Alunos do último ano do curso de Medicina da Unesp de Botucatu receberam uma visita ilustre na manhã desta segunda-feira (14). Como boas vindas pelo início de suas atividades acadêmicas em 2013, os estudantes do sexto ano, também chamado de internato – quando passam a vivenciar experiências práticas na rotina de um hospital – receberam a visita do médico cardiologista e ex-ministro da Saúde, professor Adib Jatene.
Durante o encontro com os universitários, realizado no Salão Nobre da Faculdade de Medicina de Botucatu/Unesp e que durou quase duas horas, Jatene falou sobre o perfil de médico exigido atualmente pela sociedade. Entre suas principais considerações, o convidado afirmou que as faculdades de medicina precisam repensar seu ensino e assistência.
Para ele, os cursos estão formando especialistas com condições de lidarem com a alta tecnologia disponível, mas despreparados para atender a população que mais precisa. Aponta que os alunos devem ser treinados nas diferentes especialidades, mas precisam adquirir conhecimentos que todo médico tem que ter para atuar na assistência a população.
Os médicos atualmente se especializam precocemente, focam muito na residência médica (período em que se aprimoram na área que escolheram), enquanto a maioria das pessoas precisa de atendimento básico. Para ele, os médicos se apoiam demais em exames e deixam em segundo plano a relação médico-paciente, afirma Jatene. A residência médica forma especialistas, mas não coloca médicos nas regiões onde não há assistência. Formamos médicos que não vão trabalhar com a população, mas sim com equipamentos de alta tecnologia. E é impossível oferecer tecnologia a toda a população, reforça.
Em sua apresentação, Jatene também mostrou estatísticas sobre a criação de novas faculdades de medicina no Brasil. Entre 1996 e 2011, foram implantadas 103, totalizando 185 escolas. No último ano do período, eram 17.272 vagas disponíveis. A média nacional de vagas por milhão de habitantes é de 90.2. Entretanto, em algumas regiões, a quantidade é menor que esse índice. “A distribuição de vagas tem sido feita sem critério algum. O que tem sido determinante é a pressão política”, declarou o ex-ministro.
{n}Investimentos {/n}
Outro ponto abordado por Jatene foram os investimentos governamentais em saúde. São gastos R$ 127 bilhões na área pública. São índices bem inferiores aos praticados em países de primeiro mundo, como a Alemanha (R$ 617,5 bilhões), por exemplo.
Temos que duplicar o gasto público, frisa. O médico diz entender que a população brasileira paga muito imposto, mas a arrecadação é baixa. Em sua opinião, é preciso uma tributação maior sobre as classes mais favorecidas e os mais pobres deveriam pagar taxas menores. No Brasil, tanto o trabalhador comum, quanto o magnata da indústria, pagam 27,5% de Imposto de Renda, o que está errado, ponderou.
{n}Exame do Cremesp {/n}
Para Jatene exame do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) não tem o objetivo de ser um filtro, como é a prova da OAB, mas é uma forma de avaliar a escola por meio do aluno que ela formou. “O objetivo não é penalizar o estudante. Há várias formas de se avaliar. A intenção é atingir as escolas que não ensinam adequadamente. Com o exame, o aluno é obrigado a aprender e a escola a ensinar”, comenta.
A avaliação externa não é a questão polêmica, mas sim quando e como. “Todos que são contra o exame, concordam com a avaliação, mas estão propondo formas de se avaliar. Então isso deve ser discutido para que se encontre a melhor maneira”, acrescenta.
Fonte: Leandro Rocha
Assessoria de Comunicação e Imprensa da FMB