Egressa da Unesp em Botucatu é a primeira mulher a exercer o cargo de CEO em empresa de saúde animal na América Latina

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Egressa da Unesp em Botucatu é a primeira mulher a exercer o cargo de CEO em empresa de saúde animal na América Latina 25 janeiro 2022

Por Jornal da Unesp

Fernanda Hoe. Crédito: Elanco/divulgação

Trabalhar num zoológico? Numa fazenda de criação? Num hospital veterinário? Numa instituição que resgata animais perdidos em matas? Todos estes possíveis destinos profissionais foram sondados por Fernanda Hoe, 41, quando era uma estudante da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp em Botucatu, na segunda metade dos anos 1990.

A disposição da jovem para conhecer coisas novas e entender melhor a profissão que escolheu ajudou-a a ter mais embasamento para fazer escolhas ao longo de sua trajetória profissional. Ano passado, esta trajetória alcançou outro patamar quando Hoe se tornou a primeira mulher CEO de uma empresa de farmacêutica animal na América Latina. O reconhecimento por sua atuação extrapolou inclusive os limites da empresa, e Hoe também foi apontada como uma das principais lideranças femininas do agronegócio no Brasil pela revista Forbes.  

Sendo uma jovem adolescente criada na capital paulista, dialogar e estabelecer uma relação de confiança com produtores rurais e funcionários das fazendas da região de Botucatu foram desafios que Fernanda Hoe precisou enfrentar logo nos seus primeiros meses no curso de medicina veterinária da Unesp. Hoje, como diretora-geral do braço da multinacional Elanco no Brasil, ela reconhece que a possibilidade de desenvolver estas e outras habilidades durante o período na universidade colaborou positivamente na sua trajetória profissional.

“Na hora que a gente entra em um ambiente novo, com pessoas que a gente não conhece e que trazem outras culturas e outras vivências, é importante ter a capacidade de se conectar e trabalhar com elas”, diz a ex-aluna de Botucatu. De fato, em sua carreira, Hoe trabalhou em conjunto com uma variedade de perfis, dos grandes proprietários rurais aos funcionários de fazenda, passando por acadêmicos internacionais, equipes de comunicação e marketing ou cientistas do setor de pesquisa e desenvolvimento.

A Elanco é a segunda maior empresa de Saúde Animal do mundo, com quase 10 mil funcionários. Hoe lidera cerca de 300 funcionários na unidade brasileira, e tem entre seus principais desafios atender a um mercado dinâmico em que consumidores cada vez mais demandam sistemas de produção sustentáveis e eficientes, além de um competitivo mercado de animais domésticos em franco crescimento, para citar duas áreas de atuação da companhia.

Mulheres ainda têm pouco espaço

Fernanda Hoe comemora a inclusão do seu nome na lista 100 mulheres mais poderosas do agronegócio brasileiro, elaborada pela revista Forbes. “Fiquei superfeliz, porque é o reconhecimento de uma trajetória que vem desde 1997, na Unesp. A lista traz mulheres muito inspiradoras e estar ao lado delas é especial”, diz.

Para Hoe, a lista tem ainda a função de projetar lideranças em uma área em que as mulheres ainda são sub-representadas. “Quando me formei, era uma das únicas mulheres veterinárias que faziam trabalho em campo. Em uma empresa em que trabalhei, cheguei a ser a única mulher em uma equipe com mais de cem pessoas”, recorda. A CEO reconhece que, nos últimos anos, mais mulheres têm se tornado líderes tanto em empresas quanto em propriedades rurais. “Ainda assim, é uma mudança recente. Estamos longe do patamar da representatividade masculina. Listas como essas são importantes.”

Do campo ao escritório

Ao ingressar na Universidade com apenas 17 anos, Fernanda não era diferente de tantos calouros que não têm muita clareza sobre em qual área querem atuar. Ela então decidiu se envolver em quantas atividades conseguisse, para conhecer o maior número possível de possibilidades. Isso incluiu estágios em um zoológico, no Hospital Veterinário da universidade e em uma associação dedicada ao resgate de animais. Mas foi no trabalho com produtores rurais, iniciado ainda durante a participação na empresa júnior da FMVZ, que ela se encontrou.

A transição das fazendas para o ambiente corporativo do escritório aconteceu naturalmente. Por conta do seu trabalho técnico junto aos produtores rurais na forma de treinamentos, palestras e outras ações de extensão, Hoe se aproximou da equipe de marketing, o que despertou um olhar para a comunicação. A convivência ampliou seu foco, que extrapolou o aspecto técnico da veterinária para abarcar uma visão de mercado. “Isso me motivou a fazer um MBA em Marketing e Gestão Estratégica de Mercado, que me introduziu a uma série de conceitos da área”, destaca.

A experiência na empresa júnior

Dentre as tantas atividades extracurriculares de que participou enquanto esteve na Unesp, Fernanda Hoe demonstra carinho especial pelo desenvolvimento de um projeto de iniciação científica e pelo envolvimento na Conapec Jr, empresa júnior de consultoria agropecuária que envolve alunos da medicina veterinária, zootecnia e agronomia.

Orientadora do projeto de pesquisa da então estudante à época, na área de pequenos animais, a professora Maria Denise Lopes a descreve como uma aluna responsável e organizada. A docente lembra que, mesmo sendo a iniciação científica o primeiro contato dos alunos com a pesquisa científica, a orientanda demonstrou grande capacidade de compreender o que era ensinado. “Acho que a característica que mais chama a atenção na Fernanda é sua inteligência emocional”, recorda.

A avaliação coincide com a visão de seu colega, o professor José Luiz Moraes Vasconcelos, o Zequinha, que por quase 30 anos coordenou a Conapec Jr, onde Fernanda atuou desde o primeiro ano de faculdade até a sua formatura. A experiência na empresa júnior, mais tarde, abriu as portas para um mestrado na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos.

“Na Conapec Jr. a Fernanda atuou em fazendas grandes e pequenas, trabalhando com proprietários e com funcionários de baixa qualificação. Nos EUA, ela conversou com pessoas de altíssimo nível. Acho que um dos pontos fortes dela é a habilidade no relacionamento interpessoal, o resto é produto da dedicação e do treinamento dela”, diz o docente, que destaca o comprometimento da aluna nas visitas às fazendas e estágios, mesmo durante os fins de semana ou nas férias.

Esse comprometimento, lembra Zequinha, costuma criar um laço forte entre os membros da empresa júnior e com a turma de Fernanda não foi diferente. E esta convivência é uma das coisas de que a CEO mais sente falta em seus anos de Unesp. “O fato de a maioria dos alunos morar fora da sua cidade traz um senso de comunidade e colaboração muito forte não apenas entre os alunos, mas também na relação entre alunos e professores. Acho que essa é uma marca muito forte de Botucatu”, recorda.

“Hoje, na minha vida profissional, temos líderes do meio corporativo que são grandes modelos. Mas gosto de lembrar que na Unesp tive excelentes professores que deixaram uma marca de como inspirar e liderar os alunos”, diz Hoe. Até hoje, entre minhas referências, tenho grandes exemplos do corpo docente da Unesp de Botucatu.”

Marcos do Amaral Jorge – Jornal da Unesp

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