24 novembro 2025
CEPEX vai reunir dados meteorológicos, aplicar inteligência artificial e apoiar ações de prevenção da Defesa Civil; iniciativa inclui Botucatu e é coordenada pelo pesquisador João Paulo Papa, natural da cidade

A Unesp vai sediar um dos projetos mais robustos do país voltados à prevenção e ao monitoramento de eventos climáticos severos. Trata-se do Centro Paulista de Integração de Dados para Monitoramento de Eventos Extremos (CEPEX), que faz parte do programa de Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCDs) da Fapesp. O novo centro terá sede em Bauru, mas Botucatu terá participação direta na iniciativa, tanto pela rede de dados meteorológicos que compõe o sistema quanto pela origem do idealizador do projeto: o pesquisador João Paulo Papa, docente da Unesp de Bauru e botucatuense.
O CEPEX reunirá dados de diferentes fontes — radares meteorológicos, sensores, redes de coleta e imagens de satélite — para desenvolver modelos avançados de previsão, detecção e apoio à tomada de decisões em situações de risco, como deslizamentos, enchentes, tempestades severas e incêndios florestais.
IA para antecipar riscos e apoiar a Defesa Civil
Segundo Papa, um dos principais objetivos é criar um sistema único e inteligente que concentre dados visuais e textuais gerados pelos radares meteorológicos do estado. A partir desse material, algoritmos de Inteligência Artificial (IA) vão processar, integrar e interpretar informações capazes de apontar cenários de risco com antecedência, auxiliando a Defesa Civil na escolha de rotas de fuga, alertas à população e respostas rápidas diante de extremos climáticos.
O Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet) — referência nacional no setor e base dos radares meteorológicos do estado — será essencial no processo. É no IPMet que o CEPEX inicia suas atividades, com os dados alimentando os modelos analíticos e os sistemas de IA desenvolvidos pelo grupo.
Botucatu dentro da estrutura do projeto
Botucatu faz parte da rede contemplada pelo CEPEX, já que o município integra o conjunto de regiões atendidas pelos radares do IPMet e possui histórico de eventos climáticos que exigem alta capacidade de monitoramento, como vendavais, enxurradas e ocorrências na zona rural do município.
Além disso, o fato de o coordenador ser da cidade coloca Botucatu em posição estratégica dentro do novo centro. “A possibilidade de prover um serviço para o Estado de São Paulo, incluindo cidades como Botucatu, é uma responsabilidade enorme. Queremos contribuir da melhor forma possível”, afirmou Papa, em entrevista.
O pesquisador reforça que o objetivo é entregar uma visão integrada do que está acontecendo em tempo real, facilitando decisões e fortalecendo a segurança e a gestão de riscos.
Financiamento, estrutura e novas tecnologias
O projeto receberá R$ 18 milhões da Fapesp, distribuídos ao longo de cinco anos. Cerca de metade do montante será destinada a bolsas para alunos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. O restante será investido em infraestrutura, como novos radares, supercomputadores, geradores e sistemas de energia que garantam funcionamento contínuo do CEPEX.
O grupo também prevê a criação de uma plataforma pública de visualização de dados, onde meteorologistas, gestores e analistas poderão consultar mapas, comparar camadas de informação e baixar dados específicos.
Aplicações práticas e futuro do projeto
Com a base integrada de dados, o CEPEX pretende desenvolver modelos capazes de prever:
- deslizamentos
- alagamentos e enxurradas
- tempestades severas
- incêndios florestais
Essas previsões poderão ser utilizadas tanto pelas equipes técnicas quanto pela população. Papa não descarta o desenvolvimento de um aplicativo, no futuro, para levar informações detalhadas diretamente aos moradores das cidades envolvidas.
“Não vai faltar ideia. O que define até onde podemos ir é a quantidade e a qualidade dos dados. Tendo isso, a gente consegue enfrentar o problema”, explica o pesquisador.
Formação e pesquisa: IA para meteorologistas
Outro eixo importante do CEPEX é o educacional. O projeto vai incentivar pesquisas acadêmicas e a participação de estudantes de graduação e pós-graduação, além de promover o uso responsável e eficiente da inteligência artificial por profissionais da meteorologia.
A intenção, segundo Papa, não é formar programadores, mas sim meteorologistas capazes de compreender as possibilidades e limites da IA, ampliando a capacidade de análise e interpretação de dados.
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