
Prática regular de atividades de endurance melhora o funcionamento das células de defesa; especialista de Botucatu reforça importância da rotina ativa

Além de músculos, pulmões e coração, o sistema imunológico também ganha um grande reforço com a prática regular de exercícios físicos. É o que mostra uma pesquisa apoiada pela FAPESP e publicada na revista Scientific Reports, que analisou o impacto do treinamento de endurance — atividades de longa duração como corrida, ciclismo, natação e caminhada — em idosos com histórico de prática constante.
De acordo com o estudo, desenvolvido por uma equipe internacional de pesquisadores com participação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), pessoas idosas que mantêm o hábito do exercício há mais de 20 anos apresentam células de defesa mais adaptáveis, menos inflamatórias e metabolicamente mais eficientes.
“Em um estudo anterior, havíamos visto que obesidade e sedentarismo podem acelerar o envelhecimento das células de defesa. Dessa vez, queríamos entender o outro lado: se o exercício regular poderia reverter ou prevenir isso. E vimos que sim — o sistema imunológico dos idosos praticantes de endurance é mais preparado e resiliente”, explica Luciele Minuzzi, pesquisadora da Justus Liebig University Giessen, na Alemanha.
O trabalho faz parte de um projeto coordenado no Brasil pelo professor Fábio Lira, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp de Presidente Prudente, e investigou o comportamento das células natural killer (NK) — um tipo de glóbulo branco responsável por destruir células infectadas e cancerígenas.
Menos inflamação e mais eficiência
Os resultados indicam que o exercício de longa duração modula a resposta inflamatória ao longo do tempo. Comparando células de idosos atletas e sedentários, os pesquisadores observaram menos marcadores inflamatórios e mais marcadores anti-inflamatórios entre os praticantes.
“Esses indivíduos têm um controle muito melhor da inflamação. É como se o exercício também treinasse o sistema imunológico”, destaca Lira.
Ele lembra que o sistema imune é influenciado por vários fatores — sono, alimentação, estresse, vacinação e até medicamentos —, mas que o exercício é um dos pilares mais consistentes para o bom funcionamento das defesas do corpo.
Células mais resistentes
No estudo, os cientistas expuseram as células NK dos idosos a diferentes substâncias, como propranolol (que bloqueia a via adrenérgica, ligada à liberação de adrenalina) e rapamicina (que inibe o crescimento e a proliferação celular). Mesmo com esses bloqueios, as células dos idosos treinados mantiveram sua função imunológica, enquanto as dos sedentários demonstraram exaustão.
“Esses resultados sugerem que o treinamento físico prolongado gera adaptações ‘imunometabólicas’ protetoras. As células se tornam mais maduras, menos propensas ao envelhecimento e mais eficientes diante de desafios inflamatórios”, explica Minuzzi.
Jovens x veteranos
Em outro trabalho, os pesquisadores compararam a resposta imune de atletas jovens e masters (com mais de 20 anos de prática contínua) antes e depois de uma sessão de treino. O resultado foi curioso: os jovens apresentaram resposta inflamatória mais intensa, enquanto os veteranos tiveram uma reação mais controlada e equilibrada.
Segundo os autores, isso mostra que o corpo de quem treina há muito tempo se adapta melhor aos estímulos, evitando respostas inflamatórias exageradas — o que é essencial para um envelhecimento saudável.
“Como esses atletas já estão acostumados a lidar com processos inflamatórios do próprio exercício, o organismo deles aprende a reagir na medida certa. O sistema não deixa de responder, mas evita exageros”, detalha Minuzzi.
Atividade física: um investimento para o futuro
Para o educador físico Beto Pavão, proprietário do Espaço Elo, em Botucatu, o estudo reforça algo que ele observa diariamente na prática.
“Manter uma rotina de atividade física é muito mais do que cuidar da estética — é cuidar da saúde de dentro pra fora. A gente vê pessoas que treinam há anos e têm uma disposição e imunidade impressionantes. O corpo aprende a se defender melhor. É uma conta simples: quem se mexe, adoece menos”, comenta Pavão.
Ele destaca que, independentemente da idade, o mais importante é a constância. “Começar devagar, respeitar o ritmo e não parar mais. O benefício vem com o tempo, e o corpo agradece em todas as fases da vida”, completa.
Leitura recomendada
O artigo científico completo pode ser acessado em: nature.com/articles/s41598-025-06057-y.
Outra publicação do grupo sobre o mesmo tema está disponível em: frontiersin.org/journals/immunology/articles/10.3389/fimmu.2025.1601405/full.
Com informações da Agência FAPESP.
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