
Em resultado preliminar, projeto coordenado pelo prof. Willian Zambuzzi capta R$13 mi e destaca Botucatu na pesquisa de tratamentos para diabetes, obesidade e osteoporose.

Acidade de Botucatu sediará um dos mais novos e promissores polos de ciência e inovação biomédica do Brasil: o INCT-BIOCRON – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biologia Óssea e Controle de Doenças Crônicas.
A proposta foi idealizada pelo professor Willian Zambuzzi, docente do Departamento de Química e Bioquímica do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu, e com aprovação preliminar em chamada pública do CNPq (chamada 46/2024). A chamada previa propostas com investimento até R$ 15 milhões e resultado final está previsto para ser publicado até dia 30 de junho de 2025.
Um novo olhar sobre o tecido ósseo
Com foco nas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) – como diabetes tipo 2, obesidade e osteoporose – o centro parte de uma abordagem inovadora: estudar o papel funcional e endócrino do osso.
“O osso deixa de ser visto apenas como estrutura anatômica e passa a ser reconhecido como um órgão funcional, capaz de exercer influência sistêmica sobre processos como o metabolismo da glicose, câncer, alzheimer e fertilidade”, explica Zambuzzi.
Um dos principais alvos de investigação será a osteocalcina, proteína produzida pelos osteoblastos e ativadas por osteoclastos durante o metabolismo do osso – trata-se de uma molécula atualmente reconhecida como hormônio ósseo que, segundo estudos recentes, desempenha papel no metabolismo de células beta das ilhotas de Langerhans e que modula eventos celulares através do controle fisiológico do metabolismo da glicose – um dos principais desafios no tratamento do diabetes.
“Cada vez mais, com os avanços biotecnológicos e novos achados científicos, notamos que a instalação de doenças parte de uma etiologia multi-tecidual e com ação imediata de atividades paracrinas e endócrinas entre células”, explica o professor.
Colaborações nacionais e internacionais fortalecem a proposta
O INCT-BIOCRON é fruto de mais de duas décadas de colaborações científicas nacionais e internacionais. Uma das parcerias estratégicas é com o pesquisador Sérgio Bertazzo, da University College London (UCL), especialista em mineralômica. Dr Bertazzo é vice-coordenador da proposta e alinha suas especialidades de análise físico-química e estrutural de tecidos mineralizados com a expertise em biologia do grupo Brasileiro – essa combinação permite investigar calcificações relacionadas a doenças como Alzheimer, câncer e enfermidades cardiovasculares – calcificações ectópicas e patológicas que recapitulam eventos moleculares alinhados à osteogênese
Zambuzzi destaca que essa aproximação internacional dá robustez ao projeto e amplia seu escopo: “As nossas pesquisas são complementares. Essa união nos permite responder a questões mais amplas e ousadas, além de propor continuidade translacional através de propostas terapêuticas realmente aplicáveis à vida das pessoas”.
Da bancada ao tratamento: foco na ciência translacional
Mais do que compreender mecanismos biológicos, o INCT-BIOCRON busca transformar conhecimento em soluções práticas. A proposta ousada é desenvolver produtos biomiméticos – como anticorpos, peptídeos e biomateriais avançados – capazes de atuar na regeneração óssea e no controle metabólico de doenças associadas. “Nosso compromisso é fazer a ciência sair da bancada e acelerar ao alcance quem mais precisa: a população”, afirma o pesquisador. O projeto também prevê a produção de biomateriais avançados, inspirados na natureza, para acelerar processos de regeneração óssea em casos como fraturas e implantes, com impacto direto na qualidade de vida e no tempo de recuperação dos pacientes.
Trata-se de um novo modelo de pesquisa, cada vez mais complementar, e com protagonismo da experiência de cada um dos pesquisadores associados à proposta – “Tivemos muito apoio, muitos pesquisadores da UNESP, de diferentes unidades universitárias, além de colegas de outras instituições públicas federais – como UFSCar e FIOCRUZ – São 15 instituições brasileiras e 9 internacionais.”, complementa Zambuzzi
Infraestrutura em rede e protagonismo do interior paulista
Com 15 instituições brasileiras e nove internacionais envolvidas, o centro funcionará em rede, com estrutura coordenada a partir da Unesp de Botucatu, no IBB. A proposta inclui desde a formação de recursos humanos até a compra de equipamentos multiusuários, que também estarão disponíveis para outras linhas de pesquisa.
“É importante lembrar que o INCT é do Brasil. Ele não pertence apenas ao nosso laboratório, nem ao IBB ou à Unesp. É um patrimônio científico nacional, que visa propor projetos integrados e com estrutura física hospedada no interior do Estado de São Paulo”, enfatiza Zambuzzi. A iniciativa promove a descentralização da ciência, consolidando Botucatu como um polo de referência em pesquisa de ponta, mesmo fora dos grandes centros urbanos – como São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto, e às margens de importantes rodovias no nosso estado como a Marechal Cândido Rondon e Castelo Branco
Impacto científico, social e econômico
Além dos avanços na saúde pública, o projeto visa contribuir para a soberania científica e tecnológica do país, buscando investir recursos provenientes de políticas públicas de fomento à pesquisa. Com o desenvolvimento de terapias e produtos genuinamente brasileiros, a expectativa é que o INCT-BIOCRON gere propriedade intelectual que fortaleça o setor de biotecnologia nacional, impulsione a inovação em saúde e promova a criação de startups, empregos qualificados e parcerias com a indústria. Trata-se de uma iniciativa que não apenas amplia o conhecimento científico, mas também gera impacto direto na economia e na qualidade de vida da população brasileira. “É uma honra, um privilégio e também um grande desafio reunir tantas pessoas talentosas em torno de um tema com potencial real de transformar vidas. É uma pesquisa feita com dedicação, nascida no interior, pertinho das cachoeiras e da Cuesta, com o sotaque caipira e de quem acredita na ciência que transforma e busca contribuir diretamente com a vida da população,” finaliza o professor Willian Zambuzzi.
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