfíbios, os ovos são examinados assim que postos pela fêmea. Para isso, Fernanda induz a desova utilizando hormônios. Ela distribui 25 exemplares em cada uma das 14 placas de análise laboratorial. Uma delas é livre de qualquer agroquímico para ser base de comparação para as outras.
Outra placa serve de controle positivo, pois contém o produto em quantidade para fazer surgir as alterações. Entre os dois extremos ficam cinco placas com diferentes quantidades de agroquímicos aplicadas. Essa diferença, como explica Fernanda, possibilita saber qual é o nível seguro de utilização do agroquímico ao fim do processo, que demora de quatro a oito dias.
É ao fim deste prazo que a pesquisadora calcula qual é a taxa de mortalidade e de deformidade (e os tipos dela) nos grupos em cada placa, dividindo a quantidade de mortos pela de má formados – resultando em um número que indica o índice teratogênico do ambiente. “O produto que causa mais má formação é mais perigoso do que aquele que mata a maioria dos ovos”, apontou Fernanda. Essas anomalias são analisadas nos anfíbios, mas podem ocorrer também em humanos.
Referência
Esse tipo de teste é utilizado pelas fabricantes de agroquímicos obterem a liberação para venda de novos produtos, ou para manter a já existente. Depois de finalizado o estudo, o trabalho será publicado para estabelecer essa adaptação do protocolo que já existe para o Fetax.
O passo seguinte será buscar a acreditação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), tornando a adaptação brasileira oficialmente reconhecida e pronta para ser levada ao setor agropecuário. Com a padronização de protocolo específico para a espécie escolhida, o teste poderá ser implantado em outros laboratórios e instituições de pesquisa.
“Este ensaio pode ser uma excelente ferramenta na avaliação da teratogenicidade de novos produtos para fins regulatórios; nos estudos de substâncias já aprovadas, como agrotóxicos e medicamentos; na determinação dos limites permissíveis de poluentes e no monitoramento de ambientes impactados”, concluiu Fernanda.
Da Assessoria
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