Férias dobram acidentes domésticos, fique atento aos riscos

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Férias dobram acidentes domésticos, fique atento aos riscos 30 junho 2019

Fotos: JCNet

Com a chegada das férias, a atenção dos pais com as crianças precisa ser redobrada, já que, nesta época, os acidentes domésticos tendem a dobrar. A constatação é feita por especialistas da Saúde de Bauru que lidam diretamente com estas ocorrências.

E eles são categóricos: como as crianças ficam mais em casa, com tempo ocioso, mais vulneráveis elas se tornam às armadilhas que uma casa pode esconder.

Coordenador do projeto Samuzinho, promovido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para prestar orientação sobre saúde e cidadania a crianças e adolescentes, o enfermeiro Thiago Alavarce destaca que o ambiente mais perigoso para as crianças é a cozinha, onde estão objetos cortantes, como facas e objetos de vidro, como copos, que podem quebrar, além do fogão.

“O segundo lugar é o quintal, onde a criança costuma brincar bastante, podendo se acidentar com animais peçonhentos, como escorpiões, e se ferir com galhos, cacos de vidro ou pregos”, acrescenta ele, que é profissional pós-graduado em Neuropedagogia.

De acordo com Alavarce, as crianças mais expostas a riscos são, principalmente, as pequenas, entre 1 e 7 anos, que já estão aprendendo a andar, mas ainda não têm nível de cognição plenamente desenvolvido para avaliar o que representa perigo dentro de casa. “É uma fase de descobertas, em que elas querem desbravar o mundo. E é, portanto, a fase em que os pais precisam estar mais atentos. É muito duro pegar uma criança com parada cardíaca no colo, muitas vezes tendo sucesso na reanimação, mas outras tantas vezes sem sucesso. Eu sou pai também e sei o quanto é difícil se colocar no lugar destes pais quando seus filhos se acidentam”, observa.

O coordenador do Samuzinho alerta, ainda, para os acidentes que podem ocorrer quando as crianças brincam fora de casa, especialmente quando estão soltando pipas e se expõem a riscos com linhas cortantes e possíveis atropelamentos ao, distraídas, atravessarem as ruas. “Os pais são a principal referência para as crianças e é importante que eles alertem os filhos sobre todos os riscos, sempre, claro, utilizando uma linguagem simples, compatível com a idade deles”, recomenda.

Uma boa solução para o período são os diferentes cursos de férias oferecidos em Bauru (O JC Bairros de hoje traz uma lista de opções).

Conscientização nas escolas

Há alguns dias, o projeto Samuzinho realizou uma ação para prevenção de acidentes na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Waldomiro Fantini, que fica na Vila Dutra. Com idades entre seis e 11 anos, os alunos assistiram à uma palestra didática sobre o tema, que mostrou exemplos de acidentes e como evitá-los.

A apresentação, que contou com a parceria da Casa da Mulher, serviço mantido pela prefeitura, tratou também de situações de violência doméstica e quais as maneiras de procurar ajuda. Ao todo, 355 crianças participaram da atividade, que teve bate-papo e tira-dúvidas.

Após a palestra, os estudantes ainda conheceram os equipamentos de uma viatura do Samu. Assim, puderam entender um pouco mais sobre como funciona o atendimento médico em casos de acidentes ou agressões no ambiente doméstico.

Queimaduras e cortes lideram ocorrências

“Foi um desespero. Ele agarrou meu pescoço, gritando muito de dor, e toda a pele das mãos dele começou a se soltar e grudar em mim”. A cena dura de imaginar, descrita pela dona de casa Vanilza do Nascimento, 37 anos, ocorreu no último dia 19, quando ela preparava carne para o almoço em uma panela de gordura fervente, na casa onde mora com a família, em Pederneiras (26 quilômetros de Bauru).

Em um segundo em que ela virou de costas para o fogão para pegar um prato no armário, o filho Arthur Miguel Nascimento Pereira, de um ano e 11 meses, ficou nas pontas dos pés e alcançou o cabo da panela. “Foi num piscar de olhos. Quando vi, já tinha caído tudo em cima dele”, relembra.

Arthur sofreu queimaduras de segundo grau e segue internado no Hospital Estadual (HE), sem previsão de alta. Ele faz parte de uma triste estatística da instituição, que recebeu 31 crianças de Bauru e região na Unidade de Tratamento de Queimaduras (UTQ) só neste ano.

Destas, quase metade (48%) precisou de internação após se acidentar com líquidos quentes, o chamado escaldo. “É a sopa, a gordura que está na panela e a criança puxa o cabo que está para fora do fogão ou, então, a toalha da mesa, derrubando este líquido sobre si. Neste período de férias, a criança acaba ficando mais tempo dentro de casa, inclusive na cozinha, enquanto os adultos preparam os alimentos”, destaca a cirurgiã plástica Cristiane Rocha, coordenadora da UTQ do HE.

Segundo especialistas, junto com cortes, as queimaduras são as principais causas de acidente doméstico envolvendo crianças. Conforme dados da UTQ, a esmagadora maioria das ocorrências (91%) com os pequenos ocorre dentro de casa e, entre as vítimas, mais da metade (55%) possui até cinco anos de idade.

Cristiane explica que, entre os líquidos, o que causa ferimentos mais graves é a gordura fervente, que atinge temperatura mais elevada e pode provocar queimaduras de terceiro grau nas crianças. “Quando a queimadura é mais superficial, normalmente a vítima fica apenas com uma mancha escura na pele. Mas, quando é mais profunda, pode haver alteração na textura da pele e retração, comprometendo o movimento de pescoço e braços”, destaca.

Nos casos mais graves, os acidentes podem levar até a amputação de membros, além da morte. “Já tivemos, por exemplo, casos de criança que perdeu parte do lábio por queimadura elétrica, depois de morder fiação, ou que perdeu a ponta do dedo, por colocar o dedo na tomada. As consequências podem ser trágicas e os pais precisam prestar atenção em tudo que pode causar acidente no ambiente doméstico. Um detalhe pode fazer toda a diferença”, completa.

‘Nunca imaginei que passaríamos por isso’

Com apenas 9 anos de idade, a pequena Giseli Ferreira Teixeira Tavares completou, nesta sexta-feira, 40 dias em uma cama de hospital. Enfaixada e parcialmente imobilizada por talas, ela já foi submetida a duas cirurgias para enxerto de pele e não deve voltar, tão cedo, à sua vida normal, ao lado da família e amigos da escola e da vizinhança do bairro onde mora, em Santa Rita d’Oeste, município que fica próximo à divisa com Mato Grosso do Sul.

Ela é mais uma das crianças internadas no HE em Bauru para tratamento de queimaduras após um grave acidente doméstico. “Nunca imaginei que, um dia, passaríamos por algo parecido. Foi um segundo que mudou completamente a rotina dela e a nossa”, conta o pai, o operador de máquina Sérgio Joaquim Tavares, 44 anos, que tem se revezado com outros familiares, sempre que consegue uma licença do trabalho, para acompanhar a filha durante a internação.

Em 18 de maio, em um passeio no sítio do avô, Giseli teve quase um terço do corpo queimado ao ser atingida por uma explosão, quando a mãe tentou acender um fogão à lenha usando etanol. A mulher teve queimaduras no braço e no tórax, mas já recebeu alta.

“É uma situação terrível. A gente sofre junto e torce para que a Giseli se recupere logo. Apesar de tudo, felizmente, o pior não aconteceu”, comenta.

Fonte: JCNet

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