A ventilação dos ambientes, assim como o uso de máscaras adequadas e o distanciamento devem ser os principais fatores de atenção dos pais e responsáveis, segundo os especialistas
A volta às aulas das redes pública e privada e do ensino superior podem acontecer no modo presencial a partir da segunda-feira (2) em algumas cidades. Para evitar que a transmissão do coronavírus aumente com o reinício das aulas, a reportagem conversou com especialistas para entender quais os cuidados necessários para um retorno seguro.
Apesar dos avanços da vacinação no país, a imunização em menores de 18 anos de idade ainda não começou.
Segundo Marcelo Otsuka, infectologista e coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), é fundamental que tanto pais quanto as pessoas que trabalham na escola, saibam os cuidados que cada um deve ter.
“É importante a gente entender que não é porque vamos voltar às aulas que as medidas de segurança sanitária serão relaxadas”, afirma Otsuka.
Para o doutor em engenharia biomédica e pesquisador na Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, Vitor Mori, o retorno presencial às aulas já é uma realidade. Logo, a discussão precisa evoluir e não mais questionar se a volta deveria ou não ser autorizada, mas sim como fazê-la com segurança.
“Discutir as formas de retornar às aulas de maneira segura é fundamental. Muitas crianças dependem da escola para alimentação, segurança ou mesmo para continuar com os estudos, já que nem todos têm acesso à internet”, afirma Mori.
1.Quais protocolos de segurança adotados pelas escolas os pais devem ficar atentos antes de decidir autorizar ou não o retorno presencial de seus filhos?
Para Mori, a primeira coisa que as famílias devem prestar atenção antes de decidir em autorizar ou não o retorno de seus filhos é quais são os protocolos adotados pelas escolas e instituições de ensino.
“O primeiro ponto que eu falaria para os pais prestarem atenção é justamente na ventilação: se as salas de aula são ventiladas, se há possibilidade de manter as janelas abertas, se há ventiladores ou se há aulas em espaços abertos”, explica Mori.
Para Mori, que é integrante do grupo Observatório Covid-19 ainda há muito foco em limpeza de superfícies e pouca informação sobre a importância de fazer atividades em ambientes ventilados ou cuidar para que haja ventilação dos espaços.
2. Em quais casos os pais não devem enviar os filhos às escolas?
De acordo com infectologista Marcelo Otsuka, é necessário avaliar o risco que cada criança ou participante do núcleo escolar possa oferecer individualmente.
“Talvez não fosse o ideal que os pais permitissem que crianças com coriza ou mal estar estejam na escola”, afirma o especialista.
Essa recomendação está alinhada aos sintomas da variante delta, que é mais transmissível que as demais variantes do coronavírus. Além disso, alguns dos sintomas que se tornaram característicos da Covid-19 não são tão frequentes na variante delta, principalmente entre a população mais jovem, como crianças, adolescentes e jovens adultos.
“Você não consegue diferenciar a variante delta de uma gripe”, explica David Straim, consultor do sistema de saúde britânico (NHS) e pesquisador da faculdade de medicina da Universidade de Exeter, no Reino Unido.
A confirmação do diagnóstico só é possível por meio de um exame PCR, que tem por objetivo identificar o material genético do vírus no corpo humano.
A preocupação se estende também ao estado de saúde dos pais da criança. Segundo Otsuka, crianças ou pais e responsáveis que estejam em tratamento de câncer ou com imunossupressores podem ser muito expostos ao vírus ao permitir que o estudante retorno ao ambiente escolar. Nesses casos, se possível, procure aconselhamento médico.
A máscara ideal para o retorno ao convívio social é a PFF2, cuja sigla significa “peça facial filtrante”. As máscaras desse tipo são uma peça facial constituída parcial ou totalmente de material filtrante que cobre o nariz, a boca e o queixo.
Inicialmente, não havia modelos PFF2 infantis, mas agora elas já estão disponíveis no mercado.
