Fotógrafa de Botucatu viaja mais de 10 mil quilômetros para registrar as 34 unidades da Unesp 

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Fotógrafa de Botucatu viaja mais de 10 mil quilômetros para registrar as 34 unidades da Unesp  15 dezembro 2023

Em nome da memória unespiana: fotógrafa Eliete Soares visitou 24 cidades em buscas de roteiros especiais na história da Universidade

Por: Fábio Mazzitelli – Site Unesp

Fotos: arquivo pessoal Eliete Soares

A história da Unesp pode ser contada de diversas maneiras, a depender da subjetividade de quem a observa e do aspecto que se deseja realçar dentro de sua reconhecida multiplicidade. Responsável por zelar pela imagem da instituição e atenta à urgência de se preservar as memórias que a constituem, a Assessoria de Comunicação e Imprensa (ACI) coordena um projeto de memórias fotográficas que dará à comunidade interna e ao público externo acesso a um arquivo digital organizado que permitirá conhecer melhor a história unespiana.

O projeto começou em meados do ano passado a partir de duas frentes bem definidas. A primeira, iniciada em junho de 2022, teve como objetivo olhar para o presente da Universidade, os seus 24 câmpus consolidados, buscando uma certa unidade. O plano era fotografar todas as unidades universitárias de maneira que estudantes, professores, funcionários, egressos e as demais pessoas que fazem ou já fizeram uso da estrutura unespiana reconhecessem aquele espaço.

De junho de 2022 a agosto de 2023, a fotógrafa profissional Eliete Soares viajou cerca de 10 mil quilômetros pelas rodovias paulistas e visitou 24 cidades para fotografar as 34 unidades universitárias seguindo um roteiro que englobou das fachadas de faculdades ou institutos aos jardins que o cercavam, das bibliotecas às moradias estudantis, dos restaurantes universitários aos refúgios afetivos dos câmpus. Tudo registrado pelas lentes de quem também foi servidora técnico-administrativa da Unesp por 32 anos, no câmpus de Botucatu.

“Eu me aposentei em 2019, e tenho um amor muito grande pela universidade. As viagens foram uma coisa fantástica, um presente”, diz, emocionada.

Eliete Soares visitou os câmpus, e alguns pontos conhecidos das cidades que os abrigam, sempre acompanhada de um funcionário local. Conheceu recantos na Universidade que nem sonhava existir e perdeu as contas de quantos cliques fez. Para o projeto, foram selecionadas cerca de 6.000 fotos, todas enviadas para o o Laboratório de Gestão Documental da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) do câmpus de Marília, parceiro da ACI neste projeto. 

“Fui bem recebida por onde passei, os funcionários me deram dicas valiosas. Tínhamos um objetivo, que era seguir um roteiro básico e mostrar a diversidade de cada câmpus. Penso que ultrapassamos este objetivo. Eu me surpreendi com a estrutura e passei a valorizar muito mais a universidade”, afirma a fotógrafa, que teve de visitar alguns câmpus mais de uma vez por motivos circunstanciais ou por simplesmente não conseguir concluir o trabalho no tempo previsto inicialmente para determinada viagem.

De acordo com Martha Martins de Morais, coordenadora de projetos da Assessoria de Comunicação e Imprensa (ACI), o trabalho de fotografar as 34 unidades universitárias surgiu da percepção de que, no acervo da Universidade, não havia homogeneidade nem padrão dos registros fotográficos. As diferenças tanto na quantidade quanto na qualidade das fotos de arquivo, algumas inclusive sem o autor creditado, ajudaram a construir a pauta.

“Agora temos registros das fachadas, das bibliotecas, das moradias, dos restaurantes universitários, de algo que represente os cursos, da vida social e das peculiaridades dos câmpus e das cidades. Tudo feito com o olhar da mesma pessoa”, diz Martha Morais.

O acervo fotográfico produzido por Eliete Soares estará disponível à toda comunidade universitária neste mês de dezembro, por meio do Arquivo Digital Unesp. Antes, passaram pelo laboratório da FFC coordenado pela professora Telma Campanha de Carvalho Madio, docente que leciona disciplinas que, entre outros eixos temáticos, discorrem sobre gêneros documentais e fotografias sob a proposta da arquivologia, dentro da ciência da informação. 

“O importante no trabalho da Eliete foi pegar o mesmo de todos os câmpus. A pauta nos possibilitou isso”, afirma a professora.

Em busca da memória quase perdida

Outra frente deste projeto de memórias fotográficas em curso na Unesp é de natureza analógica e diz respeito à recuperação, organização e digitalização do acervo de fotos da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Universidade. Tais registros nasceram em meados dos anos 1980, junto com o lançamento do Jornal da Unesp, nos primórdios da ACI, e ilustraram notícias institucionais de gestão, ensino, pesquisa e extensão universitária.

