O N2O é um potente gás de efeito estufa (300 vezes mais forte que o CO2) e que favorece as mudanças climáticas.
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) e o Hospital Estadual Botucatu (HEBo), a partir desta segunda-feira, 1º de julho, deixam de usar o gás anestésico óxido nitroso (N2O) nas salas cirúrgicas e em outros locais do Hospital, aumentando a segurança de pacientes, profissionais de saúde, e promovendo a sustentabilidade. O N2O é um potente gás de efeito estufa (300 vezes mais forte que o CO2) e que favorece as mudanças climáticas.
Esta iniciativa faz parte do Desafio “A Saúde pelo Clima”, uma campanha internacional coordenada pela Rede Global Hospitais Verdes e Saudáveis, que visa mobilizar organizações de saúde a tomar medidas contra as mudanças climáticas e em defesa da saúde pública ambiental. O HCFMB aderiu a este desafio em 2015, por meio do trabalho do Núcleo de Hospitais Sustentáveis.
A indicação de eliminar o N2O foi tomada no final do ano passado, durante reunião da Comissão de Gases de Efeito Estufa (CGEE) do HCFMB, em parceria com a Divisão de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB | Unesp) e com o Núcleo de Manutenção do Hospital.
O uso de N2O no HCFMB começou na década de 1970, com o início das anestesias gerais. O desenvolvimento de novos anestésicos, a preocupação ambiental, a segurança do paciente e a saúde dos profissionais impulsionaram a redução do uso deste gás nos últimos anos. Adicionalmente, a retirada deste gás também diminuirá os custos do HCFMB.
“Devido às suas propriedades farmacológicas, o N2O é pouco potente como analgésico e precisa ser usado com outros anestésicos. Portanto, recomendamos fármacos mais modernos que trazem mais segurança”, explica Leandro Gobbo Braz, chefe do Serviço de Anestesiologia do HCFMB.
Pesquisas realizadas pelo grupo de pesquisa coordenado pelos professores Leandro e Mariana Gobbo Braz, do Programa de Pós-Graduação em Anestesiologia da FMB | Unesp, mostraram que, com o uso de detector por infravermelho em tempo real, foram observados níveis de N2O de até 150 partes por milhão, seis vezes acima dos limites internacionais recomendados, impactando na saúde dos profissionais da saúde que são expostos ocupacionalmente aos anestésicos, como anestesiologistas, cirurgiões, enfermeiros e técnicos de Enfermagem.
Karina Pavão, médica e coordenadora do Núcleo de Hospitais Sustentáveis (NHS), aponta que a retirada do N2O beneficia os profissionais e o meio ambiente.
“Sendo um gás inodoro, ele chegava ao centro cirúrgico por tubulação e necessitava de válvula para redução de pressão. Condições inadequadas geravam altos níveis de poluição/contaminação do N2O no ambiente de trabalho, com efeitos tóxicos nos profissionais expostos. Além disso, especialistas internacionais recomendam a diminuição do uso do N2O pelos seus efeitos ambientais que contribuem para o aquecimento global”.
Uso do N2O diminuiu ao longo dos anos no HCFMB
Desde 2013, através do NHS, o HCFMB participa da Rede Global de Saúde Sem Dano, promovendo ações mais sustentáveis e conscientizando os servidores. Em 2015, a equipe começou a medir os GEE emitidos, participando de um desafio global para reduzir a emissão até 2020.
Com a instalação da CGEE em 2019, houve um esforço contínuo para medir o óxido nitroso nas salas cirúrgicas e melhorar as válvulas redutoras de N2O. A partir desses esforços, a emissão clínica de N2O caiu 44% em 2019, em comparação a 2015, e 53% em 2020. Entre 2018 e 2019, os gastos com N2O diminuíram 35,6%, gerando uma economia de mais de R$ 335 mil até o ano passado.
Os médicos enfatizam o apoio dos gestores nesta medida, que está de acordo com as Sociedades Internacionais de Anestesiologia que têm recomendado a diminuição ou mesmo o não uso de N2O devido, especialmente, aos seus efeitos ambientais. “Os gases de efeito estufa são fatores principais para agravamento das mudanças climáticas, uma das grandes ameaças à saúde pública. Com a retirada total do N2O, o HCFMB contribui para a saúde dos profissionais e do planeta”, concluem Karina e Leandro.
Fonte: Jornal HCFMB
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