
Em 16 de março de 1990 a ação pegou a população de surpresa e foi anunciada como parte do chamado Plano Collor

Neste 16 de março de 2025, completam-se 35 anos de uma das medidas econômicas mais impactantes da história do Brasil: o confisco da poupança determinado pelo então presidente Fernando Collor de Mello em 1990. A ação, que pegou a população de surpresa, foi anunciada como parte do chamado Plano Collor, um conjunto de medidas para conter a hiperinflação que assolava o país na época.
Ao assumir a presidência em 15 de março de 1990, Collor herdou um país com uma inflação descontrolada, que ultrapassava 80% ao mês. Para tentar conter a crise, a equipe econômica, liderada pela ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, lançou o Plano Collor no dia seguinte à posse. O pacote previa a substituição da moeda (o Cruzado Novo foi trocado pelo Cruzeiro), a liberação de preços e privatizações. Mas o que mais chocou a população foi o bloqueio do dinheiro depositado em contas correntes e cadernetas de poupança.
Na prática, a medida confiscou valores acima de 50 mil cruzeiros (equivalentes a cerca de R$ 6.000 hoje, ajustados pela inflação). Os montantes seriam devolvidos em parcelas ao longo de 18 meses, corrigidos pela inflação. O governo justificou o bloqueio como necessário para retirar o excesso de dinheiro em circulação e, assim, conter a escalada de preços.
O impacto na população e na economia

A medida gerou um verdadeiro colapso financeiro no Brasil. Empresas faliram, famílias perderam suas economias de uma vida inteira e a confiança na economia brasileira foi gravemente abalada. O comércio desacelerou drasticamente, e muitos brasileiros enfrentaram dificuldades para pagar contas básicas.
Além disso, a promessa de controle da inflação não se concretizou como esperado. O Plano Collor falhou em estabilizar a economia, e novas versões da política econômica foram implementadas nos anos seguintes.
O desdobramento político e o impeachment
O desgaste do governo Collor foi rápido. O confisco da poupança somou-se a denúncias de corrupção e a uma crescente insatisfação popular. Em 1992, após uma série de manifestações conhecidas como os “caras-pintadas”, Collor sofreu um processo de impeachment e deixou a presidência, sendo substituído por Itamar Franco.
Reflexos atuais e aprendizado histórico
Três décadas depois, o confisco da poupança ainda é lembrado como um dos maiores traumas econômicos do Brasil. O episódio deixou lições importantes sobre a necessidade de estabilidade e previsibilidade econômica. O temor de medidas semelhantes ainda persiste no imaginário coletivo, influenciando decisões de investidores e poupadores.
Apesar das dificuldades enfrentadas na época, o Brasil avançou em políticas de controle da inflação e credibilidade econômica, especialmente a partir do Plano Real, implementado em 1994.
O confisco da poupança do governo Collor permanece como um marco na história econômica brasileira, um episódio que afetou milhões de cidadãos e moldou o debate sobre a importância da segurança jurídica e da confiança nas instituições financeiras. Trinta anos depois, as cicatrizes desse evento ainda servem de alerta sobre os riscos de decisões econômicas drásticas e sem amplo debate com a sociedade.
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