
Pesquisa revela presença de parasita em onças-pintadas e reforça a importância da conservação da espécie

Um estudo inédito conduzido pela Unesp revelou, pela primeira vez no Pantanal, a presença do parasita Spirometra spp. em onças-pintadas. O patógeno, que pode infectar seres humanos, foi identificado por meio de análises genéticas realizadas em amostras fecais coletadas entre 2022 e 2024 na Fazenda Piuval, próxima à cidade de Poconé, no Mato Grosso.
O estudo fez parte da pesquisa de mestrado do médico-veterinário Paul Raad, estudante do Programa de Pós-graduação em Animais Selvagens da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp de Botucatu. “A presença do Spirometra spp. nas fezes das onças sugere que ele está circulando pelo ecossistema dessa região, onde nunca havia sido detectado, e pode afetar outros animais e também seres humanos”, explicou Raad.
Os pesquisadores analisaram 40 amostras de fezes de onças, e aproximadamente um terço testou positivo para o parasita. Segundo Felipe Fornazari, professor da FMVZ e orientador do estudo, a descoberta reforça a importância da abordagem de Saúde Única, que interliga a saúde de humanos, animais e do ecossistema. O Spirometra spp. pode causar a esparganose, uma doença que afeta humanos e se transmite pelo consumo de água contaminada ou carne malcozida de hospedeiros intermediários, como répteis e anfíbios.
Onças como bioindicadores de saúde ambiental

O estudo também buscou mudar a percepção das comunidades locais sobre as onças, frequentemente vistas como ameaças para a pecuária. “Elas podem ser bioindicadores da presença de doenças, funcionando como sentinelas ambientais”, disse Raad. Para reduzir conflitos entre onças e pecuaristas, foram implementadas soluções como cercas elétricas, que reduziram significativamente ataques ao gado na Fazenda Piuval.
O administrador da propriedade, Eduardo Eubank, destacou os resultados positivos: “Nos dois anos do estudo, a perda de bezerros caiu drasticamente. Antes, perdíamos entre 7% e 10% do rebanho; agora, temos índices muito baixos”. Ele reforça que a coexistência com as onças pode ser vantajosa também para o ecoturismo, que se torna uma fonte de renda alternativa para os fazendeiros.
A pesquisa reforça a importância da conservação da fauna pantaneira e abre caminho para novas iniciativas que promovam a harmonia entre seres humanos e grandes predadores. Para Raad, a experiência é um exemplo de como a ciência pode contribuir para soluções sustentáveis. “Queremos mostrar que é possível ganhar dinheiro com a onça viva, e não com a onça morta”, concluiu.
