
Com fragmentos de Cerrado e Mata Atlântica, Botucatu abriga diversas espécies. Professor da Unesp fala sobre os desafios na preservação.

Botucatu, uma cidade rica em biodiversidade, abriga uma variedade impressionante de animais silvestres que encantam moradores e visitantes. Não é raro encontrar esses animais, especialmente em áreas rurais, embora muitos alcancem a aérea urbana, o que gera uma enorme preocupação.
A região, cercada por áreas de mata atlântica e campos abertos do cerrado, serve como um habitat ideal para diversas espécies. Entre os animais que podem ser avistados, destacam-se aves como o gavião-carcará e o tucano, que colorem o céu com suas plumagens vibrantes.
Além das aves, a fauna local inclui mamíferos como o lobo-guará, veado-catingueiro e o tamanduá-bandeira, que desempenham papéis importantes no ecossistema. A presença de rios e córregos na região também favorece a vida aquática, onde é possível encontrar espécies de jacarés em determinados pontos.



Felinos de grande porte também são encontrados. A espécia mais conhecida é Onça Parda, mas também podemos encontrar a jaguatirica e o gato-do-mato.
A preservação desses animais e de seus habitats é fundamental para manter o equilíbrio ecológico e a saúde do meio ambiente. Iniciativas de conscientização e projetos de preservação têm sido promovidos para garantir que as futuras gerações possam continuar a desfrutar da rica fauna silvestre de Botucatu. Portanto, ao visitar a cidade, não deixe de explorar suas trilhas e áreas naturais, onde a beleza da vida selvagem pode ser apreciada em toda a sua plenitude!
Entrevista

