A fabricante de aeronaves Embraer informou nesta quinta-feira (24) que assinou acordos para a venda de sua divisão de aviação comercial para a Boeing. Uma assembleia extraordinária de acionistas foi marcada para 26 de fevereiro para aprovação do acordo.
O negócio foi aprovado no início do mês pelo governo federal – o governo é dono de uma “golden share” na Embraer e tem poder de veto em decisões estratégicas, como a transferência de controle acionário da empresa. O acordo ainda será submetido à aprovação dos acionistas da Embraer.
A empresa também anunciou a intenção de pagar dividendos de US$ 1,6 bilhão aos acionistas em 2019 pela parceria com a Boeing. O pagamento está condicionado à confirmação de certos requisitos, como o resultado da companhia.
Além dos acionistas, o acordo tem de ser autorizado pelas autoridades regulatórias. A expectativa é que o processo de criação da nova companha seja concluído até o fim deste ano.
Detalhes do negócio
A nova empresa foi avaliada em US$ 5,26 bilhões. A Boeing, que é norte-americana, será controladora da empresa, com 80% de participação, ao fazer um pagamento de US$ 4,2 bilhões (o equivalente a R$ 16,4 bilhões) à Embraer.
Os 20% restantes serão da fabricante brasileira, que poderá vender sua parte para a norte-americana a qualquer momento, por meio de uma opção de venda.
A expectativa é que a parceria só tenha efeitos no lucro por ação da Boeing após 2020. O negócio deve gerar sinergias anuais de cerca de US$ 150 milhões – antes de impostos – até o terceiro ano de operação.
Após concluída a transação, a joint venture será liderada por uma equipe de executivos no Brasil, incluindo um presidente e CEO. A Boeing terá o controle operacional e de gestão da nova empresa, que responderá diretamente a Dennis Muilenburg, presidente e CEO da Boeing.
A Embraer terá poder de decisão para alguns temas estratégicos, como a transferência das operações do Brasil. A empresa espera que o resultado da operação, descontados os custos de separação, seja de aproximadamente US$ 3 bilhões.
Em 2017, a área de aviação comercial da Embraer respondia por 57,6% da receita líquida da companhia, com US$ 10,7 bilhões de um total de US$ 18,7 bilhões.
Empresa de defesa
As empresas também chegaram a um acordo sobre os termos de uma segunda joint venture para promover e desenvolver novos mercados na área de defesa, envolvendo o avião multimissão KC-390.
De acordo com a parceria, a Embraer será a controladora neste negócio, com 51% de participação, e a Boeing, os 49% restantes. O valor total do negócio não foi informado.
Caso a parceria seja aprovada no tempo previsto, a Embraer espera que a negociação seja concluída até o final de 2019.
Por que Boeing e Embraer uniram forças
A Boeing e a Embraer anunciaram no fim de 2016 que estudavam unir seus negócios. A expectativa era de que um acordo entre as duas poderia criar uma gigante global de aviação, com forte atuação nos segmentos de longa distância e na aviação regional, e capaz de fazer frente a uma união similar entre as maiores concorrentes, Airbus e Bombardier, que também se uniram.
A americana e a brasileira tentam consolidar em um mesmo negócio duas operações fortes, uma em aviação de longa distância, outra para deslocamentos regionais. Enquanto a Boeing é a principal fabricante de aeronaves comerciais para voos longos, a Embraer lidera o mercado de jatos regionais, com aeronaves equipadas para voar distâncias menores.
A Embraer foi privatizada em 1994, no fim do governo Itamar Franco, por R$ 154,1 milhões (valores da época), quando o governo obteve o poder de decisão sobre a companhia.
Fonte: G1