Pesquisa da FCA/Unesp de Botucatu resulta em melhoramento de grãos de amendoim

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Pesquisa da FCA/Unesp de Botucatu resulta em melhoramento de grãos de amendoim 14 outubro 2023

Estado de SP responde por mais de 90% da produção nacional de amendoim

Rodrigo de Oliveira Andrade – Jornal da Unesp

Uma dupla de pesquisadores da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista (FCA-Unesp), campus de Botucatu, em colaboração com técnicos da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Copercana), em Sertãozinho, desenvolveu uma estratégia para aprimorar a qualidade das sementes de amendoim tropical (Arachis hypogaea L.) e aumentar seu percentual de germinação e capacidade de estabelecer plântulas mais vigorosas, resultando em maior produtividade no campo. A estratégia consiste em uma tabela com as fases de maturação das sementes, com orientações para que o produtor possa colhê-las no momento certo.

A produção brasileira de amendoim saltou de 346,8 mil toneladas na safra 2014/15 para 746,7 mil toneladas em 2021/22, gerando uma receita de quase R$ 3 bilhões, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O estado de São Paulo responde por 92,8% dessa produção, com uma safra estimada em 692,7 mil toneladas. Aproximadamente 70% da produção brasileira é destinada ao mercado internacional, sobretudo para Austrália, Países Baixos, Polônia e Itália. Outros compradores são África do Sul, Colômbia, México, Reino Unido, Rússia e Ucrânia. Nos últimos anos, a China também passou a demonstrar interesse pelo amendoim brasileiro.

O crescimento da produção brasileira também está ligado ao uso dessa leguminosa em áreas de renovação do solo para a produção de cana-de-açúcar. O uso contínuo do solo no ciclo de produção de cana provoca degradação física, química e biológica do substrato, ocasionando queda de produtividade e propiciando condições favoráveis para o surgimento de doenças, pragas e plantas daninhas. 

Já o cultivo de amendoim contribui para a conservação e recuperação do solo, elevando a produtividade dos canaviais. Isso porque a planta é rica em nitrogênio e em outros nutrientes. A leguminosa também ajuda a evitar a erosão do solo em períodos de chuvas mais volumosas, uma vez que possui um sistema radicular bem desenvolvido, e contribui para reduzir, nas áreas de plantio, a infestação de nematoides, vermes que podem provocar perdas de até 50% da produtividade dos canaviais.

Campo de produção de sementes da Copercana, em Sertãozinho, SP

As sementes de amendoim se formam dentro de vagens (cascas) na raiz da planta. Mas, diferentemente de outras espécies de importância econômica, isso acontece em diferentes momentos ao longo do desenvolvimento da leguminosa. “A parte visível da planta nem sempre indica o melhor momento para a colheita”, explica o engenheiro agrônomo Gustavo Roberto Fonseca de Oliveira, doutorando no Programa de Pós-graduação em Agronomia e Agricultura da FCA-Unesp, um dos responsáveis pela nova tabela. “As plantas podem produzir flores e gerar vagens, mas suas sementes não necessariamente estão maduras o suficiente. Ao serem colhidas, é preciso que elas apresentem a qualidade necessária para resistirem ao período de armazenamento, serem replantadas e gerarem plântulas vigorosas.”

Muitas vezes, a colheita é feita antes que as sementes estejam completamente maduras. Isso pode resultar em lotes com maior número de sementes imaturas, portanto com baixa qualidade fisiológica e sanitária. Estas sementes, quando armazenadas, podem perder vigor mais rapidamente, deteriorar mais facilmente e ficar mais vulneráveis a infecções por fungos e outros patógenos. E, quando lançadas no campo, muitas vezes têm menos chance de vingar.

Para evitar esse problema, alguns produtores optam por atrasar a colheita. Mas isso também pode afetar a produtividade, uma vez que as plantas começam a morrer no campo e suas vagens não apresentam resistência suficiente para serem arrancadas do solo pelas máquinas colhedoras. Neste caso, elas se desprendem da planta e ficam no solo. “Somente as vagens presas às plantas são retiradas do campo”, diz Oliveira. “O que fica no dentro da terra ou na superfície é perdido.”

