
Em alguns casos a interação com a espécie começou com a própria população oferecendo alimentos, algo totalmente equivocado, diz especialista do IBB/Unesp Botucatu

Botucatu tem enfrentado nos últimos meses um crescente desafio relacionado ao ambiente urbano: a superpopulação de quatis. Esses mamíferos silvestres, geralmente encontrados em parques e áreas verdes, têm se multiplicado em ritmo acelerado, o que tem gerado preocupação entre moradores e especialistas.
A presença dos quatis tornou-se cada vez mais comum em ruas, praças e até quintais da cidade. Apesar de sua aparência simpática e do apelo junto ao público, especialmente entre turistas e crianças, a convivência tão próxima com esses animais pode trazer uma série de problemas.
Alguns bairros do município concentram grandes populações desses animais. Há diversos registros de quatis em bando pelo Jardim Ouro Verde e Cambuí. Em alguns casos essa interação começou com a própria população oferecendo alimentos, algo totalmente equivocado.
Em busca de alimento, os quatis têm invadido residências, revirado lixeiras e causado prejuízos em jardins e hortas. Além do impacto material, há um fator ainda mais preocupante: o risco à saúde pública. A proximidade com áreas urbanas aumenta a chance de transmissão de zoonoses, doenças que podem ser passadas entre animais e seres humanos.
Docente da área de Ecologia de Biodiversidade do Instituto de Biociências da Unesp em Botucatu, o Professor Felipe W. Amorim explica que o desequilíbrio populacional desses animais pode estar relacionado à oferta abundante de alimentos nas áreas urbanas.
Principalmente pelo descarte incorreto de resíduos e pela prática, ainda comum, de alimentar animais silvestres. Ambas as atitudes contribuem para que os quatis deixem seus habitats naturais e se acostumem à presença humana, disse.
Os riscos do contato com quatis: por que é importante manter distância

Os quatis pertencem à ordem dos carnívoros e, como é típico desse grupo, possuem garras e dentes fortes, capazes de causar ferimentos sérios caso ataquem alguém. No Brasil, há diversos registros de ataques envolvendo esses animais.
Em um caso que presenciei pessoalmente, o caseiro da Reserva Ecológica do Panga, em Uberlândia (MG), foi gravemente ferido por um quati que invadiu sua residência, em meados dos anos 2000. O ataque resultou em uma hemorragia intensa e em mais de uma dezena de pontos na panturrilha, citou Felipe W. Amorim
Além dos riscos físicos, os quatis também podem ser transmissores do vírus da raiva, uma doença com taxa de letalidade próxima de 100% se não for tratada rapidamente. Com a ausência da maioria de seus predadores naturais nos ambientes urbanos, a população de quatis tem crescido de forma significativa em nosso município.
Esse aumento descontrolado eleva também o risco de que algum desses animais contraia o vírus da raiva e o transmita a pessoas, muitas vezes atraídas pela curiosidade, pela vontade de fotografá-los ou até mesmo de alimentá-los.
É essencial reforçar que por mais carismáticos que possam parecer, os quatis são animais silvestres e devem ser respeitados como tal. A melhor forma de conviver com eles é manter distância e evitar qualquer tipo de interação direta. Além de não alimentá-los, é importante adotarmos medidas para impedir que tenham acesso ao lixo das residências. Por serem animais onívoros, ou seja, com dieta bastante variada, e encontrarem fácil acesso a alimentos nas áreas urbanas, suas populações tendem a crescer ainda mais, o que amplia os riscos tanto para os próprios animais quanto para a população, explicou o docente.
Diante do cenário, as autoridades municipais estão mobilizadas. Estão em curso campanhas de conscientização que alertam sobre os riscos de alimentar os quatis e reforçam a importância de manter o lixo bem acondicionado. Além disso, discute-se a adoção de medidas de manejo populacional que respeitem a fauna local, sem comprometer a segurança da população, finalizou o Professor Felipe W. Amorim.
A situação serve como um alerta sobre a necessidade de promover uma convivência equilibrada entre seres humanos e a vida silvestre. Botucatu, reconhecida riqueza de sua fauna e flora e pelo convívio próximo com a natureza, agora enfrenta o desafio de manter essa relação de forma sustentável e segura para as pessoas e para os animais.
Compartilhe esta notícia