O estudo está sendo produzido pela pós-doutoranda Bárbara Campos Jorge, sob supervisão da Dra. Arielle Cristina Arena
Desde 2017, um estudo do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu, IBB, investiga os impactos na saúde reprodutiva do benzopireno (BaP), uma substância que está presente na fumaça do cigarro, de escapamentos automotivos, da queima de madeira e em carnes excessivamente grelhadas na brasa ou defumadas.
O estudo está sendo produzido pela pós-doutoranda Bárbara Campos Jorge, sob supervisão da Dra. Arielle Cristina Arena, com apoio da FAPESP.
A população está exposta ao BaP através de alimentos, água e ar. Essas substâncias são capazes de se acumular no corpo e resultar em diversos efeitos adversos, em especial alterações reprodutivas. Crianças e adolescentes, que estão em estágios críticos do desenvolvimento e mais suscetíveis a interferências de compostos exógenos, podem ser muito afetados pela exposição a compostos como o BaP.
O grupo publicou 6 artigos sobre os efeitos deste composto em importantes revistas científicas de circulação internacional na área de toxicologia ambiental e mais 2 trabalhos estão em fase de submissão para publicação.
“Esses estudos têm demonstrado que o BaP é um desregulador endócrino. Isso significa que ele tem a capacidade de interferir no sistema endócrino, o qual é responsável por regular uma série de processos fisiológicos cruciais para o funcionamento saudável do organismo. É Importante destacar que as doses utilizadas nestes estudos são extremamente baixas e mimetizam aquelas encontradas no ambiente”, afirmou a Dra. Arielle Cristina Arena.
O grupo de estudo mostrou ratos machos expostos ao BaP, durante a fase de infância e adolescência, que apresentam alterações na fertilidade e na produção hormonal na vida adulta. Além disso, foi acompanhado o desenvolvimento dos filhos e netos desses machos expostos e observadas alterações reprodutivas importantes na descendência. Esses dados mostram que a exposição ao BaP não só acarreta em alterações reprodutivas no indivíduo exposto diretamente, mas provoca modificações permanentes em seus espermatozoides, afetando as gerações subsequentes.
O próximo passo da pesquisa é buscar compreender os mecanismos pelos quais o BaP provoca essas alterações, especialmente no contexto transgeracional.
Tradicionalmente, a pesquisa que investiga o aparecimento de doenças crônicas na prole tem se concentrado apenas na herança materna. No entanto, os dados obtidos a partir dos estudos com o BaP contribuem para reforçar o papel dos pais na saúde de seus filhos. Esse aspecto ainda é um tópico pouco explorado na comunidade científica. Isso significa que a influência e os potenciais efeitos sobre a saúde da descendência não estão restritos apenas à herança materna, mas também incluem a contribuição paterna. Portanto, é importante considerar o papel tanto do pai quanto da mãe no que diz respeito à saúde e bem-estar das gerações futuras.
“Esse estudo pretende alertar a população sobre os riscos da exposição a esses poluentes ambientais. A observação de que crianças e adolescentes, devido à fase crítica de desenvolvimento em que se encontram, são especialmente suscetíveis aos efeitos dessas substâncias exógenas, destaca a necessidade de proteger essa faixa etária e implementar medidas de prevenção. Além disso, a menção aos efeitos nas gerações futuras ressalta a preocupação com a transmissão desses efeitos para descendentes”, citou a supervisora do estudo.
Os artigos publicados na íntegra podem ser conferidos em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/?term=arena+ac+and+benzo%28a%29pyrene
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