Por Paulo André de Oliveira
A capacidade que uma cidade tem de gerar renda está entre as principais forças de atração regional, com as oportunidades de geração de emprego e negócios. Esta força de atração contribui para que os jovens ali permaneçam e ainda atraí pessoas de outras regiões. Também contribui para esta força de atração a qualidade de vida. Aspectos como segurança, acesso a serviços de saúde, educação, infraestrutura urbana e clima são itens que se pensa quando a questão da renda já está equacionada. Portanto, se procura emprego, possibilidades de negócios e qualidade de vida.
Atraídos pela qualidade de vida, os aposentados que veem de outras cidades fortalecem a economia local, muitos deles trazem a riqueza de uma vida para a cidade promissora, gastando dinheiro com imóveis na sua chegada e com os serviços locais. Esta renda proveniente de aposentadorias transfere recursos de outras regiões para a cidade onde escolheram viver, injetando recursos externos a economia local. Estes recursos estimulam o comércio e prestadores de serviços, funcionado como um multiplicador de renda para economia local. No Brasil, diversas cidades principalmente do Nordeste, têm como principal injetor de recursos as aposentadorias.
Por outro lado, o dinamismo econômico regional atraí quem procura emprego ou estabelecer um negócio. O mercado consumidor, infraestrutura, mão de obra qualificada e muitas vezes aglomeração de empresas de um certo tipo de atividade, como acontece com os arranjos produtivos locais, são forças de atração para novas empresas. Na região de Botucatu, as empresas de bens de capital de transporte e madeireiro constituíram um segmento econômico com grandes empresas abastecidas por inúmeros fornecedores locais de menor porte formando um polo de desenvolvimento.
Então por que em cenários promissores, encontraríamos um aparente aumento de pessoas em situação de rua, pedindo dinheiro em semáforos e portas de supermercados? Por que alguém migraria para esta cidade se pretendesse viver com renda incerta, dependendo da boa vontade das pessoas? A ideia que se tem ao se ver uma pessoa pedindo dinheiro no semáforo é de que vivemos uma forte crise econômica e que a miséria aumentou na cidade.
Na verdade, existem várias razões para este aumento de pessoas em situação de rua. Segundo uma pesquisa feita por pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá, as principais razões para viver nas ruas foram: uso de drogas (47,2%); desentendimento familiar (38,9%), desemprego (25,5%), liberdade/escolha própria (19,5%) e divórcio (12,8%). As questões abordadas não conseguem fechar todas as possibilidades, mas dão uma visão das principais razões. O aspecto econômico (desemprego) não pode ser visto isoladamente dos demais fatores.
Para se ter uma ideia, na cidade de São Francisco (CA), com a terceira maior renda familiar dos Estados Unidos (67000 dólares anuais) existem mais de 7800 moradores de rua. Na California, são mais de 100 mil pessoas. A questão é que as forças de atração são para todos. Tanto para aqueles que desejam melhores condições de geração de renda (trabalho e negócios) como para pessoas, que neste momento, não são capazes de gerar a própria renda e que veem ali, a possibilidade de sobreviverem devido ao dinamismo econômico. Mesmo que intuitivamente, estas pessoas percebem que regiões em decadência econômica não são lugares propícios para se obter com facilidade ajuda de um estranho, num semáforo ou pelas ruas.
Por fim, a questão social das pessoas em situação de rua é muito ampla, preocupante e de difícil solução. Sob o ponto de vista econômico, o aumento destas pessoas numa cidade está ligado muito mais às forças de atração da economia do que a decadência da economia regional. Infelizmente, a complexidade do assunto nos leva muito além da questão econômica, passando por questões de saúde e políticas públicas especificas.
Paulo André de Oliveira é Economisra e Professor da Fatec
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