Para determinar o melhor momento de colheita, o produtor precisa ir a campo constantemente ao longo do ciclo de produção da variedade — que pode durar de 90 a 150 dias — e recolher algumas plantas em diferentes pontos da lavoura para avaliar o grau de maturação das sementes com base na cor da casca. O arranquio das plantas é realizado quando aproximadamente 70% das vagens estão maduras.

Sob orientação do engenheiro agrônomo Edvaldo Aparecido Amaral da Silva, Oliveira analisou centenas de sementes de amendoim em diferentes estágios de maturação para desenvolver um sistema no qual pudesserelacionar a morfologia da vagem com a qualidade fisiológica das sementes. Os pesquisadores realizaram uma série de experimentos em campo ao longo de dois ciclos de produção. Colheram amostras de sementes em diferentes estágios de desenvolvimento e avaliaram seu grau de maturação e qualidade fisiológica tendo como base a coloração do mesocarpo, a camada entre a casca e as sementes.

Edvaldo Aparecido Amaral da Silva e Gustavo Roberto Fonseca de Oliveira

As análises lhes permitiram verificar que as sementes adquiriam qualidade fisiológica durante seu desenvolvimento, com máximo entre 57 e 76 dias após o florescimento na fase tardia de maturação, conforme descreveram em artigo publicado na revista Plos One. Esse período final representa cerca de 25% do desenvolvimento, considerado o melhor momento para colher sementes de amendoim com maior qualidade.

Com base nesses dados, os pesquisadores criaram uma tabela inédita baseada nas condições tropicais do país. “A tabela de maturação de sementes de amendoim usada pelos agricultores brasileiros foi produzida há quase quatro décadas por cientistas norte-americanos, de modo que se baseia não apenas em informações desatualizadas como também em ambientes de clima temperado”, afirma Oliveira. “Pela primeira vez temos à disposição um material voltado às nossas condições climáticas e com foco na qualidade de sementes, essencial para a formação de uma nova lavoura.”

A tabela desenvolvida por Oliveira e Silva baseia-se em vagens em cinco estádios de maturação, cada um com uma cor específica (ver tabela): R5 (amarelo claro), R6 (amarelo escuro), R7 (amarelo marrom), R8 (marrom) e R9 (preto).

A tabela mostra a relação entre a evolução do grau de maturação das vagens de amendoim e a qualidade fisiológica das sementes.

Vagens com tonalidade amarelo claro indicam que as sementes em seu interior estão imaturas, isto é, mais úmidas, com menos proteínas, açúcares, lipídios, entre outras substâncias que se acumulam ao longo de seu desenvolvimento e que são fundamentais para que a semente adquira vigor e maior capacidade de germinação. “São grãos no início de seu desenvolvimento”, comenta Oliveira. A vagem adquire colocação mais escura à medida que suas sementes amadurecem. De acordo com o doutorando, o momento ideal para a colheita seria quando 70% das vagens atingem os estágios R7, R8 e R9, de coloração mais amarronzada e preta, sinal de máxima maturação das sementes. “Sementes maduras são mais saudáveis e capazes germinar e gerar novas plântulas com mais vigor e maior capacidade de produzir mais grãos.”

Os pesquisadores apresentaram e distribuíram cópias da tabela a produtores paulistas em evento promovido pela Copercana no início de setembro. A expectativa é a de que os agricultores a usem na próxima safra. “Só então teremos uma ideia do impacto da metodologia na produtividade das lavouras e nos rendimentos dos produtores”, diz Oliveira.

Oliveira agora pretende voltar sua pesquisa à investigação de novas formas de melhorar a qualidade das sementes. Durante seus estudos para a elaboração da tabela, ele e seu orientador perceberam que as sementes de baixa qualidade produziam níveis elevados de antocianina, um pigmento com propriedades antioxidantes que ajuda a proteger as plantas quando em períodos de estresse. “A ideia agora é entender a relação entre a produção desse pigmento e a qualidade das sementes”, afirma. “Se conseguirmos identificar os genes que regulam essa produção, talvez possamos trabalhar no melhoramento genético dessa planta, visando a produção de sementes com maior qualidade.”

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