Locutor mantém tradição de auto-falante popular

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Locutor mantém tradição de auto-falante popular 19 maio 2013

Fotos: Luiz Fernando

“A empresa funerária Coração de Jesus comunica: nota de falecimento. Faleceu hoje nesta Cidade esse locutor que vos fala. Meu féretro sairá do Complexo Funerário Orlando Panhozzi para o Cemitério Portal das Cruzes. Repetimos: ”Faleceu hoje nesta Cidade, eu, Wenceslau Pinto Filho. Meu féretro sairá…”

É dessa maneira que o locutor de auto falante volante popular, Wenceslau Pinto Filho, mais conhecido como Lau, ou Barba Azul, no PX (rádio amador) pretende anunciar sua própria morte para Botucatu e convidar seus amigos para comparecer em seu velório. Isso depois de fazer esse mesmo comunicado fúnebre de milhares de pessoas ao longo dos seus 60 anos de carreira e 70 de idade. Casado com Maria de Lurdes tem três filhas, seis netos e dois bisnetos.

É um dos poucos profissionais dessa área que ainda está em atividade no Brasil. Não existe uma só família de Botucatu que não tenha ouvido Lau passar anunciando a morte de um conhecido ou parente. Por esta razão é uma das pessoas mais conhecidas da Cidade, com sua inconfundível voz.

O anúncio é sempre feito no bairro onde a família mora. Por isso, toda vez que Lau passa as pessoas prestam atenção ao seu comunicado para saber quem faleceu. Encaixa no texto nome do falecido assim como os parentes mais próximos, local e hora do sepultamento. Isso também vale para o anúncio da missa do 7º dia.

“Iniciei nessa profissão aos dez anos de idade trabalhando com meu pai que me ensinou tudo que eu sei assim como ensinou locução a muitos profissionais que militaram e ainda militam no rádio botucatuense. Quando meu pai morreu em 1988, assumi o seu lugar e dei continuidade ao projeto. Apesar de toda modernidade atual, minha maneira de trabalhar continua bastante simples e gravo no quarto de minha casa em “tape deck”, O sistema é antigo, mas ainda funciona muito bem”, conta Lau Filho. “Para melhorar troquei meu Fiat 147, ano1885, por um Fiat modelo 1998”, gaba-se.

{n}Texto igual{/n}

Fazendo uma conta rápida, ele computa o registro de mais de 42 mil notas de falecimentos ao longo da carreira, sem alterar o texto. “Em média faço dois comunicados de falecimento por dia. Meu recorde é 11. E só mudo o nome da pessoa falecida. O texto é exatamente igual para todos, nas últimas décadas. “Vocês já imaginou se eu tivesse que fazer um texto novo para cada falecimento? O texto tem sempre o mesmo padrão e só é alterado os dados da pessoa falecida”, ressalta.

E todas as profissões existem barreiras e na do Lau Filho, embora seja bastante rara não foge a regra. “São minoria, mas existem aqueles que descriminam meu trabalho alegando que o processo está ultrapassado, mas pode acreditar: as pessoas param tudo que estão fazendo para saber quem morreu. E me sinto útil, mesmo usando um sistema que é o mais velho do mundo no setor”, frisa.

{n}Pagando mico{/n}

Embora seja cuidadoso nas gravações que faz, Lau já pagou “micos” na profissão. “Uma ocasião estava anunciando a morte de uma pessoa chamada Maria Aparecida. Quando passei em frente ? casa da família, uma moça me abordou e disse que eu estava anunciando a morte dela e, na verdade, quem tinha morrido era sua irmã Aparecida Maria. Parei o trabalho na hora e fui para minha casa fazer uma nova gravação”, lembra.

{n}Animais perdidos{/n}

Além das notas de falecimento Lau Filho também se diz uma especialista em encontrar animais perdidos. “Já localizei cães, gatos e aves diversas. Sempre consigo localizar os animais que escapam das casas, mas a grande maioria da divulgação são as notas de falecimento”, coloca. “Tenho imenso respeito pelos familiares das pessoas que morrem, mas pretendo continuar fazendo as notas de falecimento por muitos anos”, concluiu.

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