As fotos da ACI ficaram arquivadas na capital paulista até o final dos anos 2000. A possibilidade de descarte do material fotográfico sem avaliação prévia mobilizou a professora Telma Madio a ficar com a guarda do arquivo da ACI, transferido para Marília há mais de dez anos, no início da década passada.

“Isso foi um descalabro, na minha opinião. Mas não é só na Unesp. Em quase todas as instituições, as fotografia não são devidamente organizadas”, diz a coordenadora do projeto e vice-coordenadora do Laboratório de Gestão Documental da FFC-Unesp. “É um acervo riquíssimo da história da Universidade. Isso deveria ter sido tratado há muito mais tempo e estar disponível para a comunidade”, afirma.

Telma Madio afirma que, apesar de acenos pontuais em alguns momentos, somente na gestão atual houve apoio e condições para retomar o processo de organização do acervo de fotos da ACI. Cinco bolsistas e um aluno de pós-graduação estão envolvidos no trabalho, além de integrantes da assessoria que se reúnem periodicamente com o grupo.”

“A Unesp tem que sentir que existe uma urgência em tratar este tema. A cada gestão ou a cada ano que se passa o dano é maior. Você vai perder informações da nossa história. Temos que saber disso e tomar atitude”, afirma o professor José Paes de Almeida Nogueira Pinto, assessor da ACI.

As fotos do acervo da ACI estavam todas reunidas em pastas empilhadas dentro de dois armários grandes levados para o laboratório da FFC. Acondicionadas em materiais inadequados, alguns cromos estavam acidificando, descolando. O trabalho de higienização, que faz parte da recuperação, é artesanal e inclui o uso de luvas, álcool isopropílico (o mesmo usado para eletrônicos), soprador para tirar o pó, pincel e juba (um tipo uma escova).

Em agosto de 2022, começou a pesquisa e a seleção do material arquivado, simultaneamente ao trabalho de higienização das fotos. Foi assim que Vinicius Gustavo Franco, aluno do terceiro ano de arquivologia e bolsista do projeto, reavivou uma foto de gêmeos siameses unidos pelo abdômen que passaram por cirurgia capitaneada por docentes da Unesp no Hospital das Clínicas de Botucatu. 

“Na hora que descobri que naqueles dois armários tinha fotografia parada, falei ‘não tem nada para a gente fazer?’. Começamos como voluntários”, lembra Vinicius. “Tem muito potencial para pesquisa aqui. Se algum aluno de Bauru ou Presidente Prudente quiser pesquisar como mudou a arquitetura dos câmpus, por exemplo, dá para acompanhar através das fotografias. Acredito que indo para o digital, e não estando só no físico, expandem as possibilidades de pesquisa. Está sendo bastante importante para nós essa parceria”, diz.

Coordenado pela professora Telma Madio, o trabalho de tratamento do acervo fotográfico analógico da ACI só deve terminar no segundo semestre de 2024, com a abertura de todas as caixas e pastas com material fotográfico, as respectivas seleções para digitalização ou descarte e identificação com número e etiqueta, e o reacondicionamento. O grupo criou até uma classificação própria para este trabalho, de acordo com a documentação que havia. As fotos estão sendo categorizadas segundo o tipo de suporte (fotografia ampliada, negativo, cromo, slide etc) e com o gênero (paisagem, arquitetura, social, científica, natureza etc).

“Tínhamos que pensar o tipo de fotografia que tinha na ACI. A ACI não vai fazer uma fotografia publicitária, por exemplo. Fomos montando essa classificação para tentar abarcar todas as imagens que trabalhamos no primeiro momento. Não saiu da nossa cabeça, há muito teoria embasando o nosso trabalho.. Lemos muita teoria de fotografia para montá-la”, diz a docente.

A dinâmica da descrição das fotos é feita por série, de maneira a agilizar o trabalho. Para efetuar a descrição, existem 28 colunas com campos básicos para serem preenchidos, como por exemplo o crédito a ser dado à fotografia. A digitalização deste material requer um cuidado extra, que é informar a natureza analógica do objeto. Ou seja, o que está indo para o arquivo online é o representante digital do documento analógico, diferentemente das fotografias recém-concluídas dos 24 câmpus universitários da Unesp, que são documentos natos digitais. Todas as memórias fotográficas deste projeto ficarão disponíveis para acesso da comunidade universitária na plataforma digital Atom Access Memory. 

“A importância da organização do arquivo não está apenas em você facilitar o acesso para atender à comunidade, mas também nas propostas que podem sair de um arquivo organizado, que pode ser o ponto de partida para se propor coisas que as pessoas não sabem ou não lembravam sobre a universidade”, diz Martha Martins de Morais.

Fonte: Site Unesp

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