O Acontece Botucatu conversou com o Professor Felipe W. Amorim. Docente da área de Ecologia de Biodiversidade do Instituto de Biociências da Unesp em Botucatu, ele explicou a presença desses animais em Botucatu, seus habitats, preservação e riscos das espécies. Confira a entrevista.
Acontece Botucatu – Quais são as espécies de mamíferos selvagens/silvestres mais encontradas nos biomas de Botucatu?
Felipe Amorim – Botucatu é uma cidade privilegiada em muitos aspectos, e sua biodiversidade não é exceção. O município abriga dois dos biomas mais importantes do Brasil: o Cerrado e a Mata Atlântica. Ambos são considerados hotspots de biodiversidade, ou seja, áreas prioritárias para conservação em nível global.
No entanto, esse status não é exatamente positivo. Para que uma região seja classificada como um hotspot de biodiversidade, ela deve reunir uma grande concentração de espécies endêmicas (espécies que ocorrem exclusivamente ali e em nenhum outro lugar do planeta). Porém, essa mesma região também deve estar severamente ameaçada pela perda de seu hábitat. O Brasil abriga dois dos 25 hotspots de biodiversidade prioritários para conservação em todo o mundo, e ambos estão presentes em Botucatu.
Entre os mamíferos de médio e grande porte que ocorrem no município e podem ser avistados pela população – alguns ocasionalmente, outros com mais frequência – destacam-se a onça-parda, a jaguatirica, o gato-mourisco, o cachorro-do-mato, a raposa-do-campo, o lobo-guará, o tamanduá-bandeira, o tamanduá-mirim, o veado-catingueiro, a irara, o ouriço-cacheiro, o quati, a paca, a cotia, a capivara, o gambá-de-orelha-branca, o tapiti (espécie de coelho nativa), o serelepe e o tatu-galinha, entre várias outras espécies de menor porte (temos mais de uma dezena de espécies de morcegos!) ou mais difíceis de serem observadas.
AB – Quais os locais de ocorrência dessas espécies em Botucatu?
FA – Por possuir manchas e fragmentos de Cerrado e Mata Atlântica espalhados por toda a cidade, ou mesmo entrecortando várias regiões do município, esses animais ocorrem literalmente em toda Botucatu.
Vivo há pouco mais de 11 anos na cidade e tive o privilégio de avistar, em áreas urbanas e periurbanas, espécies como o tamanduá-bandeira, o tamanduá-mirim, o cachorro-do-mato, a raposa-do-campo, o ouriço-cacheiro, o quati, o gambá e o tatu-galinha. Em duas estradas rurais no município já pude ver até arisco e raro gato-mourisco. Botucatu é a 13ª cidade em que já morei e, em nenhum outro lugar, pude observar tantas espécies silvestres da fauna brasileira como tenho visto aqui. Muitas delas, inclusive, dentro da própria área urbana – como é o caso do emblemático tamanduá-bandeira, que frequentemente é avistado em diferentes pontos do município.
Pode não parecer surpreendente para quem sempre viveu em Botucatu, mas ver tamanduás-bandeira em vida livre com tanta frequência – como vi um há menos de duas semanas – não é algo comum!
AB – Qual a preocupação maior com essas espécies em Botucatu?
FA – Certamente, a maior preocupação é a conservação dessas espécies, bem como a segurança e a saúde da população do município. O atropelamento da fauna silvestre ainda é um problema comum e significativo em nossa cidade. Embora os atropelamentos tenham diminuído em alguns pontos críticos – como na Rodovia Gastão Dal Farra, onde a instalação de lombadas reduziu substancialmente as ocorrências envolvendo grandes mamíferos silvestres – ainda há trechos com alta incidência de atropelamentos, como na Rodovia Marechal Rondon, próximo à entrada do Parque Municipal Cachoeira da Marta.
Além de representar uma ameaça significativa para a fauna silvestre, os atropelamentos também colocam em risco a segurança da população, pois a colisão com animais de médio a grande porte pode resultar em acidentes graves.
Outra preocupação relevante, frequentemente noticiada pelo Acontece Botucatu, é o contato direto das pessoas com os animais que visitam áreas urbanas, como os quatis, que são frequentemente avistados em grandes bandos em algumas regiões da cidade. Não é incomum ver vídeos de pessoas alimentando esses animais ou se aproximando demais. No entanto, como todo animal silvestre, os quatis podem atacar repentinamente e causar ferimentos graves, além de poderem transmitir o vírus da raiva, cuja letalidade é praticamente 100% se não tratada imediatamente com a vacina antirrábica.
AB- Quais os locais (rodovias) onde há maior necessidade de passagens de fauna em Botucatu?
FA – Na região de Botucatu, algumas rodovias exigem atenção redobrada dos motoristas e também do poder público e das empresas concessionárias no planejamento de obras viárias. Um exemplo preocupante é a Avenida Odilon Cassetari – que liga a Rodovia Gastão Dal Farra ao complexo turístico Véu de Noiva/Barragem do Rio Pardo. Recentemente asfaltada, a via não foi equipada com estruturas adequadas para a passagem da fauna silvestre, apesar de a geografia do terreno permitir a instalação de túneis subterrâneos para esse fim.
Conforme denunciado pela ONG Nascentes em seu perfil no Instagram, em abril de 2024, pouco tempo após a pavimentação da avenida, já foi registrado o atropelamento de um gato-mourisco. Com o aumento do fluxo de veículos nessa via, é previsível que novos atropelamentos ocorram com frequência. Vale destacar que, além de tamanduás e gatos-mouriscos, há registros de lobos-guarás e onças-pardas na região.
As obras de duplicação da Rodovia Gastão Dal Farra ainda não atingiram o trecho crítico de atropelamentos de fauna silvestre que existia antes da instalação das lombadas. No entanto, há planos para que a duplicação se estenda até a entrada da Demétria, cruzando extensas áreas de vegetação nativa do Cerrado, habitat de diversos animais silvestres. Caso essa obra avance, será essencial a instalação de túneis subterrâneos para a passagem da fauna.
Em setembro de 2021, um estudo preliminar foi elaborado pelo Médico Veterinário Samuel Betkowski – consultor ambiental e especialista em Ecologia de Estradas – com a minha contribuição. Esse documento, entregue à Prefeitura Municipal de Botucatu pelo Instituto de Biociências da Unesp, identificou os locais mais adequados para a instalação de passagens subterrâneas na Rodovia Gastão Dal Farra, visando a segurança da fauna silvestre.
Outro ponto crítico da cidade é o trecho da Rodovia Marechal Rondon, próximo à entrada do Parque Municipal Cachoeira da Marta, onde atropelamentos são recorrentes. Em um intervalo de apenas 15 dias, em janeiro de 2025, foram registrados atropelamentos de um tamanduá-bandeira e de uma capivara na mesma região, demonstrando a urgência de medidas para mitigar esse problema.
Além dessas vias, outros trechos rodoviários que cortam o município também demandam maior atenção, como a Rodovia Alcides Soares e a Rodovia Geraldo Pereira de Barros, onde duas onças-pardas adultas foram atropeladas entre 2017 e 2024. A perda de grandes predadores de topo, como a onça-parda, tem impactos significativos na conservação da biodiversidade local, tornando ainda mais urgente a adoção de estratégias eficazes para a proteção da fauna silvestre.
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