“Caso não seja possível usar uma PPF2, uma boa opção é usar duas máscaras: uma cirúrgica por baixo, que irá trabalhar a filtração, e uma de pano por cima, que irá providenciar uma boa vedação ao rosto“, sugere Mori.
4. Escalonamento das turmas é uma boa ideia?
Sim. Algumas escolas e instituições de ensino propuseram o escalonamento de turmas no horário de entrada, intervalo e saída. Desse modo, não ocorre uma alta concentração de alunos em um mesmo ambiente em um mesmo horário.
5. Como deve ser organizado o intervalo/ hora do recreio?
A hora do intervalo ou a hora do recreio deve ser em um ambiente bastante ventilado e espaçoso para evitar a aglomeração, como o pátio ou a quadra, pois envolverá o momento em que o estudante retira a máscara para comer.
“Vi que muitas escolas estão propondo que o recreio seja dentro das salas para evitar a aglomeração de crianças, mas isso não é o ideal porque teremos crianças em um espaço fechado ou com pouca ventilação tirando a máscara”, explica Mori.
Escolas com um grande número de alunos podem tentar escalonar a hora do lanche conforme o número de turmas, evitando que todos se encontrem no pátio ao mesmo tempo.
6. Qual o distanciamento seguro contra o vírus?
Segundo Mori, se convencionou o distanciamento de 1,5 m, mas não é uma regra e nem significa que respeitando apenas o distanciamento, sem respeitar os demais protocolos de segurança, não haverá contágio do vírus.
“Não existe um distanciamento que garanta 100% de segurança”, afirma Mori.
De acordo com ele, a questão do distanciamento é importante, mas ele sozinho não é a solução. O ideal é seguir os três pilares no controle de transmissão do vírus: a ventilação dos ambientes ou preferência por ambientes ao ar livre, uso de máscara de boa qualidade e bem ajustada ao rosto e o distanciamento físico
“Se você está em um lugar em que a ventilação não é tão boa, você reforça a máscara e o distanciamento físico, e vice-versa. O ideal é sempre tentar equilibrar esses três pilares dentro do que é factível”, explica Mori.
7. Devo me preocupar com a transmissão do vírus ao tocar em maçanetas, mesas e cadeiras?
Mais ou menos. Embora exista a chance de infecção ao tocar em superfícies contaminadas, o risco é muito menor se comparado a inalar partículas contaminadas.
“Eu, honestamente, não me preocuparia tanto com o contato de superfícies. As pessoas olham muito mais essa questão do que a inalação das partículas pelo ar. Embora seja possível, é uma via pouco prevalente de transmissão do vírus”, esclarece Mori.
8. Quais devem ser os cuidados sanitários, caso o estudante queira ir ao banheiro?
Quanto ao uso dos banheiros, a recomendação continua sendo a mesma de sempre: higienização das mãos após o uso.
Não há necessidade de uma preocupação exagerada com o contato do vaso sanitário, por exemplo. O cuidado deve ser em providenciar em todas as escolas água e sabão para a devida higienização.
9. Devo me preocupar caso o estudante toque em uma superfície contaminada e, em seguida, leve a mão ao rosto?
Mais ou menos. Assim como no item anterior, a proposta deve ser manter as mãos higienizadas, mas não é preciso ficar preocupado em lavar as mãos ou passar álcool gel a cada minuto porque, segundo estudos, o risco de contaminação pelo toque é pequeno.
“O que se sabe dos mecanismos de transmissão do vírus é que mesmo que uma pessoa toque uma área contaminada e depois leve a mão ao olho, nariz ou boca, o risco de infecção é menor do que o comparado com a transmissão pelo ar. Claro, não existe risco zero, mas precisamos saber quais devem ser nossos pontos de atenção”, esclarece Mori.
10. Utilizar álcool gel é importante?
Sim, mas com parcimônia.
“Vejo que as pessoas perdem muito tempo e muita energia tentando passar álcool gel em tudo. O importante é higienizar as mãos com frequência, mas não precisa ser nada neurótico, de cinco em cinco minutos”, afirma Mori.
Fonte: G1