João Santini: um cidadão acima de qualquer suspeita

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João Santini: um cidadão acima de qualquer suspeita 18 março 2010

Se qualquer um fizesse uma pesquisa de opinião pública sobre as personalidades mais conhecidas e carismáticas de Botucatu, sem dúvida nenhuma, João Santini, ou João do Ipê, 56, como ficou conhecido, estaria entre elas. Por muitos anos foi proprietário do Restaurante Recanto do Ipê, local que era ponto de encontro de diferentes personalidades da cidade. Tudo que de importante acontecia ou iria acontecer na cidade, passava, necessariamente, pelo restaurante do João.

Em razão disso, é uma pessoa com muitas histórias para contar. A reportagem do Acontece o procurou em sua banca de jornais e revistas na Praça Coronel Moura – Paratodos, para que ele falasse um pouco de sua vida. Ele, gentilmente, atendeu a reportagem. Então, vamos deixar o João falar:

{n}Recanto do Ipê{/n}

“Fiquei no Recanto do Ipê, por 25 anos ininterruptos, e durante este tempo muita coisa aconteceu. Seria difícil aqui me lembrar de tudo. O que posso dizer? Foi uma época muito gostosa, onde eu recebia gente de todas as profissões e classes sociais. O restaurante era um ponto de encontro. Lá se discutia política, religião, esporte, saúde, enfim um pouco de tudo. Acho que o Ipê deu sua parcela de contribuição recebendo e promovendo reuniões com diferentes personalidades. Por lá passaram de vereadores a presidente da República”.

{n}Ditadura{/n}

“No seu início, o Ipê pegou a época da ditadura, onde a liberdade de expressão era muito vigiada. Muitas pessoas que lutaram pela democracia lá se reuniam. Nem por isso tive qualquer problema com o regime militar. Eu sabia que em determinado canto do restaurante estavam discutindo a ditadura, mas nunca me manifestei. Aliás, nunca tive problemas com ninguém, com nenhum partido político. E olha que sempre estive em meio a grandes encontros partidários. Eu sempre mantive uma postura de neutralidade, de discrição, dialogando com todas as correntes políticas partidárias. Dava minhas opiniões e sempre falava o que pensava, mas sem me intrometer. Eu entendo que cada um tem o direito de escolher o melhor caminho a seguir. Posso até não concordar com algumas atitudes, mas devo aceitar. E naquela época o Ipê patrocinava as reuniões da Câmara Municipal, que o Plinio (Paganini) divulgava ao vivo na programação da F-8 (rádio Emissora). Imagine, um restaurante patrocinando reuniões de vereadores no regime militar, o período mais negro da história política do Brasil, mas era assim”.

{n}PSDB{/n}

“Eu vi o PSDB nascer em Botucatu. Fui testemunha da reunião realizada no restaurante entre o Jamil Cury, o Mário Covas, o Fernando Henrique Cardoso e tantos outros políticos dissidentes do PMDB. Era uma noite muita fria do mês de junho. Eles jantaram no Ipê e foram para a AAB – (Associação Atlética Botucatuense). Naquela época o prefeito era o Joel Spadaro, que não quis participar desse projeto de lançar um novo partido. Os componentes do antigo PMDB estavam aventando a possibilidade de que outro partido fosse criado. Mas, a consolidação se deu aqui em Botucatu, na minha frente. Assisti o nascimento do PSDB. O Jamil me convidou para fazer parte, mas eu, educadamente, disse não”.

{n}Prefeitos{/n}

“Foram muitos que sempre passavam regularmente pelo restaurante. Começou com o Lico Silveira, passando pelo Jamil Cury, pelo Joel Spadaro, voltou para o Jamil, depois Pedro Losi e Ielo. De todos, com o que eu tive menos contato foi com o Ielo, mas é uma pessoa que respeito e admiro. Agora, de todos os prefeitos, o Jamil foi que mais frequentou o Ipê. Nos seus dois mandatos. Era lá que ele levava para almoçar todas as autoridades que visitavam Botucatu. Tive com o Jamil uma relação de muita proximidade. Era uma pessoa dura ? s vezes, até meio ditador, e não tinha papas na língua. Discutia de frente, olhando nos olhos e tinha um caráter irretocável. Tenho muitas histórias com o Jamil. Dava um livro”.

{n}Patrocínios{/n}

“Não gosto muito de falar sobre as pessoas que ajudei, mas foram muitas. Ajudei muita gente sim, de coração aberto, sem pensar em retorno. Patrocinei eventos culturais de todos os segmentos. No esporte, também sempre participava, sempre fui parceiro. Eu, por exemplo, era o patrocinador da equipe que foi bi-campeã estadual de vôlei da Associação Botucatuense, nos anos 90. O técnico da equipe era o Carlão Bonaldo, que hoje é o presidente do clube. Veja como o mundo dá voltas”.

{n}Empresas{/n}

“O Ipê funcionou em uma época em que Botucatu estava se projetando para ser uma cidade industrial e era ponto de passagem dos empresários que aqui queriam se estabelecer. Poderia citar muitas reuniões com diretores de empresas como a Caio, a Eucatex, Hidroplás, Staroup, entre outras. Também tive convênio com executivos da Duratex quando a empresa passou a contar com duas e depois três linhas de produção. Na Eucatex, por exemplo, a gente levava almoço para os trabalhadores em alojamentos de terra de chão batido. Pegamos todo esse processo de desenvolvimento industrial da cidade”.

{n}Saudades{/n}

“Se eu disser que não sinto falta daquilo estaria mentindo. De tudo o que eu mais sinto saudade, são as reuniões familiares que a gente fazia, em datas festivas como Dia das Mães, Dia dos Pais, Páscoa, Ano Novo ou Natal. Sem falar em aniversários, casamentos ou festas de confraternização que gente fazia. O ambiente era muito gostoso. Isso me faz falta. Isso me dá muitas saudades. Hoje ainda recebo alguns amigos que vem até minha banca para bater um papo. Mas, não tem aquele calor, aquela agitação. Estamos tranqüilos, graças a Deus, trabalhando em uma atividade que eu já conhecia. Vamos levando a vida com saúde”.

Foto: Fernando Ribeiro

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