O peso da ignorância: um fardo na política?

Educação
O peso da ignorância: um fardo na política? 14 fevereiro 2020

Educação, conhecimento, cultura, diversidade e ambiente têm sido alvo de agressões, principalmente de grupos políticos que ascenderam recentemente no Brasil. Interessantemente essa “nova classe” de políticos se autodenomina de conservadores e de extrema direita, embora me parece claro que não sabem exatamente o que isso significa. Se escondem atrás de falácias de tal forma que deixa a maioria das pessoas que possuem um mínimo de bom senso, estarrecidas. Trata-se de um grupo de pessoas que se norteia pela valorização da ignorância e pelo desprezo do conhecimento, da cultura, do respeito humano, da diversidade de ideias, do ambiente.

É de longa história e de registros amplos que muitos políticos não têm conhecimento de causa, mas podem possuir habilidade de articulação e respeito para com a sociedade, e conseguem trazer algum bem para a população. No entanto, vemos ascender ao poder certa ignorância que, entre tantos devaneios, ataca as conquistas públicas e sociais históricas do nosso povo voltadas para a educação, saúde, cultura, entre outras. Mas isso não é tudo – este comportamento desencadeia e inflama o pior dos ataques, aquele direcionado ao próximo por ele ser diferente, pensar diferente, ou por ser pouco representado na população. A falta de conhecimento básico de diversidade faz com que o ignorante tenha nos seus amigos mais próximos (incluindo seus familiares) e na sua religião, a única forma de ver o mundo?

Assim, o ignorante está alheio a dados e informações de grande relevância sobre cultura, saúde, clima, ciência, educação, atacando gestores e instituições quando situações alarmantes no contexto do país se afloram. Sem ideias para serem postas em prática, mas em posição de destaque, estas pessoas transferem os problemas que surgem para outrem e criticam grandes pensadores e seu conhecimento consolidado, pois a sua falta de conhecimento não lhes permite fazer mais nada.

Por que o ignorante ataca tudo, incluindo bens de extremo valor para um povo como educação e conquistas sociais? Esta pergunta certamente norteia o obscurantismo da ação de muitos dos nossos governantes nos dias atuais. Por que esse ideal obscurantista encontra respaldo na sociedade? Afinal, uma parcela significativa da população votou nestas pessoas! Me parece que esta linha de ação está respaldada em um sentimento inerente ao ser humano em desdenhar coisas que não pertençam ao seu pequeno mundo. Desdém pelos livros, pois não os leem; desdém pelas minorias, pois é inerente da natureza humana colocar-se superior a outros grupos; e por fim desdém pelo conhecimento e cultura, pois admitir a ignorância, dói! Negar o conhecimento é muito mais fácil, pois sua assimilação é difícil e requer trabalho duro, extenso e custoso.

Políticas públicas em educação, saúde e ambiente certamente representam os bens sociais mais significativos historicamente conquistados pelo povo brasileiro. Existem problemas nos sistemas públicos de educação e saúde, entre outros? Sem dúvida que sim, e muitos, e precisam ser atacados! Mas atacar os problemas é muito diferente do que atacar as ações per se e as instituições a elas associadas. Instituições estas, na maior parte das vezes, do próprio Estado. Ou seja, o governo se auto flagela e confunde políticas de Estado consolidadas ao longo de décadas com políticas de partidos, governos, ou a pior delas, políticas em benefício próprio. E é nesta direção preocupante que avançam e ganham espaço ideais retrógrados no nosso país. Não existem avanços e melhorias para um povo sem ganhos sociais e, sem sombra de dúvida, quaisquer ações políticas que coloquem em cheque o respeito humano, representam claro retrocesso. Este país já sobreviveu a outras políticas desastrosas e é certamente muito maior do que a ignorância de muitos dos nossos governantes.

Cesar Martins

Biólogo, Doutor em Genética e Evolução

Diretor do Instituto de Biociências da UNESP, Campus de Botucatu.

 

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site

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