Veterinária negra tem palestra online interrompida por ‘sons de primatas’: ‘Achei que fosse vírus no computador’

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Veterinária negra tem palestra online interrompida por ‘sons de primatas’: ‘Achei que fosse vírus no computador’ 21 março 2021

Especialista em animais exóticos estava dando aula para grupo de estudos da Unesp de Botucatu quando foi interrompida pelo ato. Palestra foi encerrada e veterinária vai fazer BO por racismo. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp divulgou nota de repúdio e trabalha na identificação dos autores.

Uma médica veterinária especialista em pets exóticos relatou ter sofrido um ataque racista depois que sua palestra online para um grupo de estudos da Unesp de Botucatu (SP) foi invadida.

Talita Santos, que atende em São Paulo, contou que estava ministrando a palestra para o Grupo de Estudos de Animais Selvagens da universidade na quinta-feira (18) e, cerca de uma hora depois de começar o conteúdo, foi interrompida por um áudio.

“Abriram os microfones, como se fosse entrar uma dúvida, mas eu não estava entendendo. Começou uma poluição sonora muito grande, barulho, música, sons de primatas, falas do presidente Bolsonaro”, lembra Talita.

Veterinária Talita Santos deu palestra para grupo da Unesp de Botucatu — Foto: Talita Santos/Arquivo pessoal

Veterinária Talita Santos deu palestra para grupo da Unesp de Botucatu — Foto: Talita Santos/Arquivo pessoal

Segundo a veterinária, outras pessoas que estavam na chamada de vídeo relataram que também foram exibidas imagens de primatas e do presidente durante a palestra, mas ela não conseguiu ver, já que estava com a tela aberta nos conteúdos que ensinava.

“Eu fiquei tentando falar porque eu não entendia, achei até que fosse um vírus do meu computador, aí a palestra sumiu. Depois o organizador me falou que a palestra tinha sido invadida”, conta a veterinária.

Segundo a especialista, o link da palestra era aberto e qualquer pessoa poderia ter acesso. No entanto, ela não conseguiu identificar quem entrou na chamada e fez o ataque.

“O organizador até tentou tirar as pessoas da sala, mas tinha muita gente entrando e ele acabou fechando.”

Assista o vídeo:

Depois do ocorrido, Talita disse que recebeu bastante apoio do grupo de estudos da Unesp e que vai registrar um boletim de ocorrência para que a polícia tente encontrar os responsáveis e puni-los.

“Sinceramente, não é diferente de outros ataques racistas. Não é a primeira vez que acontece, nunca é agradável, mas a vida já calejou bastante. É sempre uma situação ruim, mas ao mesmo tempo não foi algo que me afetou emocionalmente ou me fez duvidar da minha capacidade de trabalho.”

Afrovet emitiu nota de repúdio após ataque racista durante palestra em Botucatu — Foto: Instagram/Reprodução

Afrovet emitiu nota de repúdio após ataque racista durante palestra em Botucatu — Foto: Instagram/Reprodução

Nas redes sociais, a Afrovet, que é uma rede de graduandos e médicos veterinários negros, publicou uma nota de repúdio ao ataque sofrido por Talita.

“Viemos através dessa nota, primeiramente manifestar toda nossa solidariedade e apoio à médica veterinária Talita Santos e repudiar de forma veemente os atos racistas praticados, lembrando que racismo é um crime gravíssimo e deve ser punido como tal.”

A Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia do campus da Unesp de Botucatu divulgou uma nota de repúdio à ação contra a médica veterinária. No texto, a FMVZ reforça que “tal ação, claramente organizada, além do seu caráter criminoso, tem as marcas da intolerância, da covardia e do ódio à disseminação e a promoção do conhecimento, único caminho possível para a construção de uma sociedade mais justa e democrática”.

Informou também que a “Diretoria da FMVZ se solidariza com a palestrante ofendida e os participantes agredidos durante essas lamentáveis ocorrências e informa que seguirá colhendo informações que possam embasar providências concretas em relação a tais delitos, além de medidas que previnam ações dessa natureza.”

A Reitoria da Unesp, por meio da sua assessoria de imprensa, também reforçou o repúdio da universidade a essas ofensas e destacou que está empenhada em identificar os autores.

Fonte: G1

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