Incêndios, náufragos, tesouro perdido e ciência brasileira: veja curiosidades da Ilha das Cobras, no litoral sul de SP

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Incêndios, náufragos, tesouro perdido e ciência brasileira: veja curiosidades da Ilha das Cobras, no litoral sul de SP 20 julho 2025

Além da jararaca-ilhoa, Queimada Grande abriga espécies únicas e já recebeu expedição de cientistas de Botucatu; mar da região tem o recife de coral mais ao sul do Oceano Atlântico

Muito mais do que um simples ponto no horizonte, a Ilha da Queimada Grande – ou “Ilha das Cobras” – é uma joia rara da biodiversidade brasileira. Spoiler: tem serpente endêmica, lenda de tesouro escondido, naufrágios históricos, coral raro e até expedição científica feita por pesquisadores de Botucatu.

A seguir, sete fatos curiosos sobre esse local que é considerado um dos mais perigosos do mundo – e lar da famosa jararaca-ilhoa.

1. Ela não é bem a “única” Ilha das Cobras

Popularmente chamada de Ilha das Cobras, a Queimada Grande está entre Peruíbe e Itanhaém, a 35 km da costa paulista. É uma Unidade de Conservação Federal sob responsabilidade do Instituto Chico Mendes (ICMBio), e só pode ser visitada com autorização especial.

É a segunda ilha do mundo com maior concentração de serpentes por metro quadrado e abriga a Bothrops insularis, a jararaca-ilhoa – exclusiva dali.

Ah, e vale lembrar: existe também uma Ilha das Cobras no Rio de Janeiro, na Baía da Guanabara. Mas a paulista ganhou o apelido por causa da fama assustadora.

2. A “queimada grande” aconteceu de verdade

O nome da ilha não é à toa. No passado, moradores e pescadores costumavam colocar fogo na vegetação para afastar as cobras. Às vezes, as queimadas eram tão grandes que podiam ser vistas do continente.

3. A jararaca-ilhoa e a teoria da evolução

A Bothrops insularis tem corpo mais fino, cauda mais longa e cabeça maior – adaptações que ajudam na caça de pássaros, sua principal fonte de alimento. Ela provavelmente evoluiu de uma jararaca comum isolada na ilha após o fim da Era do Gelo, há cerca de 11 mil anos, como prevê a teoria de Darwin.

4. Nem só de serpente vive a ilha

Além da jararaca-ilhoa, a ilha abriga o sapinho Scinax peixotoi, exclusivo dali, além de barata silvestre, gafanhoto-azul e o atobá-pardo. Tem também a dormideira, uma cobra mais discreta e inofensiva.

5. Barreira de coral no limite sul do Atlântico

Pesquisadores encontraram um recife de coral de 75 mil m² a 12 metros de profundidade nas águas da Queimada Grande. É o recife mais ao sul do Oceano Atlântico, formado por um único tipo de coral, o Madracis decactis – algo bem incomum.

6. Naufrágios e sobreviventes

Três navios históricos naufragaram na região: o Rio Negro (1893), o Tocantins (1933) e o Araponga (1943). Em 2019, um barco com seis pescadores virou durante uma tempestade. Quatro deles conseguiram nadar até a ilha e sobreviveram três dias comendo bananas verdes e bebendo água da chuva, até serem resgatados.

7. Tesouro perdido? Tem lenda também

Corre a história de que um explorador europeu teria escondido um tesouro na ilha há mais de 500 anos, e que as serpentes foram “plantadas” lá para proteger a riqueza. Se é verdade? Ninguém sabe. Mas o fato é que a jararaca-ilhoa virou alvo de biopiratas, o que hoje ameaça sua sobrevivência.

+ Expedição do CEVAP de Botucatu revela nova descoberta

Em março de 2015, a Ilha da Queimada Grande recebeu uma expedição liderada pelo professor Rui Seabra Ferreira Jr, coordenador executivo do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (CEVAP), da Unesp de Botucatu. O objetivo foi dar suporte à gravação de um documentário do canal Discovery Channel.

A equipe contou com biólogos, técnicos de filmagem e o herpetólogo australiano Bryan Grieg Fry. Três serpentes foram capturadas com autorização do ICMBio e levadas ao serpentário do CEVAP para estudos. A missão também incluiu uma descoberta inédita: uma caverna com água doce escorrendo do teto – algo até então desconhecido na ilha.

“Foi uma surpresa. Acreditava-se que não existia fonte de água doce por lá. Essa descoberta abre novas possibilidades de estudo sobre o ecossistema da ilha”, explicou Rui Seabra.

As serpentes observadas durante a missão foram encontradas até a cinco metros de altura, entre os galhos – mostrando toda a adaptabilidade da jararaca-ilhoa, que se alimenta exclusivamente de aves.

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