Elias Francisco: O ícone do rádio botucatuense

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Elias Francisco: O ícone do rádio botucatuense 20 março 2010

Alheio a toda tecnologia moderna que hoje faz parte do dia a dia dos meios de comunicação, o rádio continua sendo um veículo de massa. Vem ano, passa ano, o rádio continua firme. Afinal, em qual casa não tem um rádio? Para muitos ele é o companheiro nas horas solitárias. Para outros o descanso para ouvir uma boa música. Há os que são fissurados nos programas jornalísticos ou esportivos. Enfim, o rádio continua (e continuará por muito tempo) na vida do cidadão brasileiro.

E o que dizer dos locutores? Aqueles mesmos que todos os dias adentram os lares de milhares de famílias, falando sobre os mais variados assuntos como: música, esporte, polícia, política, oração ou entretenimento. O locutor tem que ter um pouco do artista. Ele representa a notícia e coloca ênfase na locução. E aí podemos fazer um exercício interessante. Muitas pessoas se apaixonam pelos locutores sem nunca tê-los visto. Apaixonam-se pela voz. E existem profissionais que há muito tempo estão se dedicando ao rádio.

Em Botucatu, o profissional mais experiente é Elias Francisco Ferreira, com 73 anos de idade e 50 de profissão. Sem dúvida uma das vozes mais conhecidas do rádio botucatuense. Aliás, o Elias é a própria história do rádio. Um profissional que está no ar há 50 anos, sendo 48 deles, como apresentador o programa “O Palanque”, na Rádio Emissora de Botucatu – PRF-8. É com ele que a reportagem do Acontece foi falar e extraiu dados bastante interessantes. Vamos a eles:

Elias conta que começou no rádio, na cidade de São Manuel em 1960, onde fazia um programa noturno, das 20 ? s 22 horas chamado “Noite Romântica”. Durante o dia ele exercia sua profissão de origem: farmacêutico. Em maio de 1962, segundo Elias Francisco, a Rádio PRF-8 era a melhor da região e o Plinio Paganini que era o diretor, o convidou para fazer parte da equipe.

“De início eu relutei, porque entendia que eu não estava preparado para assumir uma função em uma rádio grande como a de Botucatu. O Plínio insistiu tanto que acabei aceitando e fui fazer com ele “O Palanque”. E estou no mesmo programa até hoje. Só aqui na F-8 completo 48 anos de trabalho. Quando iniciei no rádio eu já estava contratado pelo Jairo (Luiz de Andrade) para trabalhar na farmácia Santa Gema Galgani, na Vila Maria. Entre o rádio e a farmácia eu optei pela primeiro, para desespero de minha família, pois eu era farmacêutico e não locutor”, lembra Ferreira.

Foram incontáveis entrevistas feitas pelo locutor ao longo dos anos. “Não dá para precisar quantas personalidades eu entrevistei. Foram muitas, presidentes da República, governadores, empresários, deputados, senadores, esportistas, cantores e artistas. A gente passa o dia inteiro citando nomes. São 50 anos de profissão. Eu não tenho nem idéia”, coloca.

A única vez em que pensou em deixar o rádio foi quando seu companheiro, Plinio Paganini, veio a falecer. “Aquilo acabou comigo, me desestruturou.
Pensei em desistir, pois achava que a rádio sem o Plinio não teria mais sentido. Éramos como irmãos, compadres, e vivemos juntos um olhando para a cara do outro, dezenas de anos. Nesses anos de convivência a gente chorou muitas vezes, riu, brincou, brigou, mas sempre estivemos juntos, um ao lado do outro. Foi penoso continuar sem ele”, recorda Elias Francisco Ferreira.

Rindo, conta que o Plinio queria transmitir tudo na rádio e não media esforços para isso. “O Plínio queria que a gente transmitisse até briga de gafanhotos. Futebol então, narrei de tudo que é jeito . Eventos iam de velórios a encontro de autoridades. Acredite se quiser: eu já fiz uma transmissão ao vivo do teatro. Isso mesmo narrei uma peça ao vivo. Estavam lá ao atores representando no palco e eu narrando o que acontecia na platéia. Acho que esta foi a única vez na história que um locutor de rádio narrou uma peça de teatro. O Plinio me fez fazer isso e com ele não adiantava brigar. Ela era o diretor e a gente tinha que cumprir”.

Uma das coisas que Elias não esquece é a rivalidade que havia entre as duas rádios: PRF-8 e Municipalista. “Hoje vivemos em paz, somos co-irmãs, mas nem sempre foi assim. Houve uma época, nos anos 70, em que a rivalidade chegou ao extremo. Se as duas peruas de reportagem se cruzassem na rua, a colisão era certa. Era assim mesmo, as peruas batiam de frente.
Era um absurdo a rivalidade dos funcionários. Hoje se vive no céu, mas nós vivemos no inferno”, compara.

A reportagem não perdeu a oportunidade e pediu ele narrasse pelo menos um caso que mostrasse esta rivalidade. Ele lembrou um que aconteceu no auge dessa desavença. O Plinio Paganini havia conseguido que o jogador Zé Maria que tinha sido campeão do mundo em 1970, aceitasse participar de um jantar em sua homenagem. O Zé Maria aceitou e a festa foi preparada com uma grande divulgação. Mas, o que era para ser uma homenagem acabou virando numa batalha de grandes proporções entre os profissionais das duas emissoras.

“No dia da homenagem, o saudoso Jaime Contessote, que trabalhava na Municipalista, foi de encontro ao Zé Maria na estrada, mais ou menos ? s 16 horas da tarde (o jantar estava marcado para ? s 19 horas), com sua equipe e praticamente sequestrou o jogador na metade do caminho, dizendo que ia acompanhá-lo. Saiu com ele e o povo ficou esperando. Para encurtar a história, o Zé Maria só foi liberado tarde da noite e permaneceu em um restaurante na cidade de Porto Feliz. O Élcio Paganini, que era diretor da rádio, estava esperando o jogador na Sabesp com uma equipe, arrancando os cabelos e quando percebeu que ao lado do Zé Maria estava o Contessote sorrindo, partiu pra briga. Foi tapa e murro pra tudo que é lado. Uma briga generalizada entre as duas equipes. Foi uma loucura e o Zé Maria ficou sem entender nada, mas a homenagem, mesmo que tardia, acabou sendo feita”, contou.

Embora com 73 anos, Elias Francisco não pensa em se aposentar. “Não penso em parar. Se ficar parado não vou saber o que fazer. Já estou nesta vida há 50 anos e fazem 48 que eu subo os degraus dessa rádio sem nunca olhar para trás. Eu olho pra frente e vou até onde Deus quiser. O dia que Ele me convocar, eu vou. Você pode fazer tudo na vida, mas não pode escapar da convocação de Deus. Um dia Ele vai me chamar e nesse dia eu vou, deixando para trás uma vida sem mácula. Eu nunca tive um processo, nunca fui a uma delegacia, nem como testemunha. Criei e eduquei meus filhos. Então se Deus entender que meu ciclo terminou e me convocar eu vou”.

Fotos: Quico Cuter

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