Um pouco da lógica da cotação do dólar

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Um pouco da lógica da cotação do dólar 21 maio 2018

Por Paulo André de Oliveira

No Brasil, como na maior parte dos países do mundo, se acompanha diariamente a cotação do dólar americano. Esta importância dada à moeda americana se deve ao fato dela ser a principal moeda de troca internacional. Na prática, para se comprar algo no exterior é preciso ter o dólar e quando se vende algo para o exterior do país recebe-se em dólar.

Existem outras moedas utilizadas para transações internacionais pelo mundo e mesmo o Brasil faz algumas transações em outras moedas (euro, por exemplo), contudo, a principal é o dólar porque foi convencionado no Acordo de Bretton Woods em 1944 com lastro em ouro.

O Acordo de Bretton Woods durou até 15 de agosto de 1971, quando os Estados Unidos, unilateralmente, acabarou com a conversibilidade do dólar em ouro, o que efetivamente levou o sistema de Bretton Woods ao colapso e tornou o dólar uma moeda fiduciária. Essa decisão, referida como choque Nixon (Nixon Shock), criou uma situação em que o dólar americano se tornou moeda de reserva, usada por muitos Estados. Para manter a “confiança” no dólar e seu valor, se tinha a capacidade de produzir dos Estados Unidos (PIB americano) e também o fato que todo petróleo do mundo (naquele momento) devia ser negociado em dólar (petrodólares).

Desta forma, pode-se perceber a importância do dólar no mundo. A sua cotação segue a lei da oferta e da procura. Portanto, para aumentar seu valor, ou se reduz sua oferta ou se aumenta a demanda. A entrada de dólares se faz pela exportação de bens e serviços, a saída se faz pela importação de bens e serviços (transações correntes). Ainda se podem ter as entradas financeiras como empréstimos, aplicações em nosso mercado financeiro para receber juros, comprar ações na bolsa de valores e o movimento inverso, ou seja, pagar empréstimos, resgatar aplicações financeiras e vender ações (movimentos de capitais). No Brasil, temos um saldo negativo de dólares nas transações correntes e saldo positivo nos movimentos de capitais.

Basicamente, o dólar está aumentando seu valor pela saída de dólares do país no item de movimentos de capitais. Estrangeiros que trouxeram dólares para o nosso mercado financeiro estão retornando suas aplicações para os Estados Unidos que estão indicando que devem aumentar a sua taxa de juros. Apesar da taxa de juros aqui continuar maior, os investidores adicionam na sua decisão o risco de se aplicar dinheiro fora dos Estados Unidos, chamado de risco soberano. Este risco considera a dificuldade de se levar de volta para o país de origem, o dinheiro aplicado em um país emergente.

Isto ocorre porque as aplicações são feitas em moeda local. Por exemplo: um fundo de pensão americano resolve aplicar dinheiro em títulos da divida pública brasileira; para isto ele transfere dólares para o Brasil por meio de uma corretora, estes dólares são vendidos para quem precisa de dólares para saldar uma divida no exterior que troca os dólares do fundo de pensão por reais, de posse dos reais o fundo de pensão americano compra títulos da divida publica brasileira interessado nos juros que são pagos pelos títulos.

O interesse do fundo de pensão americano é aumentar a rentabilidade do patrimônio do fundo, mas os gestores do fundo sabem que existe um risco de trazer o dinheiro para o Brasil ou qualquer país emergente, que é principalmente o risco de retornar, pois o país emergente precisa ter dólares disponíveis para que este retorno aconteça. Por esta razão a taxa de juros do país emergente deve cobrir este risco a ponto de considerarem viável esta aplicação, comparado às outras opções que o fundo tem, como aplicar em títulos públicos americanos, ações de empresas de seu pais de origem para citar as principais.

Quando a taxa de juros sobe nos Estados Unidos, se reavalia as aplicações, não somente pela diminuição da diferença nas taxas de juros, mas também pelos efeitos da elevação da taxa de juros sobre a economia americana. O objetivo de elevar a taxa de juros nos Estados Unidos é justamente desaquecer a economia americana que demonstra estar operando em pleno emprego o que vem forçando alta de salários e da inflação americana. Desaquecer a economia americana pode diminuir as exportações dos países emergentes que terão menos dólares e desta forma aumentarão o “risco de retornar” criando um circulo vicioso.

Nas últimas semanas o dólar aumentou de forma significativa, chegando à casa de R$ 3,70 por unidade. Infelizmente já contribuiu para se parar a trajetória de queda da taxa de juros no Brasil e ainda tende a aumentar custos de importados e de produtos brasileiros exportáveis. O repasse do aumento do dólar em produtos cotados na moeda americana (como o petróleo e seus derivados) colabora como mais uma poita para a recuperação da nossa economia.

Professor da FATEC

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