30 junho 2010
São 10 filhos, 20 netos, 17 bisnetos e um tataraneto. Esse é o saldo familiar de Maria Emília Camalionte Ortiz, que está prestes a completar os seus 93 anos de idade, mantendo uma lucidez e uma vitalidade que impressionam. Tem uma visão que a permite praticar a leitura sem necessidade de óculos, gosta de ouvir música, fazer crochê e recitar poesias.
A reportagem do{n} Acontece {/n}esteve conversando com esta mulher, que nasceu em Pardinho no dia 10 de julho de 1917. Ela é, verdadeiramente, um exemplo de vida. Dos filhos, o caçula tem 51 anos e o mais velho: 72 anos. Todos os dez filhos são vivos.
A infância de Emilia, ou Dona Emiliona, como é carinhosamente chamada pelos familiares, foi muito difícil e quase não tinha tempo para brincar. Nos raros momentos de lazer ela reunia seus amigos e amigas e brincava de escolinha, onde ela era a professora.
Eu sempre era a professora, orgulha-se. Mas eu pouco brinquei. Minha infância foi trabalhar na roça ajudando meus pais na colheita de milho, batata ou arroz ou mesmo fazendo o trabalho de capina, para retirar o mato da plantação. Posso dizer que a enxada estava sempre na minha mão, acho que era minha amiga. Chegava da escola e já pegava a enxada. Naquela época a gente não tinha diversão. A maior diversão era trabalhar para comer, lembra.
Um dos momentos que marcou a infância de Dona Emília foi seu espanto ao
saber que em São Paulo havia sido construído um prédio de três andares. Fiquei admirada. Imagine um prédio com três andares. A gente estava acostumada a ver casinhas, muitas de madeira. Fiquei a imaginar como seria três casas, uma em cima da outra. Olha que coisa! Mas, naquela época foi novidade. Era uma menina, acho que tinha uns sete anos e me lembro que fiquei muito espantada e curiosa.
{n}Casamento{/n}
Emilia casou nova, com 18 anos, e conheceu o futuro marido, Roque Ortiz, aos 17. Eu nunca havia namorado ninguém. Ele (Roque) tinha três irmãos e a família tinha chegado da Espanha, na última imigração. Primeiro conheci os três irmãos dele e não liguei para nenhum. Quando vi (o Roque) ele
estava ensacando arroz e fiquei interessada. Ele também gostou de mim e pediu para meu pai e começamos a namorar. Um ano depois a gente casou, recorda.
O casamento teve uma particularidade interessante. Nessa época a gente morava em Echaporã e não havia padre. Por isso, o casamento seria só no cartório da cidade. Mas, veja só! No dia do meu casamento o cartório foi assaltado e tivemos que viajar até Assis. Foi lá que casamos. Foi um rolo só! Era o primeiro casamento que ia ser feito em Echaporã e roubaram o cartório, conta, rindo.
{n}Dom Zioni{/n}
Em Botucatu Emília tem passagens inesquecíveis, como o relacionamento próximo com o Arcebispo Dom Henrique Goland Trindade. Era uma pessoa muito querida, assim como foi o sucessor de Dom Henrique, o Dom Zioni (Vicente Marchetti). Quando o Dom Zioni estava buscando dados sobre o Dom Henrique, me procurou e passei muita coisa para ele. Fiquei amiga dele e sempre ia ? Casa dos Meninos onde ficava e sempre ia assistir suas missas, recorda.
Religiosa atuante, costumeiramente, é vista na igreja Nossa Senhora de Lurdes. Mas sobre sua presença em missa ela lembra mais um fato interessante. Ia haver uma missa na Casa dos Meninos e o Dom Zioni iria celebrar, mas eu estava atrasada e nervosa. Não gosto de chegar em missa começada e estava nervosa por isso. Para minha surpresa a missa não havia começado. Quando sentei uma amiga deu sinal ao Dom Zioni e disse: Agora pode começar. Pode? Eles me esperaram chegar para começar a missa.
O dia a dia de Dona Emilia é bastante produtivo. Ela não para. Gosta de estar sempre fazendo alguma atividade e não suporta ficar muito tempo inativa. Nas horas de calmaria ela procura se distrair fazendo crochê. Ela é a primeira a se levantar e a última a ir para cama, geralmente depois das 22 horas. Na televisão não vejo novelas. Gosto de assistir a Rede Vida e os jogos do Corinthians, porque sou corintiana, viu? Também gosto quando a Seleção Brasileira joga, diz.
{n}Polentada{/n}
Uma atividade que esta mulher notável faz há várias décadas é a sua tradicional polentada com frango, todas as sextas-feiras. É ela que faz o almoço e não pede ajuda de ninguém. Isso é sagrado. Faço a polentada todas as sextas-feiras e muita gente que come, elogia. O padre Orestes (Gomes- pároco da Igreja Nossa Senhora Menina, na Vila Maria) vem sempre aqui. Quando faço a polentada reservo uma parte para o Padre Marcos que mora em frente a minha casa. Gosto quando vem gente aqui experimentar minha polenta, mas também gosto de fazer outros pratos, como a feijoada, garante.
Seguramente, Emília Ortiz é uma dessas raras personalidades em que qualquer pessoa poderia passar horas ouvindo as histórias que ela tem pra contar sobre os seus 93 anos de vida. Mas, esse privilégio fica para seus filhos, netos, bisnetos, tataraneto e amigos que, com ela, tem relacionamento mais próximo.
Por: Quico Cuter
Fotos: Valério A. Moretto
