Um trabalho de pesquisa desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia-Energia na Agricultura da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, câmpus de Botucatu, foi apresentado durante a “SAgE Research Associate Network Scientific Conference 2018 Sustainable Development Goals”, realizado nesse mês de junho pela Faculty Science Agriculture and Engineer (SAgE), da Newcastle University, na Inglaterra.
Intitulado “Use of basalt rock dust as mineral fertilizer to sustain sugarcane production”, o trabalho de autoria da doutoranda Miriam Büchler Tarumoto, sob orientação do professor Carlos Alexandre Costa Crusciol, foi classificado como segundo colocado dentre os diversos e complexos estudos desenvolvidos pelos grupos de pesquisa da instituição britânica.
Na área de cana-de-açúcar, principalmente no Brasil, o uso de rochas de basalto como fertilizante mineral, tema abordado no trabalho, não é muito conhecido ou aceito. Mas ainda assim pode ser de extrema importância, principalmente pelo seu potencial de melhorar a atividade microbiana do solo. A permanência nas áreas de cultivo por períodos que vão de 4 a 6 anos em média, sem rotação com outras culturas, pode inibir a diversificação das comunidades microbianas no solo. Essa falta de diversidade não permite que os microrganismos promotores de crescimento que interagem com o sistema radicular das plantas se multipliquem.
“A hipótese do trabalho que estamos realizando aqui no Reino Unido é que a adição do pó de basalto, rico em minerais e, portanto, em elementos químicos, aumenta a diversidade e quantidade das populações microbianas nesses solos”, explica Miriam. “Dessa forma, podem ativar as comunidades microbianas já existentes no solo, porém inativas ou em baixa população, e uma parte desses microrganismos pode ser promotor do crescimento, interagindo com a planta, estimulando seu desenvolvimento, aumentando seu metabolismo que, por sua vez, fornece maior quantidade de compostos para a comunidade microbiana, criando um ciclo e promovendo o melhor desenvolvimento da cultura”.
A possibilidade de investigar o tema ocorreu aos pesquisadores devido ao inesperado aumento de produtividade da cana-de-açúcar, tanto em cana planta (primeiro plantio) como na soqueira (rebrota), já no primeiro ano de cultivo. O efeito do pó de basalto foi considerado muito rápido, quando comparado a outras pesquisas já realizadas. “Porém, ainda não era possível explicar esse desempenho com base na fertilidade do solo ou qualidade nutricional da planta, assim, estava acontecendo alguma coisa além do que podíamos enxergar com as análises comumente realizadas para culturas”, explica Miriam.
Uma parte do estudo foi realizada em parceria com o professor Antonio Azevedo, da Esalq-USP, sobre o intemperismo (decomposição) sofrido pela rocha no solo cultivado a partir de análises de difratometria de raio-X nas diferentes frações do solo. “Obtivemos resultados interessantes após um longo e árduo trabalho investigativo para encontrar os traços do pó de rocha restante no solo após dois anos de cultivo”, relata Miriam. “Uma análise superficial nos mostrou o aumento da atividade microbiana, porém ainda não foi condizente com o aumento encontrado na produtividade”.
Foi na intenção de aprofundar a compreensão sobre os motivos do aumento da produtividade quando a adubação da cana-de-açúcar foi complementada com o pó de rocha basáltica que Miriam, com apoio da Capes, foi realizar parte do seu doutorado no Reino Unido, de onde só voltará no segundo semestre de 2018. Na etapa do trabalho em andamento na Newcastle University, ela tem sido orientada pelo geomicrobiologista Neil Gray e pelo geologista (geoquímica e mineralogia) David Manning.
Miriam considera o reconhecimento atribuído pelo prêmio muito significativo. “Esse tema não é muito conhecido no Brasil, e por isso há certa resistência a esse tipo de manejo nas culturas”. Ela ainda cita uma mudança de conceitos com a qual tem tomado contato na sua experiência no Reino Unido. “Estou aprendendo que dificilmente existe o certo e o errado, mas sim novos pontos de vista sobre um determinado assunto. Não existe preconceito, as pessoas se colocam na posição de cientistas, sem paixões e sem aversões, ou seja, precisamos abrir a mente para avançarmos e pensar “fora da caixinha” de vez em quando”.
O professo Crusciol concorda com sua orientada. “É extremamente significativo recebermos esse prêmio na Inglaterra, um centro de referência onde há estudos avançados sobre esse tema. No Brasil, essa linha de estudo ainda é incipiente, diria que até não muito aceita pelos pesquisadores. Os resultados que estamos obtendo nesses estudos abrem um mundo de possibilidades na área agronômica porque, a princípio, trata-se de um manejo mais sustentável mostrando bons resultados numa cultura muito tecnificada, mecanizada e que utiliza muitos insumos. Para nós, ainda é um tema novo e surpreendente. Mas estamos cercados de cientistas altamente qualificados e reconhecidos mundialmente que estão nos dando respaldo e nos ajudando a entender e explicar esses resultados, o que nos faz acreditar que estamos fazendo pesquisa de ponta e com olhos voltados para o futuro”.
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