Após atuação da Defensoria Pública, jovem indígena consegue se matricular em Medicina na Unesp Botucatu

Educação
Após atuação da Defensoria Pública, jovem indígena consegue se matricular em Medicina na Unesp Botucatu 12 julho 2020

 

Por meio de atuação extrajudicial, a Defensoria Pública conseguiu garantir a matrícula no curso de medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu a um jovem indígena, de origem boliviana e naturalizado brasileiro, em vaga reservada à política de cotas para pretos, pardos ou indígenas.

Nascido na Bolívia, Abraham veio com a família para o Brasil aos 6 anos. Filho de mãe indígena da comunidade de Chirapaca, Zona Villa Allicia, na Província dos Andes, e pai indígena da comunidade Jancpo Marca, município de Guaqui, o jovem de 20 anos cursou ensino médio na rede pública do Brasil e se reconhece como pertencente à etnia aymara, povo originário de Peru, Bolívia, Argentina e Chile.

No final de janeiro deste ano, ele fez a pré-matrícula na Unesp em Botucatu, após ser aprovado para ocupar vaga dentro da política de cotas. Morador de Vila Velha (ES), ele já tinha se mudado para SP e assistia às primeiras aulas, quando recebeu e-mail comunicando o indeferimento da matrícula. “Foi uma apunhalada no coração”, conta. A justificativa: não teria cumprido requisito do vestibular, que exigia vínculo com comunidade indígena brasileira certificado pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

RECONSIDERAÇÃO

Procurado por Abraham, o Núcleo de Defesa da Diversidade e da Igualdade Racial (Nuddir) da Defensoria encaminhou no dia 2 de junho ofício à Unesp pedindo a reconsideração do indeferimento. A coordenadora do Nuddir, defensora Isadora Brandão, argumentou que o fato de o jovem pertencer a etnia indígena não brasileira não poderia ter impedido a matrícula, pois a Constituição veda discriminação por origem ou nacionalidade, garantindo os mesmos direitos fundamentais a brasileiros natos e naturalizados e a estrangeiros.

Ela também embasou sua solicitação na Lei de Migração (13.445/17), que assegura acesso igualitário e livre de migrantes à educação pública, e na Lei 12.711/12, que instituiu o sistema de cotas, e ressaltou que a Funai já havia emitido documento registrando a autodeclaração de Abraham como de etnia aymara, ponderando que não caberia à autarquia definir quem é ou não indígena, mas somente atestar as informações prestadas.

AUTORIZAÇÃO

Em decisão publicada no dia 25 de junho, a Unesp acolheu o pedido e autorizou a matrícula. O professor Juarez Xavier, presidente da Comissão de Averiguação de autodeclarações de pretos e pardos no vestibular da Unesp, ressaltou que o órgão tem se posicionado favoravelmente ao ingresso como cotistas de pessoas com origem indígena fora do Brasil, considerando que a lei não determina territorialidade da etnia.

A Diretoria da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/Unesp) disse ter ficado satisfeita com a resolução do caso e contou que, por intermédio das professoras Maria Cristina Pereira Lima (Kika – diretora) e Jacqueline T. Caramori (vice-diretora), escreveu ao jovem dando as boas-vindas pelo ingresso no curso de medicina da instituição.

Para o jovem, poder cursar medicina é mais que um passo para construir uma carreira. “É uma mudança de contexto, porque todas as minhas gerações antepassadas, da Bolívia, são de pessoas que trabalharam no campo, em plantações, e viveram apenas da agricultura familiar e em condições de pobreza”, diz. “E, numa sociedade boliviana, bastante racista, era senso comum que indígenas só tinham que trabalhar no campo, não em outros espaços. É uma honra saber que consegui mudar essa história, e gerar um exemplo para meus primos, aqui e na Bolívia”.

Por Jcnet

 

 

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