A política de preços da Petrobras e os “tradable goods”

Colunistas
A política de preços da Petrobras e os “tradable goods” 11 janeiro 2018

Por Paulo André de Oliveira

Paulo André de Oliveira é Professor e Economista

Uma nova política de preços dos combustíveis passou a ser adotada pela Petrobras no início de julho nas refinarias. Desde então, os preços da gasolina e do diesel estão sendo alterados, às vezes, de um dia para o outro. A estatal afirma que a ideia é repassar com maior frequência as flutuações do câmbio, do petróleo e, com isso, permitir “maior aderência dos preços do mercado doméstico ao mercado internacional no curto prazo”, dando condições de competir de maneira mais ágil e eficiente”.

Para se ter uma ideia da variação de preços, os barris de petróleo, que custavam em torno dos US$ 100 até o final de 2014, chegaram abaixo de US$ 30 no ano passado e já fecharam em US$ 68 no dia 24 de novembro.

O conceito econômico adotado pela Petrobras na sua politica de preços é o dos bens comercializáveis. Os bens comercializáveis (tradable goods) são os que têm potencial para exportação ou para importação – mesmo que efetivamente não o sejam. A possibilidade de seu comércio externo põe em curso uma comparação contínua entre seu preço e o de seus concorrentes no exterior, verificando se não existem barreiras à substituição de um tipo de produto por outro. Pode-se citar a soja, o açúcar e o petróleo.

Por exemplo, mesmo que todo o açúcar produzido no Brasil fosse totalmente consumido no país, a possibilidade de ser comercializado no exterior faz com que seus preços sejam negociados a preços internacionais, pois se o produtor subir demais os preços e no exterior estiver mais barato compra-se no exterior, regulando o preço doméstico, assim como se o preço interno estiver abaixo do preço internacional, o produtor tentará colocar no mercado externo, diminuindo a oferta no país e regulando o preço doméstico com o preço internacional.

Alguns bens serão não comercializáveis, quer por sua própria natureza, quer pelos altos custos de transporte por unidade de produto, tarifas elevadas ou outros tipos de restrição. Exemplos de bens não comercializáveis internacionalmente podem ser encontrados no setor da habitação, de geração de energia, de transporte, de serviços educacionais, de serviços pessoais, etc. Por essa razão os preços de profissionais autônomos não sofrem impacto direto dos preços internacionais e, são os que mais pressionam os índices inflacionários, o que também verificamos no setor imobiliário

Desta forma, como o petróleo é um bem comercializável, a Petrobrás sobe o preço para acompanhar o mercado internacional e manter sua lucratividade e, deverá baixar o preço quando ele cair no mercado internacional, porque existe concorrência no mercado interno com outras produtoras de petróleo e derivados como a Shell e a Exxon. E por que o etanol sobe quando a gasolina sobe?

Para manter o preço relativo com a gasolina, ou seja, mesmo que não varie os custos ou os preços internacionais do etanol com o mesmo vigor do petróleo, os produtores aproveitam a oportunidade para fazer caixa para a temporada das “vacas magras”. Esta temporada é aquela em que o etanol fica relativamente mais caro que a gasolina (acima de 70% do preço da gasolina) e as vendas despencam. Neste período do ano não há como baixar os preços do etanol, pois os custos sobem e a produção cai (entressafra da cana) e baixar os preços seria vender com prejuízo.

O petróleo estava em ciclo de baixa de preços e agora está em um ciclo de alta forçada pelas pressões geopolíticas internacionais e pela Organização dos Países Produtores de Petróleo que lidera a alta recente. Não há de se esperar quedas de preços nos próximos meses, portanto os combustíveis devem manter este patamar, atrasando a nossa recuperação econômica.

Professor da FATEC

Compartilhe esta notícia
Oferecimento
ABC mobile
Oferecimento