Pesquisa da Unesp de Botucatu investiga como jumentos expressam dor

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Pesquisa da Unesp de Botucatu investiga como jumentos expressam dor 23 julho 2020

Estudo auxilia comprovação de bem estar para animais que, hoje, também são de produção.

Pesquisadores da Unesp de Botucatu (SP), em parceria com pesquisadores da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA), publicaram um estudo sobre dor em jumentos na revista Equine Veterinary Journal no mês passado. A pesquisa, que contou com apoio da Fapesp, buscou identificar e quantificar alterações nos comportamentos de jumentos submetidos à dor causada pela castração. Os resultados recém publicados chamam a atenção para considerações de bem-estar dos jumentos, que são frequentemente vistos como animais resilientes à dor.

Para realizar a pesquisa, quarenta jumentos foram sedados e castrados. Quatro horas após a recuperação da anestesia, os pesquisadores administraram analgésicos para os animais. As respostas comportamentais dos jumentos foram registradas em vídeo antes da castração e em intervalos de até 24h após a recuperação da anestesia. Erguer as patas traseiras foi o único comportamento específico de dor que ocorreu após a castração. Os analgésicos restauraram o apetite e a ingestão de água nos animais testados.

Reconhecer dor em jumentos é um desafio pela falta de expressões claras e o pouco conhecimento dos hábitos naturais desses animais. “Jumentos são animais mais discretos na expressão dos comportamentos. Não são tão óbvios como os cavalos”, pontua Stelio Pacca Loureiro Luna, docente da Unesp e autor do estudo. Isso acaba dificultando o estabelecimento de tratamentos analgésicos adequados para esses animais. A dificuldade é tanta que até o momento não existiam estudos que apresentassem um modelo padronizado para avaliar comportamentos relacionados à dor aguda nesses animais. “Já tem outros artigos sobre dor em jumentos, mas este é o primeiro etograma sobre dor pós-operatória nesses animais”, esclarece Stelio.

Segundo os autores, o estudo confirma a hipótese de que os jumentos têm um comportamento específico de dor. Isso deve ser considerado, já que a avaliação da dor nesses animais frequentemente é baseada no que se conhece sobre os comportamentos dos cavalos, que são mais evidentes. “Práticas empregadas para equinos são muitas vezes adotadas para os jumentos, principalmente para diagnóstico e tratamento da dor, o que é um erro, dada a diferença entre as espécies”, comenta Valéria Veras de Paula, docente na Universidade Federal Rural do Semi-árido e autora do trabalho. Assim, mesmo que um jumento não esteja expressando comportamentos que indicam dor em equinos, ele pode estar sofrendo.

Os resultados do estudo são importantes para questões relacionadas à qualidade de vida desses animais, que também são de produção. “Jumentos são frequentemente esquecidos. Assim, nossos resultados têm um apelo importante para o bem-estar desses animais”, comenta Stelio. A demonstração de que jumentos sentem e expressam dor aguda é o primeiro passo para avaliá-la e tratá-la adequadamente visando uma melhor qualidade de vida para esses animais. “A partir deste estudo, estamos agora desenvolvendo e validando uma escala confiável para avaliação de dor em jumentos”, finaliza Valéria.

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