Pesquisas da FCA/Unesp buscam obtenção de duas safras anuais de uva

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Pesquisas da FCA/Unesp buscam obtenção de duas safras anuais de uva 29 janeiro 2024

Experimentos utilizando a poda de verão acontecem na Fazenda Experimental São Manuel

Fazenda Experimental São Manuel, pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, câmpus de Botucatu, abriga inúmeros trabalhos na área de viticultura, ou seja, o cultivo da videira. Dentre os trabalhos de pesquisa conduzidos pela equipe do professor Marco Antonio Tecchio, do Departamento de Produção Vegetal da FCA, destacam-se os experimentos com uvas para mesa e para processamento.

Em experimentos com as cultivares de uvas Niagara Rosada, BRS Vitória, BRS Núbia e BRS Isis, ficou evidenciado o seu potencial de cultivo quando submetidas à poda de inverno, obtendo-se alta produtividade e qualidade da uva na colheita de verão.

Nessas áreas experimentais, novos experimentos foram iniciados, visando a obtenção de duas safras anuais de uvas com qualidade. Para isso, foram realizadas a poda de inverno (15/07/2023) com a colheita de verão (5 a 20/12/2023) e a poda de verão (24/01/2024), com a colheita de inverno prevista para maio de 2024.

A colheita da uva está diretamente relacionada a época de poda. “Tradicionalmente, em regiões de clima subtropical, à exemplo das regiões sudeste e leste de Estado de São Paulo, representadas pelas importantes regiões vitícolas de Jundiaí, Indaiatuba e São Miguel Arcanjo, realiza-se a poda de inverno nos meses de julho a setembro, após o período de dormência das videiras”, explica o professor Tecchio. “Nessa modalidade de poda, os ramos doentes ou presentes em número excessivo são eliminados na base e os que permanecem na planta, sofrem uma poda curta, normalmente com uma gema. A duração do ciclo da videira, da poda à colheita, é variável em função da variedade copa e porta-enxerto e das condições edafoclimáticas do local de cultivo”.

Segundo o docente, a colheita resultante dessa poda é realizada nos meses de dezembro a fevereiro, sendo denominada colheita de verão. “Tendo em vista que a colheita coincide com alta temperatura associada a alto índice pluvial, são frequentes problemas fitossanitários associados principalmente a doenças fúngicas. Além disso, o excesso de água prejudica a maturação das uvas, reduzindo o teor de sólidos solúveis”.

No entanto, o professor Tecchio ressalta que é comum encontrar no mercado uvas produzidas nas regiões sudeste e leste do Estado de São Paulo nos meses de abril a junho. “Isso deve-se a poda de verão ou poda temporã, realizada logo após a colheita da safra normal, nos meses de dezembro a fevereiro. Além do período em que é realizado, esse manejo difere-se do tradicional ao exigir poda mais longa, com 4 a 5 gemas”. Nessa modalidade de poda, dependendo da cultivar de videira, há uma redução de 20 a 25 dias no ciclo da videira. Assim, a colheita é realizada nos meses de abril a junho, sendo denominada colheita de inverno.

“Um dos principais interesses dos viticultores ao optarem por essa modalidade de poda é de conseguirem uma fonte de renda a mais no ano, tendo-se duas colheitas anuais de uvas. Além disso, normalmente obtém-se melhor preço de comercialização tendo em vista a menor oferta de uvas no mercado”, justifica o professor Tecchio. “Outra vantagem da colheita de inverno, nos meses de maio a junho, refere-se ao menor índice pluvial e maior amplitude térmica (diferença de temperatura do dia e da noite) o que contribui para a obtenção de uvas de melhor qualidade”.

Uma desvantagem dessa modalidade de poda é o aumento nos custos no controle fitossanitário e com fertilizantes. Por ser realizada em períodos chuvosos, entre dezembro e fevereiro, essa poda exige uma pulverização mais frequente do vinhedo, para garantir um bom controle de doenças e pragas. “Dependendo das condições de
clima, normalmente o produtor realiza a pulverização a cada três dias, o que aumenta o custo de produção”, informa o professor Tecchio. “Normalmente, na poda de inverno, os produtores da região realizam pulverizações semanais para o controle das doenças. O maior uso de fertilizantes é causado pela exigência de reposição nutricional da planta que, por ter mais de uma safra no mesmo ano, precisa de mais adubação”.

Além disso, pode haver um comprometimento da vida útil da videira. Em média, com a realização apenas da poda de inverno, o vinhedo dura de 15 a 18 anos, enquanto que com a poda temporã, realizada em anos alternados, a vida útil cai para a faixa de 10 a 12 anos. “Pensando nas safras futuras, os produtores devem considerar que, produzindo a maior parte do ano, a plantação se tornará mais vulnerável a pragas e doenças, em função da dificuldade em reduzir a fonte de inoculo de fungos prejudiciais à cultura”, lembra o docente. “No entanto, a safra de verão ou temporã pode garantir bons rendimentos, ao abastecer o mercado em um período que a fruta está disponível em menor quantidade para o consumidor”.

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